terça-feira, 24 de março de 2020

A Gripe Espanhola de 1918, por Andre Motta Araujo

Não existem estatísticas oficiais de mortes pela gripe, as estimativas vão de 17 milhões até 100 milhões, sendo na época a população mundial 2 bilhões de habitantes, os números mais aceitos são de 50 milhões de mortos

          Por Andre Motta Araujo
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A Gripe Espanhola de 1918

por Andre Motta Araujo

A chamada “gripe espanhola” de 1918 sempre esteve na minha memória porque minha avó paterna, nascida em 1899, foi testemunha da morte de pessoas próximas e sempre relatou essa vivência. Numa família conhecida morreram pai, mãe e filhos. A gripe, propagada por vírus da família H1N1 foi um fecho da Grande Guerra de 1914-1918, que a antecedeu e criou as condições de propagação da pandemia.
Segundo historiadores da pandemia, o epicentro foi o acampamento hospitalar de tropas britânicas na França em Etaples, onde se registraram os primeiros casos, as camas eram muito próximas e o vírus lá encontrou plenas condições de espalhamento e extrapolação entre soldados já debilitados pelo conflito, doentes por outras causas.

A denominação de “gripe espanhola” vem do fato de que os grandes países em conflito, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, tinham censura de imprensa e a epidemia não foi noticiada para não atingir a moral das tropas e da população, mas a Espanha era neutra e a imprensa espanhola divulgou com destaque a epidemia, além do fato do Rei Alfonso XIII, bisavô do atual Rei Felipe VI, ter contraído a gripe, da qual se recuperou.

A GUERRA CRIOU O AMBIENTE DE PROPAGAÇÃO

Historiadores recentes atribuem às debilidades de alimentação e higiene entre as tropas as condições primeiras de propagação do vírus, com origem, segundo eles, em aves trazidas aos acampamentos de soldados na França, onde os leitos eram praticamente colados e as condições de higiene péssimas.

O vírus atingiu especialmente adultos jovens com índices altíssimos de mortalidade. Dos soldados, a gripe passou aos civis das cidades próximas aos acampamentos e ai se espalhou por toda a Europa e depois para os EUA, Austrália e China, chegando ao Brasil, especialmente a São Paulo e Rio.

Não existem estatísticas oficiais de mortes pela gripe, as estimativas vão de 17 milhões até 100 milhões, sendo na época a população mundial 2 bilhões de habitantes, os números mais aceitos são de 50 milhões de mortos, alguns pequenos países muito atingidos, como o Líbano, que sofreu forte deficiência de alimentação durante a Grande Guerra. Nos EUA a estimativa de mortes ficou entre 500 a 700 mil e no Brasil em 300 mil.

Da mesma forma que surgiu com violência, a Gripe Espanhola acabou abruptamente em novembro de 1918, após uma segunda onda de rebrote em setembro e outubro. Uma particularidade foi atingir especialmente mulheres grávidas, até hoje uma questão de pesquisa de cientistas.

A única avaliação pacífica entre os pesquisadores foi a de que as condições de enfraquecimento físico, tanto de militares como de civis por causa da Guerra, criaram as condições ideais para a propagação do vírus. Não havendo na época medicamentos eficazes de combate ao vírus, usava-se quinino após a contaminação com resultados variáveis, mas, de modo geral sobreviveram aqueles com melhor resistência física.

Sobre os efeitos causados pela Gripe Espanhola na sociedade após seu fim escreverei artigo específico.

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