sábado, 22 de fevereiro de 2025

Dia Mundial Contra Bases Militares Estrangeiras

Fontes: Rebelião

O mundo está repleto de bases militares, aproximadamente 900 bases militares, localizadas em 96 países. A maioria delas é dos Estados Unidos e de países da OTAN.


No âmbito do Dia Mundial de Ação contra as Bases Militares Estrangeiras, realizou-se esta quinta-feira, 20 de fevereiro, o Fórum Internacional “Territórios de Paz, Bases Militares Estrangeiras e Militarismo Global”.

Gabriel Aguirre, organizador da América Latina de Um Mundo Além da Guerra, compartilhou sua análise no fórum; Ángeles Diez, da Frente Internacionalista Anti-Imperialista e da Rede de Intelectuais, Artistas e Movimentos Sociais em Defesa da Humanidade na Espanha; Mahfud Bechri da Campanha Internacional contra o Muro da Ocupação Marroquina no Saara Ocidental; Basilio Gutiérrez, embaixador cubano no Equador; Luis Ángel Saavedra, da Coalizão contra a Intervenção e Base Militar dos EUA em Galápagos, no Equador; e Carlos Padilla Roiz, da organização Los Necios de Honduras.

Gabriel Aguirre destacou que esta atividade faz parte do Dia Mundial de Luta Contra as Bases Militares Estrangeiras "porque 23 de fevereiro é a data em que foi assinado um tratado ilegal no qual os Estados Unidos conseguiram tomar posse de Guantánamo de forma ilegítima, de forma ilegal e, claro, contrariando todos os princípios de respeito ao direito internacional e à soberania dos povos sobre seus territórios".

Aguirre disse que o mundo está infestado de bases militares, aproximadamente 900 bases militares, localizadas em 96 países. A maioria é dos Estados Unidos e de países da OTAN.

"Como justificar a presença de bases militares no mundo hoje? Eles apoiam a presença e o direito que se dão de estabelecer bases militares em todo o mundo e o primeiro elemento que devemos mencionar, claro, é a chamada Doutrina Monroe, definida em 1823, desenhada por James Monroe, o quinto presidente dos Estados Unidos, onde, principalmente, fala sobre qual será a orientação da política externa dos Estados Unidos com base em um princípio fundamental de reivindicar 35 dos 28 territórios das repúblicas nascentes que estavam se tornando independentes das colônias europeias. Sob este princípio de "América para os americanos", vale mencionar que o libertador Simón Bolívar disse que "os Estados Unidos parecem estar destinados, pela Providência, a atormentar a América com miséria em nome da liberdade".

«Um segundo elemento, que também sustenta tudo isso, tem a ver com a tese do "destino manifesto", onde John Sullivan, em 1845, diz que "outras nações empreenderam uma interferência hostil contra nós com o objetivo de frustrar nossa política e dificultar nosso poder, limitar nossa grandeza e retardar o cumprimento de nosso destino manifesto de nos espalhar por todo o continente designado, pela providência, para o livre desenvolvimento de nossos milhões que se multiplicam anualmente". Ou seja, para quem tem uma interpretação rápida disso, não se trata de nada mais que o povo anglo-saxão destinado pela Providência, pela divindade, a tomar o controle do mundo inteiro. "Acho que é um discurso muito parecido com o usado hoje pelo Estado sionista de Israel, justamente para justificar sua intervenção contra o povo palestino", diz Gabriel Aguirre.

O embaixador cubano no Equador, Basilio Gutiérrez, lembrou que "a República de Cuba, que nasceu em maio de 1902, foi uma república, como dizemos nós, cubanos, mediada porque deixamos de ser uma colônia da Espanha para nos tornarmos uma semicolônia dos Estados Unidos e isso foi consequência da imposição, pela força, da Emenda Platt que dava aos Estados Unidos o direito de intervir nos assuntos internos de Cuba, inclusive pela força, sempre que vissem em perigo seus interesses na ilha. Por outro lado, concedeu-lhe o direito de assinar um acordo para bases navais e de carvão e estabelecê-las na ilha. Como resultado desse acordo imposto, a base naval de Guantánamo foi estabelecida em fevereiro de 1903, e lá permanece até hoje, contra a vontade do povo cubano.

«Hoje, 117 quilômetros quadrados do território nacional cubano estão ocupados pela base militar dos Estados Unidos, a mais antiga do mundo, contra a vontade, contra a aceitação do povo e do governo de Cuba e desde que a revolução triunfou em 1º de janeiro de 1959, Cuba, em todos os cenários, deu e continua dando a batalha para que seja devolvida ao nosso país. "É parte do nosso território, que nos foi tirado à força e que inclusive foi usado de forma degradante para trazer supostos terroristas do mundo todo e agora trazer para lá e construir uma prisão de imigrantes que o governo Trump diz ser uma ameaça aos Estados Unidos e eles fazem isso violando os direitos humanos, algo que ficou provado como os direitos humanos são violados lá, na base naval de Guantánamo, como torturas terríveis foram aplicadas contra as pessoas que estão lá", disse o embaixador cubano.

Por sua vez, Carlos Padilla Roiz, da organização Los Necios, em Honduras, destacou que o intervencionismo norte-americano "também se manifesta em nível ideológico e simbólico e tem sido realizado por meio do financiamento de ONGs, por meio da USAID, como no escândalo que recentemente se tornou conhecido mundialmente, mas também se sabe que desde a década de 1980, por meio de igrejas protestantes, ONGs e supostas cooperações cívico-militares que deram ao exército nacional uma imagem mais favorável aos olhos da população, foram introduzidos esses processos de dominação cultural".

«Os Estados Unidos também apoiaram ditaduras militares durante muitas décadas e isso também levou o exército nacional a se comportar praticamente como uma extensão do exército norte-americano através do aconselhamento técnico do que já conhecemos da Escola das Américas, que vem introduzindo seus critérios e visão no corpo das forças armadas», diz Padilla, que lembrou que o presidente Manuel Zelaya foi expulso da Base Militar dos EUA em Soto Cano no golpe de Estado em Honduras em 2009. A presidente Xiomara Castro «se manifestou a favor de rever a relação com os EUA no âmbito da expulsão de nossos migrantes, o que mostra que não há relação soberana ou que não há relação, melhor dizendo, equitativa entre o governo dos Estados Unidos e nosso governo».

O fórum foi organizado pelo Instituto Cubano de Amizade com os Povos; o Coordenador Equatoriano do Movimento de Amizade e Solidariedade com Cuba; Associação Equatoriana de Amizade com o Povo Saarauí; Centro de Documentação de Direitos Humanos Segundo Montes Mozo; a Fraternidade Ecumênica Equatoriana; e Um Mundo Além da Guerra.

O Dia Internacional de Ação Contra Bases Militares Estrangeiras, em 23 de fevereiro, foi convocado pelo International Peace Bureau (IPB), No to War – No to NATO, Pace e Bene, RootsAction, Veterans for Peace, War Industry Resisters Network, War Resisters' International e World Beyond War.

O Fórum Virtual Internacional “Territórios de Paz e Bases Militares Estrangeiras” está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oe6g9oxjWmk

Pablo Ruiz faz parte do Observatório para o Fechamento da Escola das Américas e é editor da revista O Direito de Viver em Paz.



 

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