segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Uma ponte para o retiro

Fontes: Brasil de Fato [Imagem: Jair Bolsonaro com o presidente Temer, que lhe impôs a faixa presidencial em 1º de janeiro de 2019. Créditos: Mateus Bonomi, retirado do Brasil de Fato]

Por Vanessa Grazziotin
https://rebelion.org/

Traduzido do português para Rebelião por Alfredo Iglesias Diéguez

Neste artigo, a autora relembra, a partir de sua memória ativista, o golpe que derrubou Dilma Roussef em 2016.

Em 31 de agosto de 2016, o Senado Federal aprovou, com apenas 20 votos contrários, um golpe, não só contra uma presidente eleita democraticamente, uma presidente inocente, mas contra a democracia e contra o povo brasileiro. Um golpe contra o Brasil.

No entanto, tudo começou mais cedo, em 17 de abril, quando a Câmara dos Deputados, em uma de suas sessões mais intimidantes, admitiu para tramitar uma ação contra a presidente Dilma, pela qual o partido de Aécio Nieves, o PSDB, pagou cerca de 45 mil reais.

Dias depois de a Câmara aceitar a reclamação, o PMDB, em ato no Congresso Nacional, lançou um novo programa econômico e social para o Brasil. O programa foi denominado “ Uma Ponte para o Futuro - A Jornada Social ”. Além das lideranças partidárias, participaram do evento o presidente do partido, o então senador Romero Jucá, e o vice-presidente da República, Michel Temer.

Vale lembrar que a famosa frase “temos que tirar Dilma por meio de um grande acordo nacional, com o STF, com tudo” veio de Jucá. A frase antecipou para o Brasil e para o mundo as intenções golpistas do partido do Vice-Presidente da República.

A chamada “ Ponte para o Futuro ” era aquela que interessava ao mercado, o elo que unia as forças políticas que sempre defenderam os interesses econômicos do capital, especialmente do capital internacional.

Afirmaram que a solução dos problemas brasileiros passaria por fortes ajustes fiscais e reformas estruturais, o que seria muito difícil para toda a população brasileira, mas que a partir de então nosso país voltaria a se desenvolver, a economia cresceria e geraria milhares de novos. empregos, bem como novas oportunidades de geração de renda.

Sabíamos que nada disso aconteceria, pois de fato não aconteceu. Ao contrário, o que fizeram foi levar o Brasil à destruição. Nossa economia foi destruída, a riqueza pública desperdiçada e as políticas públicas cessadas. O que cresce no Brasil é desemprego, fome e miséria. É ser uma ponte para o retrocesso!

Há cinco anos, portanto, presenciamos uma forte união entre as forças políticas, midiáticas, empresariais e judiciais em torno de um novo projeto no Brasil, um projeto de rendição e antipopular. O que eles queriam era a volta do neoliberalismo, ou seja, a volta de um projeto que privilegiava o grande capital em detrimento dos interesses da maioria da população.

Acontece que esta decisão, além de criar uma ferida, até hoje não sarou, porque atingiu fortemente a nossa democracia, gerou uma das maiores crises econômicas, um profundo retrocesso social e o empobrecimento de nosso povo. As consequências para o povo foram muito duras, muito graves.

Após o acatamento da denúncia contra Dilma pela Câmara dos Deputados, o processo foi para o Senado Federal, que após recebê-lo constituiu a Comissão de Ministério Público.

Lembro-me de como o senhor saiu hoje do debate que travamos sobre a oportunidade ou não de fazer parte da referida comissão. Sabíamos que seria um cenário de mentiras e que o único objetivo seria legitimar uma das maiores farsas que já aconteceram no Brasil.

Em nosso debate prevaleceu a opinião de que devíamos fazer parte da comissão, mesmo que dificilmente houvesse a menor chance de vitória. E na comissão, como no plenário do Congresso, lutamos, com muita força e combatividade, a luta pela narrativa. E, sem dúvida, saímos vitoriosos!

Foi com base nos inúmeros documentos e evidências que sustentavam a inocência de Dilma e na falta de bases legais para justificar o impeachment que desmascaramos a farsa, a fraude, o golpe.

Ganharam a votação, possibilitaram o golpe, mas fomos nós que ganhamos o debate, que mostramos ao Brasil e ao mundo que isso era uma grande farsa, que não era um impeachment , que era um golpe.

O último dia 31 de agosto foi um dia de grande tristeza para todos nós, de grande tristeza para o Brasil, que há cinco anos passa por um sofrimento sem fim. Mesmo assim, 31 de agosto também foi um dia para celebrar a esperança. A esperança de que vamos retomar o processo de desenvolvimento nacional, de que vamos resgatar o Brasil para o povo brasileiro.

Vanessa Grazziotin é ex-senadora da República e integrante do Comitê Central do PCdoB.

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