segunda-feira, 11 de abril de 2022

Fato inusitado: Rússia aprofunda isolamento americano na cena internacional a partir da Ucrânia

Dmitry Peskov, secretário de imprensa do governo russo, e o presidente Vladimir Putin (Foto: Dmitry Peskov, secretário de imprensa do presidente russo, Vladimir Putin + circulos de dolar e do euro)

"Choque cambial russo sobre o dólar pode ser considerado o primeiro tiro de canhão atômico russo na hegemonia monetária americana", escreve César Fonseca

Por César Fonseca
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Claríssimo: Lavrov explicitou o objetivo da Rússia: acabar com a hegemonia imperialista norte-americana a partir da desmoralização da sua moeda falsa: o dólar; o padrão-dólar, em vigor desde o fim do padrão ouro, em 1971, levou uma cacetada federal com a jogada de Putin em cima de Biden de exigir conversão da moeda americana em rublo para comprar mercadorias russas na Rússia; os cliente da Rússia, especialmente, europeus, precisam depositar dólar em banco estatal russo que faz a conversão para rublo, liberando, assim, a liquidação cambial; na prática, Putin estatizou o BC russo e tornou pública a oferta de crédito no país, escanteando a banca privada, subordinada à autoridade finaneira estatal; ou seja, a Rússia fixou o valor da sua moeda na conversão cambial; c'est fini o livre-cambismo imperialista; estabeleceu sua política monetária e seu Banco Central independente do domínio financeiro privado nacional e internacional; antes, vigorava o BC Independente do Estado, a favor do setor privado, como ocorre, atualmente, no Brasil neoliberal bolsonarista; a economia russa não está mais sujeita à variação cambial do dólar nos mercados especulativos, o que dava vantagem comercial para moeda americana em relação às demais moedas; Putin estabeleceu, com um golpe de judô, o nacionalismo monetário russo soberano, na relação internacional; esse choque cambial russo sobre o dólar pode ser considerado o primeiro tiro de canhão atômico russo na hegemonia monetária americana, que tenta arregimentar, agora, aliados para mover guerra contra Rússia a partir da Ucrânia, transformada em base militar de Tio Sam, objetivando guerra prolongada.

PREDISPOSIÇÃO TOTAL PARA GUERRA IMPERIALISTA
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Biden descarta o cessar fogo na Ucrânia, em negociação entre Rússia e Ucrânia, com os pressupostos russos acentuados por Putin, como defesa da neutralidade ucraniana frente a Washington e cumprimento da exigência russa para que Ucrânia jamais seja parte da OTAN; Biden, diante dessa posição da Rússia, estimula, não o fim, mas a continuidade da guerra, que EUA apoia, para que não fique explícita a vitória russa, imposta a partir do campo de batalha, depois que a OTAN negou-se a todas as tentativas diplomáticas russas; ao contrário, agora, diante do perigo da vitória de Putin, Otan e Estados Unidos dobram aposta na guerra e enviam dinheiro grosso para o governo ucraniano, que, no entanto, está sem poder de ação, visto que as forças armadas ucranianas estão completamente dizimadas pelos ataques russos. 

FRACASSO DAS SANÇÕES, VITÓRIA RUSSA

As sanções americanas à Rússia, por outro lado, não estão sendo eficazes, porque os clientes do petróleo, do gás e dos minérios russos não podem radicalizar contra a decisão de Putin de só receber em pagamento por elas o rublo e não mais o dólar depositado em bancos estrangeiros; estes, diante das sanções de Biden, transformaram-se em ladrões piratas da poupança russa no estrangeiro; os europeus, nesse cenário, correm o risco de ficar sem as mercadorias, indispensáveis para eles; para piorar, os Estados Unidos não têm poder de compensar, imediatamente, os europeus, que se engajaram a Biden contra Putin, dada insuficiência da oferta de matérias primas disponíveis nos Estados Unidos para a Europa, com o agravante da alta de preços, que elevaria inflação europeia a níveis insuportáveis etc; a tendência europeia seria a de afastar-se da Otan, ou seja, dos Estados Unidos, que deixam de ser úteis aos europeus, em comparação à utilidade expressa pela Rússia, com sua oferta de matérias primas indispensáveis à população europeia; quem está se isolando, aos olhos dos europeus - e do mundo -, portanto, não é a Rússia, mas os Estados Unidos, que tentam forçar esse isolamento contrário ao interesse público, na Europa.

ESTRATÉGIA DE UM CRAQUE

Portanto, é por aí que a Rússia está começando a materializar a pregação de Lavrov, ou seja, a desmontagem da hegemonia imperialista dos Estados Unidos; Biden, na base do desespero, tenta, agora, forçar a China e, também, a Índia a se distanciar da Rússia; o objetivo dele é isolar a Rússia, para tentar destruí-la, militarmente, como os líderes europeus, na Otan, evidenciam, de forma clara; nem China nem Índia, que fazem, com a Rússia, parte dos Brics, mostram-se predispostos a atenderem o presidente americano; da mesma forma, Biden vai encontrando dificuldades crescentes para manter europeus unidos em torno da Otan, liderada pelos Estados Unidos, a fim de cumprir sua pregação pela guerra contra Putin; a Europa teme pelo pior, se não tiver acesso às matérias primas russas, indispensáveis à sobrevivência econômica do velho continente; em vez de estar conseguindo isolar a Rússia, o que se verifica, aparente e substancialmente, é o relativo distanciamento dos aliados de Biden da potência outrora hegemônica; aliar-se a ela deixou de ser segurança coletiva garantida.

DÓLAR VIRA PROBLEMA, NÃO SOLUÇÃO

A moeda americana, ao contrário, transformou-se em insegurança crônica; isso se torna uma realidade cada vez mais comprometedora, se o mercado financeiro internacional aprofundar desconfiança na moeda americana como valor seguro nas relações de troca internacionais, especialmente, com o avanço financeiro e econômico da China, apoiada no crédito público, distribuído por bancos estatais, no domínio do comércio internacional; Washington, subordinada aos bancos privados que mandam no BC americano, não pode fazer o jogo chinês; Kennedy tentou fazer isso, mataram ele; a tudo isso deve ser acrescentado o fato determinante da aliança militar econômica e financeira China-Rússia, atraindo os Brics, para avançar na nova fronteira econômica mundial, a Eurásia, ao longo do quente século 21.

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