(Foto: REUTERS)
Mundo caminha inexoravelmente para a multipolaridade e para uma ordem mundial renovada, mais receptiva ao Sul Global e mais empenhada no combate às assimetrias
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A reunião da Assembleia-Geral da ONU deverá expor as grandes fraturas numa ordem mundial arcaica e obsoleta, a qual não reflete mais o mundo hodierno.
EUA e aliados prepararam um grande show diplomático e midiático para que Zelensky exponha a agenda de uma guerra de longo prazo contra a Rússia, com o intuito de derrota-la militarmente, provocar um câmbio de regime e, talvez, até mesmo fragmentá-la geograficamente.
A pressão para que os países do chamado Sul Global embarquem nessa agenda geopolítica belicosa e perigosa continuará. Os holofotes midiáticos estão postos nisso.
A maior parte dos países do mundo, contudo, não quer nem ouvir falar dessa agenda.
Embora o conflito tenha “unido o Ocidente”, ele, na realidade, dividiu o planeta.
Como bem disse o presidente francês, Emmanuel Macron, na Conferência de Segurança de Munique, em fevereiro: “Estou impressionado com a forma como perdemos a confiança do Sul Global”.
Perderam, mesmo.
Segundo David Miliband, que escreveu artigo sobre o tema na Foreign Affairs, a convicção ocidental sobre a guerra e a sua importância é igualada, em outras regiões, pelo cepticismo, na melhor das hipóteses, e pelo desdém absoluto, na pior.
Os países em desenvolvimento não têm o menor interesse em participar, direta ou indiretamente, de um conflito que só piora seus problemas internos e coloca em segundo plano a construção de uma agenda mundial destinada a solucionar questões realmente relevantes, como fome, pobreza, combate às desigualdades, dívidas externas, baixo crescimento, transição energética, mudanças climáticas, reforma das instituições multilaterais etc.
Mas a perda de confiança do Sul Global em relação ao Ocidente, referida por Macron, não se resume apenas ao conflito na Ucrânia, embora tenha sido por ele aguçada.
A questão de fundo tange a uma insatisfação generalizada com os rumos da ordem mundial liderada pelo Ocidente.
A África, por exemplo, está atolada em dívidas impagáveis. São mais de US$ 800 bilhões em dívidas, muitas delas com as condicionalidades draconianas do FMI. O problema não é com a China, como dizem alguns. É com o Ocidente, com as antigas metrópoles.
O golpe no Níger é um sintoma dessa insatisfação e da revolta relativa aos resquícios do sistema colonial.
Por isso, a nova política externa do Brasil conduzida por Lula, um autêntico e importante líder global, está empenhada em colocar o centro da agenda internacional em temas concretos de real interesse da maioria dos países. Não na guerra.
No G20, a presidência do Brasil terá como grandes prioridades:
1. Inclusão social e a luta contra a desigualdade, a fome e a pobreza.
2. O enfrentamento às mudanças climáticas e a promoção de desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental.
3. Reforma das instituições de governança global, que reflita a geopolítica presente.
No G77, Lula destacou também a necessidade de cooperação em ciência e tecnologia, estratégica para o desenvolvimento e para a geração de empregos de qualidade.
É isso que interessa ao mundo.
O chamado Ocidente e o presidente Zelensky poderão fazer seu proselitismo geopolítico na ONU, com o apoio lamentável da grande mídia. Poderão tentar constranger o Brasil e muitos outros países. Poderão tentar ofuscá-los com os holofotes da guerra.
No entanto, o que prevalecerá, ao final, serão os justos anseios da maior parte da população do planeta.
O mundo caminha inexoravelmente para a multipolaridade e para uma ordem mundial renovada, mais receptiva ao Sul Global e mais empenhada no combate às assimetrias.
Lula e o Brasil estão no rumo correto. Os holofotes da guerra se apagarão.
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