Nonato Menezes - A carruagem da ignorância corre feita louca. E ninguém ouse em pará-la, porque os homens do poder falam em nome da moral, da disciplina, da economia e dos interesses da sociedade, ora, pois!
O governo do Distrito Federal está rangendo os dentes e olha para o sistema de ensino Público com raiva e desejo de acorrentá-lo. Agora vai, sugerem as palavras do alienígena secretário de Educação.
Primeiro, escolheu escolas com diretores subservientes, muitos professores omissos e nosso sindicato na inércia, para “botar ordem na casa”. Nelas adotou o regime de quartel para disciplinar os “estudantes rebeldes” da periferia. Só da periferia.
Com a pedagogia do coturno, da ordem unida e dos gritos, provavelmente teremos, em breve, o melhor ensino do mundo. E não demorará em chegarmos ao topo das “prestigiosas e respeitadas” avaliações da OCDE. Aí, é só divulgar como se faz.
Por último, na palavra do secretário alienígena, veio a ideia de ‘tolerância zero’ nas escolas. Em seu discurso de clichês e tapas no bom senso, nada se salva. E se implantada, logo os que forem flagrados em desobediências serão punidos com “prestação de serviço” e outras “ações corretivas”.
Criança ou adolescente prestar serviço em nome da disciplina nas escolas, pelo menos no Brasil, é uma novidade. Como técnica didática e ou metodologia de ensino e aprendizagem, obrigar estudante a "prestar serviço" com pretexto de discipliná-lo nunca li nada a respeito e, sequer ouvi alguém falar ter encontrado algo semelhante em obras dos nossos reconhecidos educadores.
Se a Literatura registra tal procedimento, possivelmente tenha ocorrido nos países da Europa, por volta dos Séculos XIII, XIV ou XV, parte do período, também, conhecida como Idade Média.
Entre nós, se há algo que serviu de referência ao secretário alienígena, possivelmente tenha sido de algum manual de estribaria, daqueles que ajudam a adestrar cavalos a pularem obstáculos e obedecerem fielmente seus cavaleiros, sob reios e estribos.
Como não há cavalos nas escolas é possível que as instruções do manual sejam inúteis, mas não desprezadas de todo, pois, em nome da disciplina e da ignorância, ajudarão na busca de alternativas, cuja mais próxima será o uso do Pelourinho, mesmo sabendo dos custos elevados se entenderem que cada escola precisará de um.
Por fim, em nome da economia, sugiro que seja apenas um Pelourinho, fincado à frente do palácio do governo, com vistas a ser incorporado ao patrimônio arquitetônico de Brasília, como símbolo máximo do retorno à escravidão e da disciplina adotada pelo prosaico governo do Distrito Federal.
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