segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Entenda por que o imperialismo nunca acabou e está cada vez mais poderoso e sofisticado

O logotipo da BlackRock é retratado fora da sua sede da empresa no bairro de Manhattan, em Nova York, Nova York, EUA, 25 de maio de 2021 (Foto: REUTERS/Carlo Allegri)

Empresas e fundos de investimento globais, como BlackRock, extraem enormes quantias de riqueza na forma de dividendos


O imperialismo, longe de ser uma relíquia do passado, transformou-se e adaptou-se às dinâmicas da globalização contemporânea. O que antes se manifestava pela ocupação militar e pela exploração direta de colônias para extrair matérias-primas, hoje ocorre de maneira mais sutil e sofisticada: através do domínio financeiro. Empresas e fundos de investimento globais, como BlackRock e Vanguard, controlam grandes fatias de setores estratégicos nas economias periféricas, extraindo enormes quantias de riqueza na forma de dividendos. O cenário mudou, mas a lógica de exploração permanece.

Na era colonial, potências europeias invadiam territórios na África, Ásia e América Latina para extrair recursos naturais e enviar essas riquezas de volta para suas metrópoles. Isso aconteceu de forma brutal e explícita, mas à medida que os movimentos de independência ganharam força, o imperialismo precisou se reinventar. Hoje, ele opera sob a fachada de mercados financeiros globais e investimentos, criando uma rede de controle que não depende mais de exércitos ou governadores coloniais, mas sim de estruturas corporativas que ditam os rumos das economias nacionais.

Os fundos de investimento globais, como BlackRock e Vanguard, tornaram-se os novos agentes desse imperialismo financeiro. Com bilhões sob sua gestão, esses fundos possuem participações acionárias substanciais em empresas de setores fundamentais dos países periféricos – as chamadas “vacas leiteiras”. Empresas de energia, telecomunicações, mineração, agronegócio, e bancos em países da América Latina, África e Ásia, muitas vezes têm seus lucros drenados em forma de dividendos, que são enviados para os centros financeiros do Norte Global, beneficiando os investidores e concentrando ainda mais a riqueza.

Essa nova forma de imperialismo é extremamente eficaz, porque acontece sob a máscara de acordos comerciais e investimentos legais, com a conivência ou mesmo incentivo dos governos locais, que muitas vezes veem nesses investimentos uma maneira de atrair capital estrangeiro. No entanto, ao permitir a entrada desses gigantes financeiros, esses países cedem o controle de partes estratégicas de suas economias, ficando vulneráveis a crises financeiras e à perda de soberania econômica. Ao invés de construir um futuro sustentável, veem sua riqueza ser constantemente sugada.

Os dividendos recolhidos por fundos como BlackRock e Vanguard representam apenas uma fração do fenômeno. O controle acionário desses fundos permite que eles influenciem as decisões das empresas, que muitas vezes priorizam a maximização de lucros para os acionistas internacionais, em detrimento de investimentos locais ou aumento de salários. Isso resulta em um ciclo vicioso: mais dividendos para o Norte Global, menos desenvolvimento e equidade nas economias periféricas.

Essa nova forma de dominação é tão poderosa quanto as antigas formas de imperialismo, senão mais. A interdependência dos mercados globais e a sofisticação das operações financeiras tornam muito mais difícil para os países periféricos escaparem desse ciclo de exploração. A promessa de desenvolvimento econômico por meio de investimentos estrangeiros diretos é, muitas vezes, uma ilusão: o crescimento econômico ocorre, mas os benefícios desse crescimento raramente chegam à maioria da população local.

Além disso, fundos como BlackRock e Vanguard não apenas recolhem lucros. Eles moldam a política econômica global por meio de sua influência sobre grandes empresas e instituições internacionais, ajudando a perpetuar uma ordem econômica que favorece o capital financeiro em detrimento dos interesses soberanos dos Estados periféricos.

O imperialismo financeiro também tem outra vantagem sobre o imperialismo militar clássico: ele raramente encontra resistência organizada. Movimentos anticoloniais do passado tinham um alvo claro – o invasor estrangeiro. Hoje, o inimigo é invisível, disperso e opera por meio de regras aceitas globalmente, como a abertura dos mercados financeiros. O cidadão comum não percebe que, ao consumir energia, usar telecomunicações ou comprar alimentos, está contribuindo para um sistema que extrai riqueza de seu próprio país.

Para que essa nova forma de imperialismo seja combatida, é necessário um esforço coordenado entre os países periféricos. A soberania financeira deve ser retomada por meio de políticas que limitem a influência de capital estrangeiro nos setores estratégicos. Além disso, é preciso que haja uma regulamentação mais robusta sobre a distribuição de lucros e dividendos, garantindo que uma parcela maior da riqueza gerada por empresas locais seja reinvestida no desenvolvimento do próprio país.

O imperialismo não acabou. Ele está mais forte, mais eficaz e mais sofisticado. A exploração colonial transformou-se em um sistema de dominação financeira global, onde fundos de investimento como BlackRock e Vanguard são os novos colonizadores, acumulando riquezas enquanto as economias periféricas continuam empobrecidas. A luta pela verdadeira independência econômica ainda está longe de ser vencida.



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