segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Historiadora diz que enfrentamos a volta de um “estado de fome epidêmica” no Brasil

Fome. Imagem: William West/AFP


Após anos dedicados aos estudos sobre a fome e os hábitos alimentares dos brasileiros, é de sua presença diária nas ruas da zona norte de São Paulo, alimentando uma legião de famintos e desempregados, que a historiadora Adriana Salay, 36, tira suas conclusões.

“Se esse Estado que está hoje colocado não entende que essa população precisa sair da situação de fome, temos que fazer uma mobilização da sociedade civil e criar esse enfrentamento com o Estado”, afirma.

Ao lado do marido, Rodrigo Oliveira, chef do restaurante Mocotó, Adriana criou o projeto Quebrada Alimentada, que distribui 200 marmitas por dia e 220 cestas básicas por mês desde o início da pandemia do novo coronavírus.

Debruçada sobre a obra de Josué de Castro, autor de “Geografia da Fome” e ex-presidente do Conselho Executivo da FAO, o órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação, ela vê a fome epidêmica, causada pela emergência sanitária, se juntar à fome endêmica no país.

Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, 37% das famílias viviam em insegurança alimentar em 2018. Essa porcentagem era de 23% em 2013.

A realidade de 2020 deve se revelar ainda pior. Não à toa, o Relatório Global de Crises Alimentares, do Programa Mundial de Alimentação (PMA), da ONU, apontou que a pandemia pode fazer o número de pessoas em insegurança alimentar duplicar no mundo.

Na última sexta-feira (9), o programa da ONU ganhou o Prêmio Nobel da Paz pelos esforços em combater a fome e evitar que ela seja usada como arma em conflitos.

Nesta semana, o projeto de Adriana e Rodrigo fará parte de uma ação batizada de “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”. Organizada pelo coletivo Banquetaço, a campanha terá programação online (genteprabrilhar.org) para debater a fome a partir desta segunda (12) até sexta (16). No sábado (17) e no domingo (18), “marmitaços” em diferentes capitais devem distribuir refeições nas ruas.

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