terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Quem promoveu a concentração bancária no Brasil, por Andre Motta Araujo

A concentração bancária é parte desse processo de congelamento do sistema econômico em uma estabilidade de cemitério, onde CRESCIMENTO É PERIGOSO.

           Por Andre Motta Araujo
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Quem promoveu a concentração bancária no Brasil

por Andre Motta Araujo

Em 1994 o Governo FHC entregou o comando da política econômica a um grupo de “economistas de mercado” chamado o “Grupo do Real” que, desde então, passados 25 anos, controla sem interrupção o coração da economia, o Banco Central. Um dos objetivos desse grupo sempre foi a CONCENTRAÇÃO BANCÁRIA, em nome do afastamento do risco sistêmico, considerando que bancos fortes seria melhor para o Brasil, sem pensar no lado negativo, tornar o sistema bancário um conjunto de cada vez menos bancos. Hoje economistas neoliberais “fingem” que o fenômeno foi espontâneo e atribuem a esse fator a impossibilidade de reduzir os juros na ponta do tomador de crédito. A formação desse cartel deve ser colocada INTEGRALMENTE na conta da política neoliberal que, desde então, comanda o Banco Central porque não era essa a arquitetura do sistema bancário brasileiro até então.

Manter esse grupo no controle do BANCO CENTRAL foi o maior erro dos governos do PT e responsável pela recessão e seus efeitos políticos no impeachment da Presidente Dilma, a torre de comando da economia no Banco Central provocou a recessão e a mantém pela obtusa política monetária que opera exclusivamente com o objetivo de manter a inflação na meta, sem qualquer objetivo de crescimento e emprego.

A concentração bancária é parte desse processo de congelamento do sistema econômico em uma estabilidade de cemitério, onde CRESCIMENTO É PERIGOSO.

OS BANCOS ESTADUAIS E O PROER

O eixo do processo de concentração bancária que se inicia no Governo FHC foi o Programa PROER, de novembro de 1995, que a PRETEXTO de higienizar o sistema bancário, LIQUIDOU com os bancos estaduais, alguns tradicionais e de grande porte, usando como pretexto irregularidades formais que em grandes países JAMAIS JUSTIFICARIAM O FECHAMENTO DE BANCOS.

Na Europa e EUA grandes bancos tem ciclos de problemas de liquidez e créditos ruins, o que só em circunstâncias excepcionais justificam a destruição do ativo representado por uma grande rede de agências, sistemas operacionais em funcionamento, nome, capacidade de emprestar que um banco tradicional constrói atravessando décadas ou até séculos.

O PROER custou ao País cerca de 2,5% do PIB, a preços de 2019 seriam R$175 bilhões, MAS porque gastar e liquidar os bancos? Podiam ser gastos os mesmos valores e manter os bancos abertos e operando, alguns sob intervenção ou gerência do Banco do Brasil, trocando o grupo de controle, como se fez nos EUA em várias de suas recorrentes crises bancárias.

O caso do BANESPA é emblemático, pela sua dimensão e importância jamais deveria ter sido vendido a grupo estrangeiro, hoje um dos três do cartel de bancos, da mesma forma o BAMERINDUS, banco de interior com grande capilaridade de agências em pequenas cidades, empurrado para o HSBC que depois o revendeu ao BRADESCO, aumentando ainda mais a concentração. Ninguém ganhou com esse processo, nem os clientes, nem o País, nem a produção, só o cartel de bancos que tem os MAIORES LUCROS BANCÁRIOS DO MUNDO, sobre ativos, sobre patrimônio líquido, sobre carteira de crédito MESMO EM PLENA RECESSÃO, o Santander, um dos cinco maiores bancos do mundo e maior banco da Europa, se incluído seu controlado Royal Bank of Scotland, tem no Brasil 27% de seus lucros mundiais, embora tenha no Brasil apenas 8% de seus ativos, o que mostra uma completa disfuncionalidade do sistema bancário brasileiro, grande gerador de lucros só para si, sem servir ao País, sem estimular a produção, um sistema tão ruim que gerou 63 milhões de inadimplentes, a maior taxa do mundo em relação a população.

UMA POLÍTICA COM PREMISSAS ERRADAS

A política de concentração viu apenas um aspecto, a diminuição do risco sistêmico e não viu outro lado, fundamental, A CONCENTRAÇÃO DIMINUI A CONCORRÊNCIA E PERMITE A CARTELIZAÇÃO, um efeito que trabalha CONTRA O CLIENTE. Hoje, o processo resultou no MAIOR SPREAD BANCÁRIO DO MUNDO. O custo de empréstimos no Brasil não tem paralelo e trava a economia, o SPREAD MÉDIO NA EUROPA é de 1,5% sobre a taxa básica, aqui é no mínimo de 20% e pode chegar a 300% no caso de cheque especial e cartão de crédito.

A concentração não afeta apenas os custos do crédito, afeta a própria oferta de crédito. Com poucos bancos diminui a CONCORRÊNCIA na oferta de crédito, as empresas não recebem mais a visita de gerentes oferecendo linhas, como era comum antes de 1994, hoje as empresas precisam se ajoelhar nas antessalas dos bancos, os bancos não precisam mais de gerentes ativos, o cliente vem até o banco como pedinte, a concorrência é um faz de conta.

UM DESASTRE NEOLIBERAL

A concentração bancária no Brasil partiu de um projeto neoliberal com cores antinacionais. O Ministro da Fazenda da época achava que bancos estrangeiros no Brasil seriam ótimos para aumentar a concorrência, se enganou redondamente. Os bancos que vieram, Santander e HSBC, praticam exatamente as mesmas taxas de juros que seus concorrentes nacionais, não ajudaram em nada a oferta de crédito barato no País, a ideia foi pura IDELOGIA basbaque, tola, antinacional, mais um engano neoliberal, o sistema bancário brasileiro é uma DAS CAUSAS DA ESTAGNAÇÃO DO CRESCIMENTO.

O redesenho do sistema bancário brasileiro, que antes de 1994 tinha 600 bancos, com nomes históricos como Província do Rio Grande do Sul, Comércio e Indústria de Minas Gerais, Indústria e Comércio de Santa Catarina, Banco de São Paulo, Banco da Bahia, grandes bancos estaduais como Estado de Minas Gerais, Estado do Rio de Janeiro, antigo BEG, por sua vez sucessor do Banco da Prefeitura do Distrito Federal S.A., Banco do Estado do Paraná S.A.

No caso dos bancos estaduais o processo de liquidação foi IDEOLÓGICO, os neoliberais têm horror a bancos públicos, que existem em larga escala na Europa, especialmente na Alemanha. Nos EUA ao lado do sistema comercial privado há bancos enormes sob a forma pública de CREDIT UNIONS, alguns com ativos de mais de 60 bilhões de dólares, como os da Marinha dos EUA, que fazem todas as operações de crédito.

O Brasil, pelo seu tamanho, comporta bancos privados e públicos. A economia precisa dos dois modelos. Foi um absurdo promover a concentração bancária por ação de Governo e hoje pagamos um alto preço por essa política ERRADA, produzida por ‘economistas de mercado”, mais um dos mega erros da ideologia neoliberal para um pais em desenvolvimento, hoje o Brasil tem o SISTEMA BANCÁRIO MAIS CONCENTRADO DO MUNDO e toda a produção travada por falta de crédito.

AMA

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