Crítico contumaz e
eloquente do que chama de ineficiência dos governos e do setor público em
geral, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter não hesita em recorrer a estes
mesmos governos para obter isenções fiscais para seus negócios. Não é o único a
fazer isso, mas essa aparente contradição ganha mais visibilidade pelos
discursos inflamados que Gerdau costuma fazer aos seus pares contra a
incompetência e a ineficiência do setor público, sempre devidamente
amplificados por seus colegas donos de empresas de comunicação. Não foi
diferente desta vez, na intervenção de Gerdau no 26º Fórum da Liberdade.
O empresário gaúcho criticou a falta de eficiência, produtividade e
visão estratégica sobre “onde eu quero chegar” por parte do setor público.
Gerdau também criticou “o domínio da politicagem sobre a gestão” e se disse
angustiado com a situação financeira do Estado do Rio Grande do Sul, criticando
o saque de R$ 4,2 bilhões em depósitos judiciais para o caixa único do Estado.
A preocupação e a angústia de Gerdau com a situação financeira do Estado
não impede, porém, que ele siga recorrendo ao instrumento da isenção fiscal
para tocar seus negócios. Em seus discursos autoelogiosos sobre práticas
eficientes de gestão, o empresário gaúcho não costuma citar a ajuda que recebe
dos governos ineficientes, politiqueiros e incompetentes, para empregar algumas
das palavras que ele costuma usar.
Gerdau não costuma
dizer que é um usuário frequente de políticas públicas, como o Fundopem, por
exemplo. O Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul é um
instrumento de parceria entre os setores público e privado, que visa promover o
desenvolvimento por meio de incentivos fiscais. Em duas reuniões do Conselho em
2013, já foram aprovados 37 projetos, envolvendo um valor de 1,3 bilhões em
incentivos fiscais, com a criação de 2.145 postos de trabalho. Um sistema de
georeferenciamento registra os
projetos e as cidades já contempladas em 2013, com os investimentos
envolvidos e a respectiva previsão de geração de empregos.
Nem sempre os maiores incentivos fiscais representam maior geração de
postos de trabalho. Um dos maiores projetos de incentivos fiscais já aprovados
para este ano beneficiou a Gerdau Aços Longos S/A, um investimento de quase
meio bilhão de reais (R$ 475.519.127,33), com geração prevista de dez empregos.
O uso desse tipo de instrumento não ameniza as críticas do empresário ao
setor público. Segundo ele falta governança e eficiência, falta saber “onde eu
quero chegar”. Gerdau elencou a escala de valores que embasa sua visão
estratégica de gestão: “o empresário tem que cuidar em primeiro lugar da
família, em segundo lugar, da empresa e, em terceiro lugar, dos políticos”.
Alguém poderia dizer ao nobre e angustiado empresário que o Estado e os
governos não existem para privilegiar a primeira pessoa ou a própria família.
Até já foi assim, até que surgiu algo chamado Revolução Francesa. Parece que,
para algumas cabeças, não chegou por aqui ainda.
Foto: Agência Brasil
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