domingo, 11 de fevereiro de 2018

O Brasil dos Moros a correr atrás de sua própria cauda num mundo em veloz transformação

Lula Marques/Agência PT


Somos muito paroquiais. Enquanto uma tempestade sem precedentes históricos se faz anunciar sobre a humanidade, o Brasil se esgarça ao assistir um juizinho de província determinando, no melhor estilo dos anos de chumbo do século passado, a prisão clandestina do irmão daquele que a direita falso moralista elegeu como seu inimigo público número um, José Dirceu.

O tal Sérgio Moro de sempre não esperou e, mal adveio a confirmação do encerramento da segunda instância, fez prender Luiz Eduardo Silva, sem qualquer aviso prévio a sua defesa. Tomou conspirativamente todas as medidas para que seu teatro de exposição do imputado se desenrolasse sem quaisquer contratempos a lhe tisnarem sua lúgubre estética. De baraço e pregão pelas ruas da vila, foi exibido perante toda a mídia o troféu do juiz populista.

O carnaval do golpe

   Obra de Rodolpho Chamberland

O carnaval do golpe

por Gustavo Conde

É carnaval. E eu pergunto: e daí? É curioso como o contexto político muda tudo a sua volta. Muda as instituições, muda a rotina diária, muda a despesa doméstica, muda os ânimos, muda as expectativas e muda o sentido das festas populares. O contexto político muda o sentido das palavras, dos enunciados, dos discursos.

A ciência linguística já havia definido isso nos idos dos anos 50: o sentido não está na palavra nem no dicionário nem na gramática. O sentido está no sujeito e na história. O sentido de uma festa popular, portanto, também não é estático. É dinâmico.

Por que hoje a revolução não é possível?


Para decifrar a alta estabilidade do sistema de dominação liberal é preciso entender como os atuais mecanismos de poder funcionam. O comunismo como mercadoria é o fim da revolução

Quando debati com Antonio Negri, um ano atrás, no Berliner Schaubühne, ocorreu um embate entre duas críticas do capitalismo. Negri estava entusiasmado com a ideia da resistência global ao império, ao sistema de dominação neoliberal. Ele se apresentou como revolucionário comunista e se autodenominava professor cético. Clamava com ênfase à multidão, à massa interconectada de protesto e revolução, a quem confiava a tarefa de derrotar o império. A posição do comunista revolucionário me pareceu muito ingênua e fora da realidade. Por isso tentei explicar para Negri por que as revoluções já não são mais possíveis.

O filósofo coreano que ataca as redes e se tornou viral

Byung Chul-Han em Barcelona.
    Byung Chul-Han em Barcelona.  (EL PAÍS)


Entenda os motivos do sucesso de Byung Chul-Han, um dos maiores críticos do uso da Internet e da sociedade contemporânea

Fala da alienação e dominação, do inferno do igual, da sociedade do cansaço e da exploração a que nos submetemos. É um filósofo de origem sul-coreana que fez sua carreira na Alemanha e em alemão, inspirado na obra de alguns dos mais célebres – e mais difíceis – pensadores desse país, de Hegel a Martin Heidegger. Tem um livro, inclusive, chamado No Enxame: reflexões sobre o digital, que é uma crítica demolidora do papel das redes sociais na sociedade atual. Não parecem argumentos para o sucesso viral e, entretanto, a matéria sobre o pensamento de Byung Chul-Han publicada na quarta-feira pelo EL PAÍS teve mais de meio milhão de usuários únicos nos dois primeiros dias e foi o conteúdo mais visto do site durante mais de 30 horas. A versão em português também se transformou na matéria mais lida do jornal em toda a América Latina. Conversamos com outros filósofos e escritores para falar dos motivos do sucesso do pensamento de um autor cujas principais obras – A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência e a Agonia do Eros – estão traduzidas ao português.

Opinião: igrejas neopentecostais ameaçam democracia na América Latina

José Ospina-Valencia

O poder crescente de seitas evangélicas e partidos políticos "moralizadores" estão colocando as democracias da região à prova. Um país onde se fundam mais facções religiosas que escolas, como a Colômbia, pode avançar?

O bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, de joelhos

A luta das igrejas neopentecostais na América Latina é uma luta pelos pobres: por sua consciência, por suas carteiras e por seus votos. Seu êxito se deve também ao fracasso da Igreja católica em atender às necessidades de milhões que buscam apoio num mundo cada vez mais frustrante e sem aparente futuro. E a história de abusos sexuais do dogma católico deixou, além disso, um rastro de repúdio em vários países e contribuiu para a erosão de um poder passado.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

O suicídio da elite


O suicídio da elite

por Jorge Rubem Folena

Considero que os primeiros grandes intérpretes do patrimonialismo brasileiro são os juristas Vitor Nunes Leal (em sua obra Coronelismo, voto e enxada: o munícipio e o regime representativo no Brasil) e Raymundo Faoro (Os donos do poder: a formação do patronato político brasileiro). Ambos os autores, ainda que partindo de pontos diferentes, conseguiram lançar as primeiras luzes sobre o funcionamento e a organização do poder no Brasil, mostrando que este sempre foi exercido por uma elite descomprometida com os interesses do desenvolvimento do país como nação e forjada na conveniência dos interesses pessoais. 

A mobilização popular e o Golpe da Lava-Jato contra Lula, Dilma e o PT


A mobilização popular e o Golpe da Lava-Jato contra Lula, Dilma e o PT - pensando geograficamente

por Alexandre Tambelli

A) Quem é o eleitor que apoia Lula e os governos do PT?

Precisamos entender qual é a parcela da população que apoia Lula e os governos do PT, onde mora, seu poder aquisitivo, sua condição prática de locomoção para manifestações, seu acesso à informação das manifestações e afazeres domésticos e de trabalho para ir até locais das manifestações, e assim por diante.

Li que a maior parte dos eleitores de Lula hoje se encontra nas pequenas cidades, e outra parte nas periferias das grandes cidades, e bem sabemos em um país continental, eleitores e apoiadores de poder aquisitivo que chega, na maioria, se tanto, a 2 salários mínimos. E as manifestações pró-Lula são em áreas centrais de metrópoles e cidades grandes.

NÃO É A LEI. SÃO OS INTERESSES.