sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

11 Tópicos: como a nova religião hegemônica mudou o Brasil, por Walter Falceta

A nova religião de Pindorama faz muito bem aos Estados Unidos, e muito mal ao Brasil. Nela, Jesus é um elemento cada vez mais secundário.

          Por Jornal GGN
          https://jornalggn.com.br/

11 Tópicos: como a nova religião hegemônica mudou o Brasil

por Walter Falceta

1) A mensagem humanista que vinha subversivamente na contracapa do catecismo católico está se esvanecendo. O mote de fé predominante no Brasil já é o evangélico, especialmente o de viés pentecostal.

2) Esse humanismo solidário, natural do ministério do carpinteiro, recuperado timidamente por João XXIII e o Concílio Vaticano II, foi aniquilado pelo Papa João Paulo II e seu sucessor, Cardeal Ratzinger, empenhados numa paranoica luta contra o “comunismo”.

3) No caso do Brasil, essa interferência desastrosa da Santa Sé desmontou e desabilitou as dioceses mais progressistas, enfraquecendo o papel apostólico dos bispos à esquerda. As Comunidades Eclesiais de Base, aglutinadoras do pensamento humanista, foram paulatinamente destruídas pela nova ordem. Restaram dessas experiências, grupos de resistência mistos e laicizados, como o MST, nascido no berço da Pastoral da Terra.

4) Sem viva interlocução com o divino, parcelas enormes da população, especialmente nos rincões rurais e periferias, lograram encontrar diálogos na indústria da fé evangélica. A Teologia da Prosperidade ganhou milhões de adeptos. A igreja se tornou também o lugar onde o jogador de futebol pede um gol, onde a moça do telemarketing “negocia” com Deus a compra de um Onix usado.

5) Os evangélicos sabem muito bem como fazer da fé um negócio de mercado. Nessa questão, replicam o pensamento calvinista como mola propulsora do capitalismo. Nem precisaram ler “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber, pois são resultado direto de spin-offs do protestantismo puritano para exportação.

6) Essa matriz calvinista faz do lucro um dever. O ganho pessoal valida a escolha divina. Dão-se bem os predestinados. É a base de um modo de vida individualista, egoísta e competitivo. Há quem diga que Calvino era um asceta e deturparam suas ideias. Ainda assim, sua visão da relação entre homem, trabalho e patrimônio serviram de base para solidificar a mentalidade e a práxis política burguesa.

7) No caso do pentecostalismo, soma-se a essa filosofia a ideia de que o Espírito Santo intervém diretamente nas questões humanas. A conquista da posse material advém, portanto, de uma relação devocional mística com a divindade. É uma troca mágica de natureza individual, que não depende da pratica da caridade, fundamento da interação confessional católica.

8) A fé evangélica pentecostal também contaminou o catolicismo. De um lado, as relações de troca, “penitência x graça”, de um Padre Marcelo. De outro, a estetização glamourosa da revelação divina por meio dos padres galãs cantores, como Alessandro de Campos.

9) No caso dos evangélicos pentecostais, aposta-se dia e noite na relação de “corpo”, no in-group, no antigo “nós contra eles”. Milícias como os “Gladiadores do Altar” são referências dessa versão miliciana da fé. São jovens uniformizados, fanaticamente robotizados, emulando a tropa convencional de um exército. Como precisam de um inimigo, ao qual atribuem os mais bárbaros defeitos, elegem de preferência as crenças afro-brasileiras e indígenas.

10) Nas pesquisas, o credo evangélico pode não aparecer formalmente como o mais praticado no Brasil. Ainda não. Mas efetivamente é o que reúne o maior número de fiéis praticantes. E são os postulados dessa fé que hoje balizam a ética informal e algo como um reformado direito consuetudinário. Essas ideias estão nos tribunais, nos times de futebol, nos ministérios e, sim, nas conversas do tios da padaria. Os pastores mandam. Qualquer bobagem dita por um pregador Claudio Duarte vira referência de conduta. Todas as fake news de púlpito ganham imediato status de verdade inquestionável.

11) A nova religião de Pindorama faz muito bem aos Estados Unidos, e muito mal ao Brasil. Nela, Jesus é um elemento cada vez mais secundário. Afinal, não interessa fazer propaganda de um carpinteiro cabeludo, que andava com pescadores renegados, que fazia “SUS” no deserto, que defendia “adúlteras”, que ceava com prostitutas, que contestava a elite hipócrita dos fariseus, que valorizava as mulheres e, sobretudo, que “dava pau” nos especuladores do templo. A religião pilar no fascismo nacional não se demoraria a investir contra o Cristo que deliberasse retornar à Terra. Solidário, generoso e dado a partilhas, seria novamente pregado na cruz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário