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Teto” para quem? Só com a elevação de 1,5 ponto na taxa básica de juros, Brasil entregará R$ 75 bi por ano à oligarquia financeira. Cifra ultrapassa orçamento do Auxílio Brasil – e expõe interesses de quem lucra com a crise
“Teto” para quem?
Operadores do mercado financeiro apoiaram, em 2016, a implementação de um “Teto de Gastos” no Brasil, por meio da Emenda Constitucional 95.
O texto, sancionado pelo então presidente Michel Temer (MDB), congelou os investimentos em políticas públicas como saúde e educação por 20 anos.
Uallace Moreira enfatiza que esse mesmo “mercado” fez pressão pelo aumento da Selic e será beneficiado com repasses bilionários por fora do Teto.
“É a contradição pura. Eles estão argumentando que precisa manter o ajuste fiscal, mas ao mesmo tempo elevam juros, aumentando os gastos públicos. Ficam muito em evidência os interesses de classe na coordenação da política econômica”, diz.
O exemplo mais recente foram os áudios vazados de André Esteves, dono do banco BTG Pactual, no início da semana.
As conversas mostram que o banqueiro era consultado pelo BC, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e até pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre a condução da política econômica.
“O Teto de Gastos não congela pagamento com serviços da dívida. Então, você pode fazer a festa no orçamento, pegando dinheiro público e transferindo ao setor financeiro. Enquanto isso, o governo mantém o argumento de cortar gastos da saúde, da educação, e 92% do orçamento da ciência”, critica Moreira.
“O Teto de Gastos congela tanto os gastos correntes, com saúde e educação, como os investimentos. Então, nosso investimento está em um dos menores patamares da história, e ninguém [do ‘mercado’] reclama disso: mas reclamam quando tem um auxílio para tentar tirar as pessoas da fome.”
Para o professor da UFBA, a precarização do serviço público, resultado de ajustes fiscais, justifica e alimenta uma lógica privatista – que também interessa ao mercado financeiro.
“Há um casamento perfeito dessas políticas – aumento de juros e Teto de Gastos – em torno de um objetivo, que é atender ao interesse de uma minoria, que está lucrando, como os bancos”, afirma.
No primeiro semestre, o lucro dos cinco maiores bancos – Itaú, Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e Santander – atingiu R$ 54,7 bilhões, com alta média de 61,4% em doze meses.
Ao mesmo tempo, Uallace Moreira avalia que essas escolhas terão consequências graves – mesmo para os ricos – em médio prazo. Afinal, se os trabalhadores perdem poder de compra e consomem menos, toda a economia é prejudicada.
“Nós precisamos do mercado interno, que é 64% do nosso PIB [Produto Interno Bruto]. A indústria de bens de consumo duráveis – geladeira, fogão, automóveis – precisa do mercado interno”, afirma.
“Por enquanto, com privatizações e política de juros, eles estão recompondo seus lucros e compensando a crise do mercado interno. Mas, em algum momento, isso não vai ser sustentável, porque não vai ter mais nada para privatizar. Então, é uma política suicida”, finaliza o economista.
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