sábado, 8 de março de 2025

O teto da igreja caiu


Nonato Menezes

No dia 5 de fevereiro de 2025 (+,) o teto da igreja São Francisco de Assis, em Salvador, caiu. Morreu uma turista de São Paulo e outros cinco ficaram feridos. Quem se responsabilizou pela tragédia? Que Instituição assumiu a indenização à família da vítima e demais despesas com quem teve danos físicos e materiais?

A Igreja São Francisco de Assis é uma joia do Barroco brasileiro. Erguida nos Séculos XVII e XVIII, é um patrimônio arquitetônico e histórico precioso da capital baiana.

Quem visita a igreja não se depara apenas com sua beleza decorativa, se sente, também, diante de um cenário revelador do nosso período escravocrata. A suntuosidade do seu interior contrasta com os seus arredores, onde estão as marcas da crueldade dispensada aos construtores daquele monumento, mas ela, a suntuosidade, enriquece nosso legado e nossa História.

O Pelourinho é esplêndido em revelar um tempo de chicotadas, suor, dor e sangue. Se a História nos servisse de lição, aquele ambiente seria um altar para reflexão e aprendizado. De inegável valor histórico, o Pelourinho tem sido objeto constante da arte, da música e da poesia, que expõe um universo glamoroso, muitas vezes (-,) intencionalmente ou não, passando a sensação de apagamento dos fardos pesados da História.

Mas quem ou qual instituição se responsabilizou ou assumirá as responsabilidades pela tragédia? O IPHAN, que assumiu o tombamento? A igreja, proprietária do monumento? A prefeitura de Salvador, direta ou indiretamente responsável por todos os espaços frequentados por turistas locais, do Brasil e do exterior? De antemão posso afirmar que olhando o andar da carruagem da administração no país, tanto pública quanto privada, a novela vai durar, tendo grandes probabilidades de não darem em nada. Vejamos como exemplos os casos dos funestos desabamentos que ocorrem no Brasil inteiro, como é o caso do rompimento da barragem em Mariana, as enchentes no Rio Grande do Sul, os desabamentos em São Sebastião no litoral paulista e a ponte da divisa do Maranhão com Tocantins que caiu. O que foi feito até hoje é quase nada. As famílias atingidas foram largadas à própria sorte e continuam tentando reconstruírem suas vidas por esforço próprio. Os prefeitos e os governadores continuam propagandeando seus planejamentos de reconstrução e suas intenções humanitárias que causariam inveja até a um bom samaritano. Mas é só isto.

O IPHAN se pronunciou sobre o tombamento e, na voz de seu presidente, ficou dito que havia um documento anunciando uma vistoria que, por azar das vítimas, marcada para um ou dois dias depois da tragédia.

Um representante da Igreja alegou não ser técnico para avaliar qualquer risco de desabamento do teto ou de qualquer outra parte do prédio, ainda que o desgaste externo da estrutura esteja visível e pelas características atuais do prédio a falta de manutenção (-,) aparenta ser de algumas décadas, no mínimo. Por pouco o frei não nos confortou com o argumento comum entre os religiosos que aquela tragédia teria sido uma fatalidade, mas que o céu é a recompensa do sofrimento e da perda.

Mesmo assim ficamos com a seguinte mensagem: se estivermos com um teto sobre nossas cabeças, ainda que haja evidências fortes de desmoronamento (+,) não devemos nos preocupar, porque nos falta conhecimento técnico em engenharia, arquitetura ou área assemelhada.

A prefeitura de Salvador, a responsável direta e indireta pela segurança da população e de todos os turistas que visitam a cidade, ficou em silêncio, num claro recado de quem só tem a dizer: “não tenho nada com isso”.

Até agora, mais de um mês depois do ocorrido, nenhum representante institucional disse ao público, esta causa é nossa! Indício forte que assegura continuidade da desatenção a esse desastre em Salvador e a muitos Brasil afora.

Das falas e do silêncio que anuviaram o acontecimento, continua a sensação que há muito nos acomete; da ausência de coragem dos nossos gestores públicos para assumirem o que provoca ou pode provocar danos às pessoas. Isso mostra sua incessante busca de esconderijos para fugirem às suas responsabilidades.




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