domingo, 11 de outubro de 2020

Passos para um funeral


Nonato Menezes

Falta alguém dizer aos sindicalistas que há uma crise profunda nos sindicatos, instituições que representam ou dizem representar os trabalhadores brasileiros. Crise que se agrava dia-a-dia, dada a precarização acelerada das relações trabalho/capital em benefício do último, o qual se torna cada vez mais selvagem no Brasil, sufocando o desenvolvimento social e econômico nacional e incapacitando essas instituições, os sindicatos, de agirem politicamente. 

Falta também dizer aos sindicalistas que alguns passos já foram dados rumo ao ocaso das nossas representações e que se eles não acordarem a tempo, outros passos mais significativos, que já estão em curso, levarão, inexoravelmente, as organizações trabalhistas ao brejo e, quiçá, ao funeral que já se pode enxergar no horizonte próximo. 

Está fácil perceber o quanto a EXTINÇÃO DO IMPOSTO SINDICAL veio a contribuir para a morte dos sindicatos de trabalhadores, sobretudo daqueles, cujos grupos de dirigentes viram a instituição sindical como um bom negócio. Para esses, possivelmente, se já não o fizeram ainda, resta apagar a luz, trancar a porta e dar adeus aos associados, se houver. Esse é um ponto decisivo para centenas de sindicatos que nunca elegeram as condições de trabalho, por exemplo, como sua prioridade de luta nesse conflito produzido pelo sistema capitalista. 

O DESVIO DE FINALIDADE dos sindicatos de trabalhadores tem sido uma das estratégias adotadas por aqueles que no exercício do poder, sucumbem aos desejos de consumo de muitos associados, os quais são impostos pela cultura mercantilista hegemônica. Neste sentido, o que tem sido prioritário para muitas organizações representativas dos trabalhadores, muitas vezes ao arrepio de seus próprios estatutos, tem sido a função inconsequente e descabida de – franquear viagens, assegurar descontos na aquisição de papel A4 e outros benefícios – absolutamente dispensáveis na luta pela melhoria de vida desses trabalhadores. 

Muitos sindicatos, sindicalistas e seus quejandos ASSOCIAM-SE ÀS INSTITUIÇÕES EMPREGATÍCIAS para conseguirem migalhas para os trabalhadores, justificando tal postura com o discurso de que “qualquer coisa é melhor que nada”! Sem dizer, evidentemente, que em tais negociatas há sempre garantias de benefícios para parentes, associados e para eles próprios. 

O RECURSO JURÍDICO tem sido necessário para evitar que o capital tenha todo o controle sobre a respiração do trabalhador. Este não tem sido o único, mas é importante usá-lo para garantir a permanência do direito conquistado. Afinal, os direitos sociais e individuais só são assegurados mediante leis, a despeito do nosso judiciário servir, claramente, aos interesses da elite mais atrasada do mundo, que é a brasileira. 

É difícil imaginar a FUNÇÃO DE SINDICALISTA SER QUASE SEMPRE VITALÍCIA. Ficar dez, vinte, trinta ou mais anos no poder sindical contraria o mais elementar dos princípios democráticos, que é a necessidade de alternância no exercício do poder. Infelizmente a quase totalidade de nossos sindicalistas, “as ditas lideranças trabalhistas”, utilizam-se das mais variadas e descaradas artimanhas para se perpetuarem no comando das instituições. Entre essas artimanhas merece destaque o abominável vício adquirido ao longo do tempo, que consiste na vergonhosa prática da alteração estatutária, a qual é legitimada e preservada pela indiferença “quase uma indolência” por isto repulsiva, dos associados. 

A prática oficial de TROCAR A MATRÍCULA FUNCIONAL POR OUTRA EM DECORRÊNCIA DA APOSENTADORIA está em vigor na categoria de professores da Rede Pública de Ensino do Estado de Goiás. Estratégia clara, mas perversa que está sendo usada para esvaziar aquele sindicato. Há, porém, quem diga que as novas filiações compensarão a inexistência dos aposentados como filiados. Até poderia ser, não fosse a falta de credibilidade desse sindicato – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás – SINTEGO, o qual, com sobra de razões, já está sendo chamado de “SINTREGO”. 

São essas iniquidades, muito bem percebidas, que apontam para o fim de nossos sindicatos de trabalhadores, dadas em passos tristes para um funeral previsível, não tão distante assim.

 

 


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