![](https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSJaMU_slP8Noinl2Yef2kgpqsiZMFxsGgWrns0f6zaIRrGgH6-oA)
Em evento de CartaCapital, Nobel de Economia lembrou que os mercados se apaixonam e desapaixonam por países em desenvolvimento, de forma sazonal
por Márcia Pinheiro
O economista norte-americano e
Prêmio Nobel Paul Krugman disse nesta terça-feira 18 que o Brasil não enfrenta
tantos problemas hoje em dia.“É importante olhar para trás de vez em quando e
entender que momento de desastre nós passamos”, disse Krugman ao abrir o evento
“Fórum Brasil – Diálogos para o Futuro”, de CartaCapital, em São Paulo.
“Enfrentamos o segundo maior desastre da história. O primeiro foi a Grande
Depressão. A crise recente afetou seriamente o Produto Interno Bruto (PIB) das
economias desenvolvidas. O crescimento agora persiste lento, após o auge da
crise de 2008/2009.”
No evento, Krugman lembrou que a
Comissão Europeia considera um crescimento de 1% na região, em vez de 0,5%, o
que pode ser visto como a “medida do sucesso agora”. “A catástrofe foi evitada,
mas o crescimento dos países avançados é ainda vagaroso”, disse antes de
lembrar que a recuperação econômica de hoje é mais lenta quando se compara com
a referente à crise de 1929.
Ao analisar a crise posterior em
distintas regiões do mundo, o economista contou ter se surpreendido com a
profundidade do comprometimento político dos países de moeda única, como a
Grécia. No entanto, afirmou, o problema fundamental da política é a resposta
comum dos países avançados com a política monetária – não totalmente eficaz,
dadas as condições das economias. “A questão é: o que fazer para reanimar a
atividade com taxa de juros zero ou negativa? As políticas fiscais poderiam ser
usadas para complementar a monetária, mas isso era impossível tanto na Europa, por
causa da Alemanha, como nos Estados Unidos, em função da oposição dos
republicanos”, lembrou. “Uma política monetária não convencional não foi tão
efetiva como se esperava. Há um processo de nos habituarmos com esta situação
econômica fraca e reduzirmos nossas expectativas. Estamos em risco de deflação?
Talvez.”
Sobre o problema da dívida dos
países, Krugman fez o diagnóstico: “A Europa já está na situação japonesa”,
afirmou ao se referir ao baixo crescimento com baixa inflação. “Há um jargão
para isso: a estagnação secular. Nos EUA, tivemos duas bolhas recentemente: da
tecnologia e das hipotecas. No auge dessas bolhas, havia pleno emprego e
inflação sob controle.”
Ele lembrou ainda que o nível de
investimentos está caindo, pois agora o crescimento populacional é mais
vagaroso. Além disso, ressaltou, a tecnologia emprega pouco. “Um quadro que
também piora o nível de endividamento dos países avançados.”
FED. Durante sua palestra ainda o
economista norte-americano apontou que a presidente do Federal Reserve, Janet
Yellen, é “dovish” (pacifista, em tradução livre) na questão das taxas de
juros. “A taxa real de juros dos títulos de dez anos está 1%, e perto de zero
na Europa. Por isso, os retornos estão muito baixos”, observou. “Então, há
dinheiro vagando à procura de remunerações mais atraentes. Isso acaba gerando
bolhas, como está ocorrendo. O que tende a ser uma preocupação para os mercados
emergentes, os chamados Brics (Brasil, Índia, China e África do Sul)”. Segundo
Krugman, nestes países o retorno dos investimentos é bom. No Brasil, por
exemplo, a taxa de câmbio efetiva sofreu na crise de 2008, mas os investidores
voltaram e depois perceberam que as expectativas eram superiores à realidade.
“Os mercados se apaixonaram por alguns países em desenvolvimento. Depois, se
desapaixonaram, como ocorre sazonalmente. Agora, o momento é do México”,
afirmou.
Segundo Krugman, economias
emergentes, como a brasileira, têm se mostrado mais resilientes. Com o fim do
problema de dívida externa, o Brasil tem menos exposição ao câmbio, tem mais
estabilidade, com a inflação sob controle e a política fiscal mais responsável.
As corporações brasileiras, por meio de entidades offshore, tomaram muito
empréstimo externo no valor de 300 bilhões de dólares, que é menos de 15% do PIB,
lembrou, o que também não preocupa. “O Brasil exporta primariamente commodities
e vai sofrer com a desaceleração da China. Não estamos falando de catástrofe,
mas algo que pode ser manejável.”
O que preocupa é a China, disse
Krugman, “mesmo porque as estatísticas não são totalmente confiáveis”. “Este
país não vai crescer às mesmas taxas, os investimentos serão reduzidos”,
alertou ao fazer um diagnóstico da China e, consequentemente, do Brasil. “A
China precisa mudar a proporção entre investimento e consumo. Já o Brasil está
se saindo muito bem”, concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12