sexta-feira, 5 de março de 2021

Falta de estratégia do governo brasileiro contra a Covid-19 é destaque na imprensa francesa

Na imprensa francesa desta sexta-feira destaque para o aumento dos casos de Covid-19 no Brasil e a falta de estratégia nacional. © Fotomontagem RFI/Adriana de Freitas

Texto por: RFI
https://www.rfi.fr/

O jornal Libération desta sexta-feira (5) traz uma matéria sobre o aumento de casos e óbitos por Covid-19 no Brasil. Sem estratégia nacional de combate ao coronavírus, o país registrou quase 2.000 mortos na quarta-feira (3), enquanto a campanha de vacinação avança lentamente.

A matéria da correspondente do Libération no Brasil, Chantal Rayes, diz que tudo isso acontece “sem uma palavra de compaixão do presidente Jair Bolsonaro".

O ano começa mal na maior parte dos países da América Latina e o Brasil enfrenta uma nova onda da epidemia mais grave do que as anteriores. Libération lembra que, em Manaus, onde a variante chamada P.1 foi encontrada, a segunda onda causou mais mortes - quase 6.000 - em dois meses do que durante todo o ano de 2020.

Para muitos, o "martírio" de Manaus anunciou um provável desastre humanitário nacional, diz o jornal, que destaca a lentidão da campanha de vacinação no Brasil, que não conta com o apoio do presidente Jair Bolosonaro. Para ele, "a melhor vacina é pegar a doença". Segundo dados do Imperial College de Londres citados no texto, a taxa de reprodução do vírus no Brasil é de 1,13.

Libération responsabiliza as festas de fim de ano, as férias de verão no Hemisfério Sul e o relaxamento de medidas de confinamento em vários estados em dezembro e janeiro pelo alto índice de circulação do vírus e aumento de casos e mortes de Covid-19 no Brasil.

Desacordo com governadores

Na ausência de estratégias nacionais, são os governos locais e regionais que aplicam políticas para conter as contaminações, "mas eles também são sensíveis ao argumento econômico", usado pelo governo federal, diz Domingos Alves, professor da USP entrevistado pelo jornal. Mas, diante da situação dramática vivida no país, não resta outro remédio além de decretar medidas restritivas, como fizeram Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

O jornal ressalta que governadores e presidente "não falam a mesma língua" e que o "ministro da Saúde não pode dizer nada, porque é o presidente que decide". Bolsonaro é também o maior adversário do isolamento social e do uso de máscaras, reitera a matéria.

O epidemiologista Eliseu Waldman, membro do comitê científico do estado de São Paulo, diz que a "situação é dramática", e que se nada for feito, "o pior ainda está por vir". Mas reconhece a dificuldade de um lockdown em um país onde a maioria das pessoas não pode trabalhar de casa ou on-line e que os subsídios dados durante a primeira onda da doença foram suspensos. O médico lembra que, ainda que o Brasil tenha um sistema de saúde robusto, ele “nunca viveu uma pressão tão forte".

“Parem de mimimi”

Já o jornal Le Parisien destaca às críticas recentes do presidente Jair Bolsonaro às medidas de isolamento, enquanto o país lamenta quase 260.000 mortes e atravessa a semana mais difícil desde o início da pandemia. "O presidente Jair Bolsonaro, que minimiza a crise do coronavírus e se opõe ao lockdown, pediu aos brasileiros que “parem de mimimi!"", diz o artigo no site do jornal.

Bolsonaro afirmou na quinta-feira (4) que é preciso "parar de frescura" em meio à pandemia e perguntou: "até quando as pessoas vão ficar chorando?". Ele ainda chamou de "idiotas" quem pede rapidez na compra de vacinas. As declarações foram feitas durante um evento que marcou a assinatura de inauguração de um trecho da ferrovia Norte-Sul em São Simão, em Góias, que contou com a presença de produtores rurais.

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