Nas metrópoles brasileiras, multidões vivem em favelas. Esquecidos pelos serviços públicos, são os principais afetados pelo neoliberalismo. É aí que podem surgir movimentos surpreendentes como foi, nos anos 1970, o Custo de Vida
Segundo o Censo 2010 do IBGE, o Brasil tinha cerca de 11,4 milhões de pessoas morando em favelas e cerca de 12,2% delas (ou 1,4 milhão) estavam no Rio de Janeiro. Considerando-se apenas a população desta cidade, cerca de 22,2% dos cariocas, ou praticamente um em cada cinco, eram moradores de favelas. No entanto, ainda em 2010, Belém era a capital brasileira com a maior proporção de pessoas residindo em ocupações desordenadas: 54,5%, ou mais da metade da população. Salvador (33,1%), São Luís (23,0%) Recife (22,9%) e o Rio (22,2%) vinham a seguir. No entanto, o IBGE só realiza estudos sobre o aumento demográfico desses conglomerados a cada 10 anos, levando a crer que seguramente desde o ano de 2010 esse número aumentou significativamente.
Essa população acostumou-se a viver na adversidade com a precariedade dos serviços públicos, falta de saneamento, segurança pública praticamente inexistente, serviços de água e luz em sua maioria irregulares e itens como gás de cozinha, televisão e internet controlados por milícias paramilitares. Todavia, esse não é um estudo que deve ser levado em conta como universalizante acerca de quem é considerado pobre no país, essa é parcela que reside em áreas onde a presença do estado é inócua, tímida, praticamente inexistente. Situar e entender o crescimento das periferias ao mesmo passo que a ineficiência do estado brasileiro em dar respostas a essa crise demográfica é importante nesse momento político por que passamos. Nas favelas e comunidades periféricas emergiram novos atores, com novos paradigmas de fé, esperança, modelo de sociedade, novos valores morais e éticos.
Entretanto há uma adversidade que aprofunda-se e não há população capaz de acostumar-se, a falta de comida no prato. As medidas econômicas tomadas pelos governos Temer e Bolsonaro, PEC do teto de gastos, as mudanças na legislação trabalhista, a reforma previdenciária, são medidas que drenam dinheiro para o bolso dos ricos e corroem o poder aquisitivo da classe trabalhadora. Medidas que aprofundam a crise, com desemprego galopante e desindustrialização crescente. O Brasil caminha para um fosso que o ressurgimento de um movimento forte aos moldes do que foi o Movimento Custo de Vida, também conhecido como Movimento Contra a Carestia é praticamente inevitável.
A fome contraditoriamente trará a hora da verdade aos novos atores sociais que hoje predominam nas periferias brasileiras, alinhados politicamente ao governo central. Não há retórica capaz de colocar comida na mesa, para fazer frente a esse problema é necessário o passo do movimento real, outrora desempenhado pelas Comunidades Eclesiais de Base com o protagonismo das mulheres periféricas.
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