Nova fase global: De um lado, a vulnerabilidade de países sem autossuficiência em produtos essenciais. De outro, as redes globais de fornecimento em xeque
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Assim que o Brasil voltar à normalidade, com o fim do governo Bolsonaro, haverá mudanças relevantes nos modelos de inovação e de política industrial, em função das vulnerabilidades levantadas pelo coronavirus.
Nas últimas décadas, abandonou-se o conceito da mission oriented, ou seja, de política industrial voltada para objetivos estratégicos, que marcou o período de substituição e importações até final dos anos 80. Depois disso, as políticas industriais se desenvolveram de forma horizontal. Aprimoram-se mecanismos de financiamento à pesquisa, ao investimento, de criação de redes de pesquisa, e deixava-se à disposição do mercado de maneira aberta.
Por outro lado, a ideia em vigor era a de que as empresas só se fortaleceriam com economia aberta e possibilidade de se integrar às redes globais de fornecedores. Com câmbio apreciado em quase todo o período pós anos-90 e custo Brasil elevado, a abertura provocou uma enorme desindustrialização que começou no governo Fernando Henrique Cardoso e prosseguiu no governo Lula. A rigor, os únicos setores poupados foram as empreiteiras, porque se alavancavam com obras no mercado interno, ganhando fôlego para competir internacionalmente. E também a de proteína animal, devido ao potencial da pecuária brasileira.
As únicas tentativas de articulação Inter setorial – financiamento à inovação, financiamento a investimentos, identificação de elos fracos nas diversas cadeias produtivas – chegaram a ser desenhadas na ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), mas foram interrompidas no período de centralização de Dilma Rousseff.
Agora se entra em uma nova fase global. De um lado, a crise mostrou a vulnerabilidade de países que não têm autossuficiência em produtos essenciais. De outro, colocou em xeque as redes globais de fornecimento.
Finalmente, expôs de maneira crua a falência dos modelos de terceirização da produção para outros países, enfraquecendo os mercados nacionais de trabalho e as redes de proteção social das potências centrais, como os Estados Unidos.
Nos próximos anos, impulsionado pela indústria 4D, e pelas vulnerabilidades estratégicas reveladas pelo coronavirus, haverá uma volta à casa. Ou seja, as empresas trazendo para perto de si o controle das linhas de produção.
Tudo isso produzirá impactos de monta no Brasil. O primeiro projeto focalizado, o Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Ministério da Saúde, nascido nos laboratórios da Fiocruz, no governo Dilma, acabou suspenso no interregno tenebroso de Michel Temer. Visava justamente identificar as grandes vulnerabiulidades brasileiras nas áreas de medicamentos e equipamentos médicos, e valer-se do poder de compra do SUS (Sistema Único de Saúde) para acelerar a transferência de tecnologia para empresas braskleiras.
Agora, com a crise, voltam as cenas as políticas de desenvolvimento produtivo, nos modelos imaginado pela Fiocruz. O estudo “Políticas de Desenvolvimento Produtivo, Tecnológico e de Inovação”, de Rafael Leão e Luis Felipe Giesteira explora bem o tema. Tem outros tempos, havia críticas aos critérios de escolha dos setores a serem contemplados como estratégicos. Com o coronavirus, no entanto, as prioridades saltam à vista.
Segundo Mark Zachary Taylor, mencionado no trabalho, os setores que abrangem a segurança são a defesa nacional, a energia, alimentação e saúde.
Outros autores, estudaram o modelo asiático, no qual a definição dos setores buscou também a meta de transformação em potências produtivas e tecnológicas.
A discussão vai ser reaberta, pois será inevitável a volta das políticas de desenvolvimento produtivo.
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