Por Luis Nassif
Ouço agora que o Ministro Luis Roberto Barroso vai lançar um livro com três pontos relevantes.
O primeiro ponto é sua explicação sobre o mundo.
O segundo ponto é sua autobiografia.
O terceiro ponto é sua interpretação sobre o Brasil e a justificativa de seus votos, à luz das mudanças históricas do Brasil.
No inicio de sua carreira midiática, ele se colocou no mesmo nível de outros juristas que abraçaram a política, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, San Thiago Dantas e… ele, Barroso. Modéstia, é claro! Seu nível é maior do que o grupo mencionado. Está em linha com Gama e Silva, Francisco Campos e Vicente Rao.
Desde então, Barroso desandou a distribuir interpretações históricas, políticas e sociológicas, mostrando um leitor displicente de orelhas de livros de brasilianistas. Endossou todos os estereótipos preconceituosos sobre os brasileiros, a ideia de que todo brasileiro é malandro, indisciplinado, displicente. E seu conhecimento de sociologia e política fez com que visse uma luz no final do túnel, anunciasse a chegada do novo Iluminismo, e era o trem de carga do bolsonarismo. Com sua leveza característica, nem se importou com o resultado de sua pregação.
Barroso foi incapaz até do mais elementar dos exercícios teóricos: a observação empírica, pela absoluta incapacidade de desenvolver qualquer empatia com o que vulgarmente chama de povo. Qualquer observador das pessoas diria que os de baixo, que conseguem se incluir, são muito mais exigentes nas questões morais, na observância das leis e das regras, porque são os mais expostos à mão pesada da Justiça.
Os juristas diferenciados saberiam que mudanças tecnológicas exigem novas formas de proteção ao trabalho: Barroso, com sua superficialidade exasperante, ajudou a destruir toda forma de proteção ao trabalho, devolvendo o Brasil ao início da revolução industrial.
No sábado fiz uma entrevista com Alysson Mascaro, professor da faculdade de Direito do Largo São Francisco. Ele trouxe uma interpretação interessante da mudança do perfil dos juristas.
Antes, buscavam a aprovação do seu meio. Primavam pela discrição, por um certo pernosticismo de linguagem e pela busca incessante de conhecimento e da erudição.
Com a financeirização dos anos 90 em diante, muda o padrão de referência. Passam a ser profissionais bem remunerados, com seu salário de juizes e procuradores ou, no caso de Barroso, acumulando ganhos de procurador com escritório privado de advocacia. A partir daí, sua referência passa a ser de classe econômica. Consideram-se membros de classes altas e a referência deixa de ser a corporação, para ser os da mesma classe, de preferência empresários, financistas, grandes escritórios. Seu sonho de consumo passa a ser Miami.
É o caso de Barroso e sua ânsia irresistível pelos holofotes e pela aprovação do empresariado. Não foi por outro motivo em que, ao mesmo tempo em que citava as orelhas de livros de brasilianistas, se pautava pelo pensamento econômico e social do grande pensador Flávio Rocha, das lojas Riachuelo, aquele que trata as ideias com a mesma profundidade com que vende roupas.
A leitura do livro de Barroso será um exercício interessante para analisar a mediocrização do pensamento jurídico do país. Sua única salvação é se recorreu a algum ghost writer.
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