sábado, 4 de maio de 2019

Os cardeais da política econômica brasileira, por André Motta Araújo

A economia brasileira não vai recuperar sua pujança sob a liderança de Ministros de um só trilho, que só sabem fazer uma coisa, geralmente ruim.



Foto Jorge William/O Globo

Os cardeais da política econômica brasileira

por André Motta Araújo

Aos que tem a memória longa da forma como foi conduzida a política econômica brasileira nas últimas décadas choca a percepção do grau de mediocridade dos últimos comandantes dessa política, no sentido de que a política econômica é POLÍTICA DE ESTADO e não mera administração de negócios.

Não há comparação possível da estatura de um Oswaldo Aranha, Ministro da Fazenda em duas épocas completamente distintas, os anos 30 em plena Grande Depressão e nos anos 50, início da Guerra Fria. De um Roberto Campos, intelectual sofisticado que na linha de Keynes tinha interesse em múltiplos assuntos, apenas um dos quais era economia, sua visão de mundo era tão ampla que não teve tempo de cuidar de suas finanças. De um Delfim Neto, que fez uma longa e sólida carreira calçado apenas na sua imensa capacidade de trabalho e visão macro de País. De um Mario Henrique Simonsen, que além de um extraordinário economista tinha duas outras grandes qualidades, era excelente cantor de ópera e gostava de whisky, duas qualidades para serem aplaudidas, ai do homem sem vícios, sem graça e sem charme, o “homem sem mácula”.

Perto desses CARDEAIS DA ECONOMIA outros que se seguiram foram apenas sacristãos e coroinhas, pequenas carreiras, pequenos intelectos, sem a maior das características dos verdadeiros sábios, a dúvida sobre tudo. Quanto mais medíocres mais certezas absolutas e imutáveis os pequenos homens que receberam a incumbência de comandar a política econômica tem, acham que eles e só eles, sabem tudo… mas não sabem nada.

A QUESTÃO DO ESTADO

Os nomes que citei tinham uma característica comum, tinham VISÃO DE ESTADO, de povo, de pais, de sociedade, nunca foram pigmeus de mercado.

Tampouco eram arrogantes ou desfilavam empáfia, eram acessíveis sempre.

Campos era um conversador adorável, desfilava conhecimento de forma simples e jamais posando de oráculo. Delfim é um mestre da ironia refinada, tem a sabedoria dos que não se levam a sério, graças a ele fiz duas viagens em missão oficial, uma a Alheria e Tunísia, outra ao Iraque e Arábia Saudita, ambas chefiadas pelo Ministro Ernane Galveas, afável e modesto. Simonsen realizava almoços mensais em São Paulo com empresários do setor produtivo onde ouvia de cada um, eram em torno de 20, a situação da indústria no mês, Simonsen era modestíssimo, zero de arrogância. Não conheci Oswaldo Aranha, me louvo em sua excelente biografia como Ministro da Fazenda escrita por Mario Henrique Simonsen, que cuidou apenas de seu papel na Fazenda, Oswaldo Aranha teve muitos outros grandes papeis no palco da vida, até maiores do que como Ministro da Fazenda, foi excepcional em todos, da Conferência de Havana, em 1942, à criação da ONU, em 1945.

A REDUÇÃO DO PAPEL DO COMANDANTE DA ECONOMIA

A partir do Plano Real, de 1994, o papel do Ministro da Fazenda foi apequenado, reduzido a alguém que entenda “os mercados” e seja por ele aceito.

Uma notável redução do papel de HOMEM DE ESTADO para apenas pessoa de contato do Governo com “os mercados”, um public relations.

O papel do cargo foi reduzido porque a importância do Estado foi notavelmente reduzida a partir do Plano Real, quando tudo passou a girar em torno da moeda e não da economia. O papel do Ministro passou a ser de mero homem de recados do Governo junto “aos mercados”, o Estado brasileiro perdeu o domínio da economia e das políticas públicas porque passou voluntariamente a depender “dos mercados” e não de sua indústria, comércio, agricultura e recursos naturais, o emprego e o bem estar da população ficaram em segundo e terceiro planos. A única coisa importante passou a ser a taxa SELIC, o índice BOVESPA e a cotação do dólar. A taxa de desemprego, de importância capital nos países ricos, no Brasil passou a ser um detalhe, como a tabela dos jogos de futebol. O Brasil aceitou uma diminuição voluntária de importância como Pais, através desse mecanismo de apequenamento.

O Brasil de 1945, de 1958 no Governo JK, de 1975 no Governo Geisel, era um País MUITO MAIS IMPORTANTE na geopolítica mundial, do que é hoje.

Em 2016, fim do primeiro mandato do Governo Lula, o Brasil manteve grande presença geopolítica, com extraordinário apoio internacional. Mas o erro crucial de bajular “os mercados” se manteve nos Governos do PT e agora vai ao fundo do abismo, “os mercados” nunca deram camisa a pobre, como bem sabe a China, que jamais se deixou dominar pelos mercados, sua economia é produto de planos quinquenais sob rígido controle do Estado.

A economia brasileira não vai recuperar sua pujança sob a liderança de Ministros de um só trilho, que só sabem fazer uma coisa, geralmente ruim.

AA

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