O que Lula disse à tevê portuguesa é exatamente o que boa
parte da população brasileira está cansada de dizer: o julgamento do mensalão
pelo STF foi notoriamente marcado pelo viés político-partidário.
Basta pegar o calhamaço do texto inicial lido pelo relator
Joaquim Barbosa, logo na primeira sessão do julgamento, no dia 2/8/2013: o
tempo todo se refere ao PT e ao governo do PT como meliantes, agentes públicos
que desejavam se perpetuar no poder, delinquentes políticos usurpando o
proscênio da República e alegorias fantasiosas de mesmo teor para quem agora se
atreve a discordar da dosimetria de Lula para o julgamento – 80% motivado por
questões políticas e 20% motivado por questões de administração da justiça.
Algo com mais coloração política que isso?
O uso e o abuso da influência da grande imprensa, claramente
editorializada para atacar o PT e o governo do PT, foram marcas relevantes no
exótico julgamento levado a cabo pelo STF, um julgamento altamente
controvertido, em que tudo parecia importar, menos os autos, menos o processo
em si, menos as provas e menos ainda a atuação dos defensores.
As manobras do relator Barbosa ao estabelecer a ideia de
núcleos – político, financeiro, publicitário - visava claramente isso e começar
pelo que chamou de núcleo político foi a forma encontrada para politizar o
julgamento em sua inteireza.
O ânimo era sim, como bem declarou Lula em Lisboa, massacrar
o PT.
As pressões da grande imprensa, repercutindo sempre alguns
tons acima do razoável para os padrões do ofício jornalístico, as atuações do
relator Joaquim Barbosa e do Procurador-Geral da República Roberto Gurgel, bem
como os votos conservadores e extremamente políticos de ministros como Gilmar
Mendes, Luiz Fux, Marco Aurélio, Carlos Ayres e Cesar Pelluzo, destoam
inteiramente da atuação serena, equidistante e juridicamente bem embasada do
ministro Ricardo Lewandowski.
Quem tiver dúvidas sobre tudo o que escrevi acima é só se
dar o trabalho de pesquisar na internet nos acervos dos jornais Folha de
S.Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e da revista Veja, da editora Abril.
Então, por que o esperneio de Joaquim Barbosa contra a
lúcida declaração de Lula feita em Lisboa? Recomenda o presidente do STF o mais
veemente repúdio às declarações do mais importante político vivo e em atividade
da política brasileira.
O colega de Barbosa, ministro Marco Aurélio, sempre com seu
atrapalhado senso de humor fora de hora, chama a fala de Lula de "troço de
doido". Como assim?
Maior "troço de doido" foi o STF acatar, sem
pestanejar, a denúncia da PGR de que existira na AP-470 o crime de formação de
quadrilha, depois, o relator ministro Joaquim Barbosa encampar em sua
totalidade a existência do crime de quadrilha e, para tanto, ter invocado a
controvertida teoria do domínio do fato, com o intuito apenas de condenar o
ex-ministro José Dirceu como "chefe da quadrilha do mensalão", para
meses depois, o próprio STF decidir por maioria absoluta a não-existência do
crime de quadrilha.
Existirá "troço de doido" maior que o julgamento
do mensalão pelo STF?
Como entender um julgamento em que os réus eram insultados
por ministros do STF como integrantes de quadrilha criminosa, que tinha um
onipotente e todo-poderoso chefe de quadrilha e, ao final, já na fase do
cumprimento da pena, a própria Corte concluir pela não existência do crime de
quadrilha?
Se existe algo que está a merecer o mais veemente repúdio da
sociedade brasileira é a atuação mequetrefe de nossa Corte Suprema.
E, cereja da lambança feita no STF, os sucessivos
malabarismos mentais do relator do processo e já presidente do STF, para prover
a dosimetria das penas de forma a alcançar que a prisão dos sentenciados, ao
menos dos líderes políticos petistas sob julgamento, se mantivessem nos
parâmetros do regime fechado.
O que é isso tudo, se não pudermos chamar de política rasa,
aquela que tem início, meio e fim, mas que se recusa a ser vista como atividade
política?
E, como não bastasse, na atual fase do cumprimento das
penas, a coloração político-partidária do julgamento se mostra por inteiro, ao
vivo e a cores, nas falas dos ministros, nas entrevistas do presidente do STF:
1. José Genoíno, petista, com problemas cardíacos de amplo conhecimento
público, foi recolhido à Penitenciária da Papuda em 15 de novembro de 2013
enquanto que outro apenado, o petebista Roberto Jefferson somente foi chamado a
cumprir pena em regime semiaberto em 21 de fevereiro de 2014; 2. José Dirceu,
petista, condenado a regime semiaberto, cumpre pensa em regime fechado há mais
seis meses e passa por todos os tipos de espertezas políticas passíveis; 3.
Mensalão tucano remetido pelo Supremo à primeira instância depois de dormitar
oito anos nos escaninhos do STF e dois de seus personagens principais serem
brindados com a prescrição dos todos os crimes.
Troço de doido e algo que merece receber nosso mais veemente
repúdio é o aparelhamento oposicionista do STF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12