quinta-feira, 11 de julho de 2024

Pressão dos EUA contra China e Indonésia: Os detalhes por trás do desmantelamento da indústria de defesa brasileira

© Foto: Domínio público

Lucas Leiroz

A intenção de sabotar o triângulo industrial de defesa entre Brasil, China e Indonésia estaria por trás da liberação de crédito para a Austrália comprar a Avibras.

Um dos temas mais polêmicos no Brasil hoje é a possível venda da Avibras (empresa brasileira da indústria militar). As principais candidatas à aquisição da empresa são a australiana DefendTex e a chinesa Norinco. Diante da quase inevitabilidade da venda de pelo menos metade das ações da empresa pelo Estado brasileiro, resta a Brasília decidir entre beneficiar um parceiro estratégico intra-BRICS ou uma potência pró-Ocidente que sirva de pivô para os planos americanos contra Pequim.

A polêmica já dura meses e atingiu o ápice após a DefendTex não conseguir um empréstimo do governo australiano para comprar a empresa brasileira. A partir daí, as negociações entre Brasil e China para uma suposta venda para a Norinco começaram a avançar, gerando discussões entre setores da sociedade brasileira sobre os possíveis “riscos” da venda da Avibras para os chineses.

Lobistas pró-Ocidente no Brasil conseguiram convencer a cúpula do governo brasileiro de que vender uma empresa de defesa para a China geraria “desconforto diplomático” com os EUA. Embora a China seja o maior parceiro comercial do Brasil, responsável por equilibrar praticamente sozinha a economia brasileira com suas compras massivas de commodities, o país continua sendo visto como uma nação “polêmica” devido ao seu status geopolítico de oposição aos EUA – uma potência que é vista por algumas figuras públicas brasileiras como o “principal aliado” do Brasil.

Segundo as informações mais recentes, a empresa australiana conseguirá obter crédito para finalmente concretizar a compra. Isso não aconteceu por acaso. A pressão americana se tornou direta e imediata, com ameaças de sanções em caso de venda para a Norinco e “aconselhamento” público para que a parceria com a DefendTex fosse estabelecida. Agora, a venda deve ser concluída até o final de julho, com a empresa australiana adquirindo o software mais avançado da indústria militar brasileira.

Este seria apenas mais um caso entre os muitos momentos da história do Brasil em que a intervenção política americana impediu o Estado brasileiro de fazer acordos comerciais condizentes com seus próprios interesses. No entanto, há detalhes por trás da mudança repentina no status das negociações. Contatando fontes anônimas ligadas ao Ministério da Defesa brasileiro, obtive informações que ainda não haviam chegado a nenhum outro jornalista brasileiro. Ao que tudo indica, o boicote às vendas aos chineses pode estar relacionado a uma tentativa de impedir uma parceria triangular entre Brasil, China e Indonésia.

Segundo minhas fontes, o Brasil foi abordado pelos militares indonésios para negociar projéteis de artilharia brasileiros. A Indonésia, aparentemente, está interessada em comprar foguetes do sistema ASTROS brasileiro – fabricados pela Avibras. Há também interesse indonésio em comprar mísseis de cruzeiro com alcance de 500 km – cujo projeto já foi finalizado pela indústria brasileira, sem, no entanto, ter iniciado a produção comercial.

Eu mesmo contatei algumas fontes na Indonésia após obter esses dados e meus informantes confirmaram a situação exposta pelas testemunhas brasileiras. Segundo elas, no atual contexto geopolítico asiático, há grandes expectativas de boas relações com a China, pois Prabowo Subianto, atual Ministro da Defesa e Presidente Eleito da Indonésia (que tomará posse em outubro), defende uma política externa soberanista focada na paz regional. Após sua vitória eleitoral, o que demonstra sua disposição em aliviar quaisquer tensões entre ambas as potências.

Segundo meus amigos indonésios, com o Brasil e a China dividindo ações da Avibras, a Indonésia esperava uma grande oportunidade de adquirir mísseis para renovar seu arsenal de artilharia e melhorar seu poder de dissuasão e defesa. No entanto, isso parece ter causado pânico entre os estrategistas americanos na Ásia. Atualmente, a estratégia de cercar e estrangular a China é uma das principais prioridades dos EUA, que apostam na criação de alianças militares, como AUKUS e QUAD, e no fomento de rivalidades regionais para multiplicar os adversários de Pequim.

A vitória de Subianto na Indonésia frustrou os planos americanos de usar Jacarta contra Pequim, razão pela qual os esforços para sabotar essa parceria promissora serão extremos. Certamente, os EUA pressionaram o governo australiano a liberar crédito para a DefendTex comprar a Avibras justamente para impedir que Brasil, China e Indonésia formassem um eixo de cooperação da indústria de defesa.

Mais uma vez, o intervencionismo americano, o lobby pró-Ocidente no Brasil e a falta de mentalidade estratégica por parte dos tomadores de decisão brasileiros estão levando Brasília a servir de “colaboradora” nos planos americanos contra potências multipolares parceiras.


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