
Fontes: Desejo de escrever
Por acaso, coincidiram dois acontecimentos que merecem ser comentados. A primeira, o anúncio de que apenas os cinco maiores bancos espanhóis faturaram 26.088,1 milhões de euros em 2023, mais 25,96% que no ano anterior. A segunda, a publicação de um novo livro do economista Gerald Epstein sobre o papel dos bancos nas economias contemporâneas.
Epstein é professor de Economia na Universidade de Massachusetts Amhers e este livro é o resultado, como ele mesmo comentou, de várias décadas de investigação. Neste trabalho demonstra, com uma infinidade de dados e documentos, que existe o que chama de um autêntico “Clube dos Banqueiros” composto por políticos, funcionários, diretores executivos de empresas não financeiras, líderes de bancos centrais, advogados e economistas que unem forças para defender os interesses dos bancos privados e fazer com que as leis os favoreçam.
Graças a isto, foi possível impor uma liberdade de ação geral que permite aos bancos ignorar a economia real para se dedicarem à especulação financeira, realizando investimentos muito lucrativos, mas extremamente arriscados. Assim obteve cada vez mais lucros e poder, embora ao mesmo tempo tenha produzido a maior intensidade de crises financeiras na história da humanidade.
Prova disso é que não mais de 15% da atividade financeira global se destina a financiar o que as empresas e os consumidores fazem para criar bens e serviços ou consumi-los. O resto, pura especulação improdutiva.
E não só isso, é cada vez mais evidente que os bancos do nosso tempo são a fonte do dinheiro sujo utilizado pelos criminosos que cometem os mais aberrantes crimes internacionais e apoiam o crime organizado, e que são os próprios bancos que corrompem e financiam a corrupção da vida social e econômica, tendo sido condenados por isso em dezenas de ocasiões, apesar da influência direta que, em todos os países, têm na administração da justiça. Basta consultar qualquer mecanismo de busca da internet para encontrar uma infinidade de notícias, estudos e reportagens sobre o assunto e conferir.
Os mais de 26 mil milhões de euros de lucros dos bancos espanhóis são mais uma manifestação da degeneração do atual sistema financeiro. Não são o resultado de uma atividade que ajuda as empresas e cria riqueza. São, na realidade, uma verdadeira realeza, fruto de um privilégio. Aquela concedida pelo Banco Central Europeu aos bancos quando estes executam uma política monetária que só serve para aumentar os seus lucros. Permite-lhes transmitir os aumentos das taxas de crédito sem aumentar muito a remuneração dos depósitos que recebem, ao mesmo tempo que lhes paga mais pelos que os bancos fazem no banco central. O que, além disso, gera perdas nos bancos centrais que os governos, ou seja, toda a cidadania, terão de pagar.
Os lucros que os bancos espanhóis têm obtido só podem ser descritos como obscenos e insultuosos, não só pelo seu montante exagerado, quando as empresas e as famílias enfrentam tantas dificuldades para progredir; mas também por causa dessa origem mencionada e porque mostram que a banca atual, como salienta Epstein no seu livro, perdeu a sua função tradicional, a de gerir poupanças e financiar aqueles que precisam de recursos para criar riqueza e satisfazer necessidades.
O negócio bancário de hoje não ajuda o funcionamento da economia. Pelo contrário, é um obstáculo, é corrupto, provoca crises pelas quais os cidadãos pagam, e os enormes lucros que obtêm dão aos banqueiros um poder político e mediático que destrói as democracias, porque a sua liberdade de ganhar dinheiro sem descanso, sem limites e sem consideração é, por definição, incompatível com o resto do povo.
Se vivêssemos num mundo decente, tudo isto não poderia acontecer. A atividade bancária seria considerada um serviço público essencial para a economia e os bancos seriam obrigados a fornecer recursos a empresas e famílias solventes, sem poder causar escassez artificial. Haveria um banco público para cuidar do financiamento que não é necessariamente rentável mas essencial, e o banco privado teria que se submeter a esse princípio, ser transparente e responsável; exatamente o mesmo que os bancos centrais que não podem continuar a ser meros instrumentos ao serviço do interesse privado.
O que está por trás do lucro vergonhoso da banca é apenas a ganância e o que ela esconde é perfeitamente revelado pelo conhecimento popular: na arca do avarento, o diabo está dentro.
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