quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Lula e Javier Milei na assembleia geral da ONU

Imagem: Sam Jotham Sutharson

Por JIANG SHIXUE*

Esperemos que o presidente Javier Milei não lata para a árvore errada, e opte por apoiar em certo grau os esforços da ONU

1.

A Cúpula do Futuro foi aberta na sede das Nações Unidas em Nova York em 22 de setembro. Adotou o Pacto para o Futuro e seus dois anexos, ou seja, o Pacto Digital Global e a Declaração sobre as Gerações Futuras. Esses documentos são o plano diretor da ONU para enfrentar os desafios que estão por vir para a humanidade, com 56 ações cobrindo uma ampla gama de temas, incluindo paz e segurança, desenvolvimento sustentável, mudança climática, cooperação digital, direitos humanos, gênero, juventude e gerações futuras, a transformação da governança global, etc.

Eles destacam os “desafios cada vez mais complexos” para a segurança tradicional e a segurança não tradicional. Por conseguinte, a maioria dos países manifestou atitudes positivas em relação ao êxito da adoção do Pacto.

O Brasil apoia a adoção do Pacto, embora o presidente Lula tenha dito em seu discurso na Assembleia Geral da ONU que a difícil aprovação do documento demonstra o enfraquecimento de nossa capacidade coletiva de negociação e diálogo. Ele também disse que o alcance limitado do Pacto é uma expressão do paradoxo do nosso tempo: “Nós nos movemos em círculos entre compromissos factíveis que levam a resultados insuficientes”.

Em contraste com o apoio entusiástico do presidente Lula às Nações Unidas, o presidente argentino Javier Milei expressou uma atitude negativa em relação à organização global, ao Pacto e à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável em seu discurso na Assembleia Geral da ONU. Ele disse: “Não venho aqui para dizer ao mundo o que fazer; venho aqui para dizer ao mundo, por um lado, o que acontecerá se as Nações Unidas continuarem a promover políticas coletivistas, que vêm promovendo sob o mandato da agenda 2030, e, por outro, quais são os valores que a nova Argentina defende”.

O presidente Javier Milei também disse: “Uma organização que havia sido pensada essencialmente como um escudo para proteger o reino dos homens foi transformada em um Leviatã com vários tentáculos, que visa decidir não apenas o que cada Estado-nação deve fazer, mas também como todos os cidadãos do mundo devem viver”.

O presidente Javier Milei expressou sua discordância com o “Pacto do Futuro” porque considera que ele representa ideias “socialistas” e propôs uma nova “agenda de liberdade”. Ele definiu a ONU como “uma organização que, em vez de enfrentar esses conflitos, investe tempo e esforço para impor aos países pobres o que e como eles devem produzir, com quem devem se vincular, o que devem comer e no que devem acreditar, como o atual Pacto do Futuro pretende ditar”.

2.

No entanto, o presidente Javier Milei se equivoca ao optar por criticar o Pacto e a Agenda 2030.

Em primeiro lugar, o Pacto representa o compromisso da ONU não apenas de enfrentar crises imediatas, mas também de lançar as bases para uma ordem global sustentável, justa e pacífica, para todos os povos e nações. Sem dúvida, os compromissos incorporados no Pacto refletem a vontade coletiva dos Estados membros da ONU de promover a paz e o desenvolvimento mundiais, que são urgentemente necessários para a humanidade.

Em segundo lugar, o Pacto promete acelerar os esforços para alcançar a Agenda 2030, que visa a erradicação da pobreza extrema até 2030, uma intensificação da luta contra a fome, a promoção da igualdade de gênero e a educação. É por isso que ganhou grande aclamação da comunidade internacional.

Em terceiro lugar, os desafios do século XXI exigem soluções do século XXI, e uma das melhores soluções do século XXI é fortalecer a ação global de uma maneira totalmente integrada. As experiências passadas provaram a incapacidade de qualquer país responder eficazmente aos desafios políticos, económicos, ambientais e tecnológicos de hoje. Somente ações globais baseadas na força coletiva podem funcionar.

Por último, mas não menos importante, a Argentina também pode se beneficiar da implementação do Pacto, porque também enfrenta muitos problemas que o Pacto se esforçará para resolver. Portanto, esperemos que o presidente Javier Milei não lata para a árvore errada, e opte por apoiar em certo grau os esforços da ONU.

*Jiang Shixue é professor de relações internacionais na Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan (China).


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