terça-feira, 18 de outubro de 2022

Bolsonaro, o macho alfa e o pitecantropus erectus

Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/Youtube)


Bolsonaro não é um mistério. Iguais a ele se encontram às dúzias em manicômios ou prisões

Rogério Cezar de Cerqueira Leite
https://www.brasil247.com/

O enigma, se é que o é, do sucesso de Bolsonaro tem duas vertentes, de um lado entender o que é Bolsonaro e de outro, o bolsonarismo. É impossível deixar de perceber a indiferença do Presidente ao sofrimento alheio, ao boicotar a vacina contra a Covid19, propagar o uso de drogas cientificamente ineptas. Com isso sacrificaram-se algumas centenas de milhares de brasileiros.

Alguns especialistas alegaram ao tentarem diagnosticar Bolsonaro como sendo psicopata. Não há dúvida de que seja um mentiroso patológico e de que abusa do uso do dinheiro público em proveito próprio, o que não é muito diferente de roubar. Bolsonaro, portanto, não é um mistério. Iguais a ele se encontram às dúzias em manicômios ou prisões.

O fenômeno difícil de entender é o bolsonarismo. Se fossem só os motoqueiros (refiro-me àqueles que veem o motociclismo como esporte e exibicionismo).

Teria alguém notado algum entregador presente a alguma das carnavalescas bolsonociatas? Só os milicianos, os oportunistas do neopentacotismo. Os empresários exploradores do povo, os ignorantes profissionais. É preciso entender como pode ter acontecido que a classe de mais escolaridade, que os cidadãos “melhor de vida” e até acadêmicos possam adotar o bolsonarismo, apesar de seu primitivismo e até da sua imensa cafonice? Eis, pois, o enigma para o qual pretendemos oferecer uma teoria.

Para isto voltamos algumas dezenas de milhões de anos, quando grupos de homo sapiens perceberam que dirimiam conflitos e facilitavam a obtenção de comida quando aderiam a um indivíduo apto a “comandar” o grupo, o que seria obtido pela violência e pela astúcia. Aparentemente, já à época, algumas culturas rejeitavam, pelo menos parcialmente, essa forma de governança, ou seja, a ditadura. Todavia, uma alternativa, pelo menos em princípio, só começou a se delinear alguns séculos antes da Era Cristã, na Grécia, na Europa Central e na América (sim, na América pré-colombiana, pré-clássica). Não podemos negar o sucesso da ditadura. Foi enorme o sucesso político de ditadores sanguinários: Alexandre o Grande, Gengis Khan, Qin Shi Huang, Mehmed II e (por que não) Josef Stalin e tantos outros. É também inegável o sucesso inicial ou parcial de Hitler, Mussolini, Franco, em tempos modernos.

Convido o leitor agora a rememorar o que ocorre em uma matilha de lobos e outros animais. Um deles consegue a dominância e torna-se o “macho alfa” e os demais obedecem (lembrem-se do Coronel-Ministro da Saúde, segundo o qual “uns mandam outros obedecem”). O mesmo ocorre entre vários antropoides (macacos). Espécies que adotam esse tipo de governança são inúmeras entre mamíferos. Mas algumas, como o jaguar, o elefante (neste caso, por vezes uma fêmea assume a liderança de jovens (não é, pois, uma ditadura). Ora, se a ditadura é boa para macacos e lobos, por que não seria para homo sapiens?

A ditadura pode, pois, ser considerada como um governo em que prevalece o homem primitivo, o “pitecantropus erectus” sobre o “homo sapiens”. Mas, como é que se pode explicar o fato de uma Alemanha “civilizada”, uma Itália tão rica em artes e cultura, tenham aderido ao nazismo e ao fascismo?

A única explicação que me ocorre e que há um resíduo biológico, instintivo, de pitecantropus erectus no homo sapiens. (Que me perdoem os antropólogos da Escola de Boas, do culturalismo).

Isto é, por vezes a maioria de uma tribo, seja de macacos seja de homens, se deixa levar pela atração da solução fácil: em uma ditadura o macho alfa toma as decisões e com isso espreguiçam os demais. Aquele que adere à solução macho alfa, como é o caso dos bolsonaristas, é, apesar da bravata fanfarroneira, é um vassalo por natureza. Podemos até desconfiar que, como os lobos sub alfa, falta-lhe coragem, pois decidir sobre qualquer assunto exige uma atitude de escolha, e escolher é quase sinônimo de destemor.

Chegamos assim à triste conclusão de que nós brasileiros passamos por um período de retrocesso cultural, de covardia frente à vida e por isso recorremos, tantos brasileiros, à mesma opção intelectual que levou tantos outros povos ao fascismo e à ruína.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

12