Gérson Trajano – Carta Maior
Guerras Sujas, dirigido por Rick Rowley, trata de ações
militares dos Estados Unidos contra civis no Afeganistão, no Iêmen e na
Somália, e que não são justificadas e nem reconhecidas pelo governo americano.
Entre as vítimas estão crianças, mulheres grávidas e até um cidadão
americano.
O documentário questiona a declaração oficial de que as
forças armadas estariam nessas regiões apenas para garantir a segurança e não
para atuarem em combate. O longa-metragem foi indicado ao Oscar 2014 de melhor
documentário, mas perdeu a estatueta para A Um Passo do Estrelato.
Logo no início do filme, o jornalista Jeremy Scahill,
correspondente da revista The Nation, promete revelar os verdadeiros interesses
dos EUA. Contudo, não consegue relacionar claramente o envolvimento ilícito do
governo americano em atividades militares supostamente clandestinas. O final do
filme é inconclusivo.
Autor do livro Blackwater, sobre uma companhia de
mercenários no Iraque que teria contratos de 600 milhões de dólares com o
Washington, Scahill investiga principalmente as ações do Comando de Operações
Especiais Conjuntas (J-SOC), grupo de elite do exército americano acusado de
executar supostos inimigos em nome do combate ao terror, desencadeado após o 11
de setembro.
Para contar a sua história, ele reúne em uma sala vazia, que
se transforma em uma verdadeira base de operações, mapas, fotografias, e-mails,
gráficos e dossiês. Scahill vai montando o seu quebra-cabeças, conectando dados
históricos com as suas anotações de repórter.
O documentário ganha ares de um thriller de conspiração. Os
cenários sombrios, estradas desertas, a narração que conduz ao suspense e
enquadramento próximo ao rosto do repórter reforçam o clima de que tudo tenha
sido planejado secretamente pelo governo americano.
Mas, sendo um filme documentário, Scahill entrevista
ex-oficiais, congressistas, parentes das vítimas, visita os locais dos ataques,
mostra fotografias dos mortos e até descobre uma suposta lista com alvos civis
do J-SOC.
O trabalho de investigação começa em Gardez, no Afeganistão,
onde uma família tem sua casa invadida durante à noite por uma unidade militar
americana. Um homem e duas mulheres grávidas são mortos. Em princípio, não há
razão para a operação, pois nenhum membro da família afegã era suspeito de
terrorismo.
Em seguida, Scahill viaja para o Iêmen, onde visita um
vilarejo destruído por mísseis de fabricação americana. Na ocasião, 46 pessoas
foram mortas, entre elas, 21 crianças e 14 mulheres. Ironicamente, os
habitantes do local passaram a usar o termo “talibã americano” ao se referirem
os soldados americanos, responsabilizados pelo ataque.
Um dos alvos no Iêmen seria Anwar Al-Awlaki, cidadão
americano e simpatizante dos tabilãs. Al-Awlaki comandava um programa de rádio
que fazia propaganda contra a política dos EUA. A partir desse momento, o filme
de Rowlei passa a questionar o fato de o governo assassinar um cidadão
americano sem antes tê-lo julgado formalmente, o que, em principio, a
Constituição proíbe.
De acordo com o documentário, o J-SOC também foi o responsável
pela morte de Abdul-Rahman Al-Awlaki, de 16 anos, filho de Al-Awlaki. Um
foguete, disparado por um drone teria matado o rapaz.
A força militar sintetiza o valor da extensão territorial e
do poder econômico da grande potência americana. Gérald Lebrun, em O que é
Poder (editora brasiliense.1991), citando Max Weber, define potência como toda
a oportunidade de impor a sua própria vontade, no interior de uma relação
social, até mesmo contra resistências, pouco importando em que repouse tal
oportunidade.
Segundo o filósofo francês, existe poder quando a potência,
determinada por uma certa força, se explicita de uma maneira precisa. Não sobre
o modo da ameaça, da chantagem, mas sob o modo da ordem dirigida a alguém que
presume-se, deve cumpri-la. Guerra Suja é uma mostra dos Estado Unidos
exercendo o seu poder como potência.
Créditos da foto: reprodução
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