Pedro Guimarães e Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)
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No Brasil, o assédio virou forma de governo.
O comportamento do presidente da Caixa Federal, fartamente relatado nos meios de comunicação através de denúncias de pessoas por ele molestadas, faz lembrar o comportamento do presidente da República. Embora esse último não seja um assediador especificamente sexual (em que pese o cunho de violência sexual na ameaça conhecida contra Maria do Rosário), seu discurso fascista carrega a mesma lógica que vemos em processos de assédio.
O exercício do assédio tem seu fundamento no discurso de ódio, altamente marcado pela ameaça, intimidação e cinismo que deixam os assediados sem ação. Muitas vezes, em estado de estupor e sem reação. Isso sempre acontece quando uma pessoa é tratada como um objeto. Isso pode acontecer com uma pessoa, um grupo ou a população de um país inteiro.
A paralisia moral e política é efeito do medo e da perplexidade. Além do medo de sofrer mais violência, e o medo de perder o sentido das coisas, a vergonha é outro sentimento comum nas pessoas violentadas seja moral ou sexualmente.
Além disso, há sempre algo de inacreditável na violência sofrida. É assim que as pessoas experimentam a violência, como um absurdo.
Quem sofre violência preferiria não a ter sofrido e não ocupar a posição de vítima que é sempre uma posição humilhante.
Na cultura do assédio, a vítima corre o risco de ser presa no circuito da objetificação que sustenta a sociedade assediadora e seus agentes. Ou seja, a cultura do assédio (patriarcal, racista, capacitista e capitalista), não perdoa as vítimas que ela mesma produz.
A mesma lógica rege todos os processos de violência: o ser humano é tratado como um objeto e destituído de sua dignidade. No caso do assédio moral, um indivíduo é humilhado em todos os aspectos do seu ser. Características físicas, estéticas, raciais, psíquicas, intelectuais são instrumentalizadas pelo assediador. No caso do assédio sexual, são os elementos da sexualidade que são instrumentalizados para reduzir o outro a um objeto. Em geral, homens numa posição de poder fazem isso contra mulheres e crianças.
O assédio é uma forma de violência complexa. Ele une aspectos linguísticos e discursivos e também práticos que lançam luz sobre o terrorismo que toma conta do país há alguns anos.
Lendo as notícias sobre o que se passa hoje na Caixa Federal, sabemos que toda uma população corporativa foi colocada em pânico. O terror está em vigência na instituição desde que Pedro Guimarães assumiu seu cargo. Assim como o Brasil inteiro está em pânico desde que Bolsonaro foi colocado na presidência através de um jogo de violência pela qual a democracia foi traída. São proporções diferentes, o tema sexual é mais forte na CEF, mas certamente se trata de um mesmo jogo pelo qual todos devem ser submetidos ao pânico para que estejam aptos a obedecer.
Assim como as funcionárias da caixa mudaram seu modo de vestir com medo de serem agarradas por um canalha, pessoas do campo democrático sentem medo de estar diante de agentes do fascismo atual que não tem absolutamente nenhum escrúpulo, sendo capazes de todo tipo de violência. Contudo, é preciso dizer sempre, não são as vítimas que têm que mudar seu comportamento para se esconder dos algozes.
É preciso denunciar, fazer justiça e criar uma cultura na qual o assédio não seja possível.
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