‘História está sendo reescrita agora (...) Não acho que há alguma forma de uma pessoa razoável olhar para essa transcrição e sair pensando que este era um juiz imparcial’, avalia editor-chefe da Americas Quarterly
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Ex-juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça, Sergio Moro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Jornal GGN – “Na minha opinião, é importante argumentar que a Lava Jato atuou exclusivamente para atacar o PT e Lula”. A avaliação é de Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly durante entrevista ao podcast First Person, da revista Foreign Policy.
Winter foi um grande admirador da Lava Jato e da atuação de Moro. Sua revista chegou a editar uma matéria que rendeu uma capa caracterizando o ex-juiz da Lava Jato como um dos personagens do filme “Os Caça-Fantasmas”, chamando-o de “caça-corruptos”. Trechos da sua mais recente entrevista para o First Person foram traduzidas por Daniel Buarque, do Blog do Brasilianismo, no UOL.
O reposicionamento de Winter em relação à Lava Jato mostra o impacto internacional do vazamentos de conversas entre o então juiz e procuradores da Lava Jato.
“A história está sendo reescrita agora. Muitos que tinham expressado admiração pela Lava Jato agora estão vendo coisas em muitos mais tons de cinza”, disse Winter.
“Eu ao longo dos anos defendi a Lava Jato e a luta contra a corrupção de forma geral. Todos sabemos o que a corrupção faz com os países. Ela erode a confiança nas instituições e na democracia e tira dinheiro que deveria ser usado para educação e saúde. (…) Mas nada do que estou dizendo justifica essas condutas e práticas reveladas agora”, completou.
Sobre especificamente o trecho da conversa em que Moro chama o discurso de defesa de Lula de “showzinho”, Winter avalia: “Não acho que há alguma forma de uma pessoa razoável olhar para essa transcrição e sair pensando que este era um juiz imparcial”.
Ao fazer um resumo da história da Lava Jato, Winter ressaltou que “sempre houve suspeitas” de que Lula foi mais prejudicado por Moro do que outros políticos investigados por corrupção.
“Mas a questão sobre o fato de eles terem sido mais agressivos ou infringido regras de procedimento judicial e ética para condenar Lula, que eles acreditavam que era o líder de todo o esquema, é uma dúvida que existe há anos. E esta nova evidência revelada pelo Intercept, supere fortemente uma conduta equivocada”, completa.
Apesar dessa nova avaliação, decorrente das revelações de mensagens expostas pelo The Intercept Brasil, Winter não acreditava que Moro e os procuradores tivessem como objetivo a condenação de Lula ou do PT “por odiar a esquerda ou por odiar Lula especificamente”.
“O que acho que vemos com essas revelações é que, por razões de lógica da acusação, eles infringiram as regras e fizeram coisas que não deveriam ter sido feitas porque eles estavam atrás de uma pessoa que eles acreditavam que era a peça central de uma organização criminosa”.
Essa característica da força-tarefa da Lava Jato e do próprio ex-juiz Moro recebe apoio de setores da sociedade brasileira, como mostra a maneira como parte da opinião pública tem se manifestado em relação às mensagens vazadas.
“Há pessoas no Brasil que não se interessam pelos vazamentos. O que importa para muitos brasileiros é que Lula e vários outros políticos que são acusados de corrupção estão presos. Mais do que isso, as pessoas acham que, se Moro infringiu a lei, isso é ok porque os fins justificam os meios”, disse, negando em seguida que ele concorda com essa interpretação.
O editor pontua ainda que os vazamentos reforçam a acusação contra Moro de que ele recebeu um ministério no governo Bolsonaro como “recompensa” pela prisão de Lula. E conclui sua análise a respeito do escândalo da Lava Jato no Brasil com a preocupação de que os vazamentos desmobilizem a luta contra a corrupção como um todo no país. “Se tudo for colocado debaixo do tapete, isso é um problema”. Para ler a o artigo no Blog do Brasilianismo na íntegra, clique aqui.
Editor-chefe da revista Americas Quarterly, que já publicou Moro na capa, diz que ‘história da Lava Jato está sendo reescrita’
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