Jair Bolsonaro, Donald Trump, Xi Jinping e Vladimir Putin (Foto: Alan Santos/PR | Reuters)
Logo no início do governo de Jair Bolsonaro, Steve Bannon, ideólogo e guru dos movimentos neofascistas e dos governos de extrema-direita ao redor do mundo, disse que uma das mudanças seria o afastamento entre Brasil e China. A previsão ainda não se materializou, do ponto de vista econômico, uma vez que a China responde por 40% das exportações nacionais, mas os sinais de hostilidade entre o governo brasileiro e Pequim são evidentes, desde as agressões de Abraham Weintraub e dos filhos de Bolsonaro até a tese do "comunavírus" alardeada pelo chanceler Ernesto Araújo.
Esses movimentos fazem parte de uma inédita submissão do Brasil a Washington. Nunca, em toda a nossa história pós-independência, o Brasil esteve tão rebaixado no governo de Bolsonaro, que entregou o país de bandeja a Donald Trump e aos interesses da extrema-direita estadunidense. O ponto culminante desse período de humilhação pode vir a ser a nomeação de um aliado de Steve Bannon num cargo estratégico do Itamaraty – o que o embaixador Celso Amorim, que já foi considerado o melhor chanceler do mundo pela revista Foreign Policy, considera um estupro.
Há, no entanto, sinais de que as grandes potências começam a se mover com mais intensidade na América Latina, subcontinente que, diante de um Brasil apagado e submisso, se converte numa das principais peças do grande tabuleiro global. Nesta terça-feira 9, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou que Moscou jamais aceitará uma mudança de regime na Venezuela promovida por Washington – tema que foi a prioridade do Itamaraty nas gestões pós-golpe de 2016, tanto com José Serra, com Aloysio Nunes e agora com Ernesto Araújo.
Fechando o quadro, os chanceleres de Cuba, Bruno Rodríguez, e da China, Wang Yi, também anunciaram simultaneamente, nesta terça-feira 9, que o país asiático aumentará sua ajuda econômica ao país caribenho. Em seu discurso, Wang destacou a oposição de Pequim “aos esforços dos Estados Unidos de usar o antiterrorismo para impor sanções e manter a opressão política contra Cuba”.
Ou seja: de forma coordenada, tanto Rússia como China anunciaram uma posição mais firme na América Latina em oposição a Washington, num momento em que tanto Donald Trump como Jair Bolsonaro aparecem fragilizados, com menor aprovação popular e com seus dois países como os mais afetados pela pandemia do coronavírus. Certamente, haverá alguma reação de Washington e o Brasil, enquanto estiver sob Bolsonaro, seguirá este comando. Mas é importante observar que a América Latina, riquíssima em recursos naturais, passa a ser um dos principais palcos da disputa geopolítica global. Pena que o Brasil, que poderia ser um fator de equilíbrio entre os interesses das grandes potências, se apequenou e perdeu sua capacidade de influência.
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