Edward Snowden, principal
responsável pelo vazamento do programa de vigilância de comunicações dos
Estados Unidos, disse nesta quarta-feira que o governo americano espiona China
e Hong Kong há vários anos.
Snowden, que tem seu paradeiro
desconhecido desde que deixou o hotel em que se hospedava em Hong Kong na
última segunda-feira, fez essas declarações em uma entrevista exclusiva ao
jornal local "South China Morning Post" (SCMP) realizada em um lugar
secreto da ilha.
O site do jornal, que apresenta
dificuldades incomuns para ser aberto e eventualmente exibe uma mensagem que
indica "problemas técnicos", publicou a entrevista em distintas
partes.
A nova denuncia de Snowden vem à
tona após um período de mútuas acusações de ciberespionagem entre Washington e
Pequim, tendo em vista que este foi um dos temas prioritários da agenda
americana no recente encontro entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e o
chinês, Xi Jinping, realizado na Califórnia.
As primeiras revelações, que
Snowden ofereceu com exclusividade aos jornais "The Washington Post"
e "The Guardian", coincidiram exatamente com o começo da cúpula entre
os líderes, nos últimos dias 7 e 8.
Alguns analistas consideraram que
o vazamento de Snowden diminuiu autoridade de Washington na hora de repreender
Pequim por suas supostas atividades de espionagem cibernética, denunciadas por
várias fontes americanas, entre elas o próprio Pentágono.
Hoje, Snowden não só assegurou
que os EUA espionam a China, mas garantiu que fontes de confiança lhe
confirmaram que Washington "está intimidando Hong Kong para que me
extradite".
O governo dos EUA "faria o
que fosse preciso para impedir que eu divulgue mais informação",
ressaltou. Hong Kong tem um tratado de extradição com o governo americano, que
Washington poderia utilizar para que Snowden retornasse ao país.
No entanto, não há informação de
que os EUA tenham enviado uma ordem de extradição, embora Washington tenha
declarado que já está realizando uma investigação, verificando a residência de
Snowden e interrogando seus amigos e familiares.
Snowden, que na entrevista
comentou que não se "atreveu" a ligar para ninguém próximo, poderia
optar por apelar à ordem de extradição ou por pedir o status de refugiado no
escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) em
Hong Kong.
Em caso de extradição, Pequim
poderia decidir intervir, mas não está claro sob que grau de autoridade.
Na entrevista, Snowden, que
trabalhou como técnico para a Agência de Inteligência Americana (CIA) e a
Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), se define como "apenas um
americano: nem herói nem traidor".
Sobre sua decisão de optar por
Hong Kong como refúgio, o que foi muito questionado pela condição da ilha de
região administrativa especial da China, afirmou: "As pessoas que pensam
que cometi um erro elegendo Hong Kong como destino interpretaram mal minhas
intenções".
O informático, que chegou à ilha
no último dia 20 de maio, acrescentou que teve "várias oportunidades de
fugir de Hong Kong", mas que se sente seguro na cidade e prefere ficar e
"lutar contra o governo dos EUA em um julgamento".
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