quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Itaipu: Paraguai divulga conversas que colocam Itamaraty em xeque

Pasta de Ernesto Araújo disse que não teria cabimento qualquer acordo que não fosse entre Ande e Eletrobras, mas chats mostram que a estatal paraguaia não foi "levada em conta" no acordo de Itaipu



Jornal GGN – O jornal Última Hora divulgou nesta quinta (15) mensagens de WhatsApp que evidenciam que a Ande, a estatal paraguaia que negocia energia de Itaipu, “não foi levada em conta” nas conversas entre Brasil e Paraguai, que culminaram numa crise que pode derrubar o governo Benítez.

As mensagens contrariam a manifestação lançada em conjunto pelos Ministérios de Minas e Energia e Relações Exteriores brasileiros, além da Eletrobras, exaltando o papel da Ande em acordos envolvendo Itaipu.

O escândalo veio à tona quando o Congresso paraguaio levantou o sigilo do acordo de Itaipu, há cerca de 3 semanas, e descobriu que a Ande seria prejudicada no acordo, enquanto uma empresa brasileira supostamente ligada aos Bolsonaro, a Leros, seria beneficiada.

O principal ponto crítico no acordo, que acabou anulado após a repercussão internacional, foi a exclusão do artigo 6, proibindo a Ande de comercializar diretamente no mercado brasileiro a energia excedente de Itaipu.

Pela jogada em investigação, a Leros compraria a energia da Ande e faria a redistribuição no Brasil. Na quarta (14), o GGN divulgou os termos da proposta apresentada pela brasileira diretamente à estatal paraguaia. Confira aqui.

A concordância das autoridades paraguaias com a exclusão do ponto 6 foi considerada traição e lesa pátria por parte da imprensa e opositores do governo Benítez, e os envolvidos no acordo de Itaipu, do lado paraguaio, agora são investigados por uma comissão bicameral instaurada no Congresso.

Enquanto isso, aqui no Brasil, o Palácio do Planalto evita comentar o assunto, a Leros nega irregularidades; o empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL) que viajou ao Paraguai para fazer lobby para a Leros, admite que tinha interesse pessoal no acordo, mas nega o uso da família presidencial para atingir seus objetivos.
Embora negue a relação estreita com a cúpula do governo Bolsonaro e com o PSL, Giordano cedeu uma sala comercial em São Paulo para funcionamento do diretório estadual do partido, hoje presidido por Eduardo Bolsonaro, o embaixador virtual do Brasil em Washington. A informação foi divulgada em edição da revista Piauí.

O Ministério de Minas e Energia, a Eletrobras e o Itamaraty lançaram uma nota rejeitando a possibilidade de a Leros ser beneficiada no acordo de Itaipu. “(…) qualquer fundamento a especulação sobre a possibilidade de comercialização da energia da usina binacional por parte de alguma empresa que não seja a Eletrobras e a Ande.”

Mas a versão não condiz com as mensagens de WhatsApp e os documentos divulgados pela imprensa paraguaia até aqui.

Pelo que foi apurado, a Eletrobras seria atropelada no acordo de Itaipu, se necessário, pois a promessa era de que o próprio Jair Bolsonaro autorizaria a operação da Leros, mesmo existindo outras empresas brasileiras de energia mais habilitadas para o negócio.

Além disso, as conversas divulgadas pelo Última Hora mostram que a direção da Ande ficou de fora da construção textual do acordo e, quando tomou conhecimento dos termos prejudiciais ao Paraguai, fez um aviso aos envolvidos na negociação, mas foi ignorada.

Segundo o jornal, o Itamaraty já sob Bolsonaro preferiu, ainda, fazer promessas que não foram estabelecidas em contrato, como a de pagar USD 200 milhões em compensação à Ande no acordo de Itaipu.

O governo Benítez informou ao Congresso que o acordo havia sido assinado em ato bilateral entre o Itamaraty e o Ministério de Relações Exteriores do Paraguai em 16 de abril de 2019. “A subscrição do controverso instrumento foi feita em 24 de maio e um dia antes da comitiva diplomática local pedir a opinião da Ande.”

Pedro Ferreira, ex-presidente da Ande, foi quem alertou para os pontos controversos, mas acabou ignorado tanto pelo ministro de Relações Exteriores Luis Castiglioni quanto por Bernardino Hugo Saguier Caballero, o então embaixador do Paraguai no Brasil.
Confira as conversas de WhatsApp aqui.

Ferreira abandonou o cargo quando o escândalo veio à tona, alegando que foi obrigado a assinar o acordo de Itaipu mesmo não concordando com o objeto.

Ele será ouvido no Congresso sobre o acordo de Itaipu. No dia 14, a comissão bilateral divulgou a lista de convocados, incluindo o hoje diretor técnico de Itaipu pelo Paraguai, Luis Valdez, e o gerente técnico da Ande, Ubaldo Fernandez. O ex-chanceler Luis Castiglioni também será ouvido.

O presidente Mario Abdo Benítez e o vice, Hugo Velazquez, não podem ser investigados pela comissão.

Velazquez teria sido um dos pivôs do escândalo, pois seu “assessor jurídico”, um jovem advogado chamado José Rodríguez, teria usado seu nome para pressionar pelo acordo que favorecia a Leros dentro do governo paraguaio.

Rodríguez teria interlocução com o empresário Alexandre Giordano, o suplente de Major Olímpio – que, assim como Bolsonaro, não comenta o assunto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

12