The Intercept Brasi
Na semana passada, nós falamos da Raissa. Nessa, eu quero falar da FIAT. São duas news seguidas sobre impacto do trabalho do TIB, e acho que devo compartilhar essas coisas com vocês quase como um dever por todo apoio que estamos recebendo.
O Ministério Público Federal em Minas Gerais abriu um inquérito civil para apurar a eventual responsabilidade da Fiat Automóveis do Brasil na violação de direitos humanos durante a ditadura militar brasileira. A empresa, como vocês devem ter lido na nossa reportagem publicada em fevereiro, colaborou com os órgãos de repressão do Estado.
Eu e os repórteres Janaína Cesar, Pedro Grossi e Alessia Cerantola levamos mais de ano para descobrir documentos e pessoas ainda vivas que nos contaram a história sonegada pela empresa no Brasil. Papéis inéditos levantados junto ao Arquivo Público Mineiro e no arquivo da empresa em Turim indicam conversas entre o aparato repressor do Estado e uma gigantesca estrutura interna e secreta de espionagem, comandada por um coronel da reserva do Exército dentro da montadora. Ao ajudar os militares, a Fiat recebia informações sobre o movimento sindical para reprimi-lo e evitar a queda de produtividade.
A Janaína e o Pedro ligaram esta semana para o procurador da República Tarcísio Henriques Filho, responsável pela investigação em Minas. Ele disse que "iniciativas que resgatam a memória do país são fundamentais, porque um povo que não tem memória está fadado a repetir seus erros". No inquérito civil, ele escreve que a Fiat operou uma “aliança empresarial-policial, estabelecida durante o período, e que transformou-se em aliança empresarial-policial-militar, definindo um novo regime fabril” para a empresa. Um jogo de ganha-ganha entre a Fiat e os porões do terror.
Tarcísio Henriques falou sobre o procedimento da Corte Interamericana dos Direitos Humanos para que o “Brasil continue a buscar, sistematizar e publicar toda informação relativa a violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar”. Com nossa reportagem em mãos, ele se viu no dever de agir.
Durante a conversa, Henriques explicou que as diligências serão conduzidas pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em Minas Gerais pelos próximos quatro meses.
A FIAT não é a única multinacional investigada por colaborar com a ditadura militar brasileira. A Volkswagen do Brasil, em 2017, admitiu que apoiou o regime. A montadora alemã foi denunciada pelo MPF por violações de direitos humanos.
Falamos também com o Pedro Dallari, advogado e um dos coordenadores da Comissão Nacional da Verdade. Queríamos dar a notícia em primeira mão. “Vejo com muita satisfação a iniciativa do Ministério Público Federal em abrir esse inquérito baseado na reportagem do Intercept”, ele nos disse. “Eu sempre falei que o relatório da CNV não era um começo e nem um fim, tínhamos clareza que nosso trabalho ajudaria futuras investigações.”
Nós compartilhamos com o MP todos os documentos que encontramos durante nosso trabalho. Esperamos que sejam usados para dar justiça aos funcionários que ainda estão vivos e a honrar a memória dos que já se foram.
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