quinta-feira, 11 de junho de 2020

Diário de um iconoclasta (I), por Izaías Almada

Admitamos, contudo, que Ele – de fato – o Todo Poderoso, como dizem as Sagradas Escrituras, ou Maomé ou Buda, que eles, afinal, se preocupem com a maioria dos mortais.

                   Por Izaias Almada
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Foto de Vinícius Almada

Diário de um iconoclasta (I)
por Izaías Almada

Olhando o Brasil com algum distanciamento crítico, fica-se com a impressão de que algum parafuso está fora de lugar, alguma engrenagem não está devidamente lubrificada ou precisamos ir ao oftalmologista para novo exame de vista e troca das lentes.

Mesmo considerando que a história da humanidade tem momentos de avanços e recuos civilizatórios, há um limite para determinadas aventuras que escapam ao controle da razão e se perdem por descaminhos da ignorância e da estupidez. São momentos em que muitos de nós questionamos a existência do Criador.

Deus exista? E o que será que Deus pensa quando está sozinho? Terá Ele o tempo suficiente para cuidar, segundo os escritos bíblicos, de tudo que criou ou, com o passar dos tempos, os sábados se tornaram curtos para o Seu descanso?

Depois de contemplar por milênios a sua principal criação, pode-se garantir que admirar as mulheres bonitas ou tirar férias numa praia tropical não será lá parte das suas preocupações…

Muito menos Ele estará preocupado com o idiota de um presidente norte americano ou brasileiro. Ou mesmo com um grupo terrorista qualquer.

Também não estará preocupado comigo ou com esse país onde nasci e vivo, o Brasil, apesar de estarmos a toda hora – alguns de nós pelo menos – a dizer que Ele é brasileiro.

Penso que neste assunto de tão prosaica e barata teologia todos os povos agem e pensam da mesma maneira.

Muitos homens e mulheres, mesmo vivendo lá nas suas aldeias e vilas mais longínquas ou porventura nos corredores de alguma famosa universidade, em frente aos seus computadores ou digitando os seus celulares, nos assentos dos parlamentos ou ajoelhados em confessionários, ou ainda num bar de putas em Amsterdã ou Macau, estarão todos dizendo ou imaginando a mesma coisa: Deus é mexicano ou Deus é dinamarquês, é angolano, australiano, chileno ou outro povo qualquer!…

Às vezes, acho difícil é Ele se declarar um caubói do Texas, por exemplo, ou adepto de uma seita evangélica que prega uma coisa e faz outra, ou mesmo um fascista… Mas como se trata de alguém que é onipresente, onisciente e onipotente, é bom que nenhum de nós tenha lá essas certezas… Nem mesmo os muçulmanos ou os budistas lá com as suas versões.

Admitamos, contudo, que Ele – de fato – o Todo Poderoso, como dizem as Sagradas Escrituras, ou Maomé ou Buda, que eles, afinal, se preocupem com a maioria dos mortais. Ainda assim, sou obrigado a reconhecer, com certa relutância – é verdade – que não faço parte do seu rol de eleitos, por mais que eu procure me convencer do contrário.

Pelo menos, é o que sinto nesse momento, cercado de vilanias por todos os lados. E de tanto ver merdas à minha volta, já nem sei se eu mesmo existo.

De repente, o vilão da história chama-se Covid-19. Um vilão até certo ponto diferente de outros vilões dos seriados de cinema e das telenovelas, pois ele age exatamente de um lado só, ou melhor contra um lado só, pelo menos aqui no Brasil: mata os mais pobres e protege os canalhas, se entendem o que quero dizer…

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