A decisão da presidente Dilma Rousseff de optar pelo sueco
Gripen, da SAAB-Scania, na licitação FX para os novos caças da FAB, pode ter
surpreendido a muitos.
Mas trata-se do passo mais relevante dos últimos anos, no
sentido de consolidação de uma política industrial de defesa – área que avançou
com o Inova Defesa, de financiamento de pesquisas para empresas do setor.
Pelo menos desde 2011, alguns comentaristas do meu Blog
(www.luisnassif.com.br) traziam informações relevantes sobre a proposta sueca.
Enquanto os franceses da Dassault e os norte-americanos da
Boeing movimentavam-se no campo político e diplomático, os suecos montaram uma
operação técnica invejável.
Desde o início, a Aeronáutica pendia para o Gripen. Em parte
por suas características tecnológicas – com menor alcance e maior mobilidade -,
muito mais pela possibilidade das parcerias tecnológicas.
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Pela proposta, 80% da estrutura das aeronaves poderão ser
fabricadas no país. Partes relevantes do processo, como ensaios, testes,
homologação. Desenvolvimento, produção e comercialização terão participação de
empresas nacionais. Acenava-se, inclusive, até com uma exportação inicial de 30
células Girpen NG para a própria Suécia.
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Os suecos dispõem-se também a incluir “o fornecimento e a integração
de todos os armamentos pedidos pela FAB com os respectivos custos incluídos na
oferta, as armas brasileiras assim como as que já contam no arsenal da força,
integradas e requalificadas seu custos adicionais, com a participação da
Embraer e da Mectron”.
Ao se aproximar da Embraer, aliás, os suecos tiraram um dos
pontos centrais de vantagem da Dassault – que tem participação acionária na
empresa.
Recentemente, a Embraer associou-se à Telebrás em uma nova
empresa para trabalhar a área aeroespacial. E recentemente, o Ministério da
Defesa classificou várias empresas fornecedoras na condição de empresas de
segurança nacional, com vantagens fiscais.
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Pela proposta da Gripen, o programa de ensaio de voos será
realizado pela Embraer e outras empresas nacionais, possibilitando ao país a
participação direta no desenvolvimento, qualificação e homologação da aeronave.
Haverá participação nacional também na integração do radar
das aeronaves, mantida a proposta de uma aviônica 100% nacional.
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No início, a divisão de trabalho será de 40% no Brasil e 60%
na Suécia, com aumento gradativo a partir da segunda aeronave.
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Não se ficou nisso. Nesse período, além da Embraer e da
Mectron, os suecos montaram o consórcio T1, liderado pela AKAER de São José dos
Campos, para fabricação de partes do avião. O pacote negociado inclui desenhos
e modelos 3D. Mais de 50 técnicos e engenheiros brasileiros foram enviados à
Suécia para treinamento.
Ponto importante, os radares oferecidos são os Raven ES-05
fabricado pela holding europeia Selex-Galileo. E ficou garantia a transferência
de tecnologia para a paulista Atmos Sistemas Ltda.
Enfim, estão na mesa todos os ingredientes para uma política
industrial de defesa.
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