sábado, 3 de maio de 2014

México: Efeitos da Política Neoliberal de Suspensão dos Gastos Públicos

Viva México Cabrones
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Juan Montes (The Wall Street Journal, 24/02/14) afirma que a”s dificuldades de Paulo Noriega são um reflexo do que deu errado na economia do México no ano passado. A empresa dele, uma fornecedora de produtos de limpeza cujos principais clientes são hospitais públicos, está há meses estagnada, suas vendas caíram pela metade e alguns empregados foram demitidos. O motivo? O governo suspendeu seus gastos durante grande parte do ano.
“Não tínhamos vivido algo assim nos últimos 12 anos”, diz Noriega, um jovem empresário mexicano que gerencia a firma com seu pai. “Os pedidos do IMSS [o sistema de saúde e previdência social] de repente despencaram. Tivemos que apertar os cintos e usar nossas economias para sobreviver.”

Viva México
Os atrasos nas despesas do governo são uma das razões por trás do fraco desempenho do país em 2013, ano em que a segunda maior economia da América Latina cresceu só 1%, como informou o Instituto Nacional de Estatística e Geografia, o Inegi. Isso se traduz na criação de cerca de 200.000 empregos num país de 112 milhões de habitantes.

[FNC: Enquanto isso, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o saldo líquido de geração de empregos formais em 2013, no Brasil, ficou em1.117.171 -- e foi o pior dos últimos dez anos...]
Os dados do produto interno bruto foram uma ducha de água fria no otimismo com que o presidente Enrique Peña Nieto começou seu mandato, em dezembro de 2012. Em vez dos 3,5% de crescimento esperado inicialmente no seu primeiro ano de governo, o PIB do país teve sua menor alta desde a recessão de 2009.
Peña Nieto atribuiu a desaceleração principalmente à mudança de governo e à queda das exportações para o vizinho do norte. “A recuperação dos Estados Unidos não foi tão forte como esperado, o que afetou o dinamismo de nossas próprias exportações. E então tivemos a mudança de governo: como acontece a cada seis anos, o ritmo dos gastos muda”, disse Peña Nieto em entrevista ao The Wall Street Journal.
Mas outros fatores também contribuíram para o lento crescimento, dizem economistas.
O setor de construção entrou em recessão em parte devido ao endividamento insustentável das maiores construtoras do país. A falta de gás natural em algumas regiões também prejudicou a atividade. Além disso, muitos investidores adiaram decisões até verem o desfecho final das reformas econômicas nos setores de energia e telecomunicações, que o Congresso aprovou no ano passado.
“Definitivamente, foi uma tempestade perfeita“, diz Jonathan Heath, economista independente que já trabalhou no instituto de estatísticas do México.
Alguns analistas, porém, dizem que o governo é responsável pela má gestão dos gastos públicos, já que ele caiu 10% no primeiro trimestre do ano passado, em comparação com um aumento de 3% e 6%, respectiva-mente, no início dos dois governos anteriores.
O governo pediu ao Congresso um orçamento equilibrado em 2013 [...] quando a economia global ainda estava frágil. Isso foi um erro porque levou à contração dos gastos comparado com o ano anterior, diz Gerardo Esquivel, economista da universidade Colegio de México.
O Ministério da Fazenda não respondeu a pedidos para comentar as críticas. Esquivel disse que o esforço do governo para aprovar as reformas distraíram o ministro da Fazenda, Luis Videgaray, da gestão da economia no dia a dia. Várias autoridades importantes do governo disseram que algumas das pessoas indicadas para postos-chave no ministério da Fazenda, incluindo o vice-ministro da Fazenda e vice-ministro de gastos, não tinham nenhuma experiência anterior na máquina pública do governo federal. Além disso, o trabalho nas reformas tributária e financeira tomou muito tempo deles, dizem.
Alguns ministérios com orçamentos significativos, como o do Transporte, ou SCT, demoraram para começar a usar as ver-bas. Os delegados regionais do SCT, que são responsáveis por acelerar os projetos de infraestrutura e as licitações, ainda não tinham sido nomeados até abril, segundo membros do governo.
Em maio de 2013, a desaceleração econômica já era evidente. O governo reduziu sua previsão para o crescimento do PIB três vezes no ano: primeiro para 3,1%, depois 1,8% e, finalmente, 1,3%.
Os atrasos nos gastos estavam começando a ter efeitos notáveis: fornecedores não eram pagos em dia, novas licitações eram adiadas. Para Noriega, o empresário, o resultado foi amargo: “Em meados do ano, estávamos com os depósitos cheios de estoque esperando para ser vendido”, diz.
O ministro da Fazenda começou no meio do ano a trabalhar numa solicitação para que o Congresso aprovasse um pequeno déficit no orçamento em 2013 e um maior em 2014 para estimular o crescimento econômico através de gastos públicos adicionais – financiados com mais dívida e mais impostos.
Em setembro, os gastos do governo aceleraram, impulsionados em parte por obras de reconstrução, depois que várias tempestades severas atingiram o país. No fim do ano, o orçamento tinha sido totalmente consumido.
Mas os danos à economia já tinham sido causados e ela não se recuperou no quarto trimestre, crescendo apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior. Em 2014, Peña Nieto espera uma expansão de 3,9%, acima das previsões do mercado, embora muitos analistas já projetem um fraco primeiro trimestre.
Heath, o economista, diz que o impacto dos novos gastos vai levar algum tempo para ser sentido. “Os novos impostos também criaram incertezas e já estão prejudicando o consumo dos lares e a confiança dos empresários.”
Noriega ainda não está enxergando uma luz no fim do túnel: “Até agora, não vimos uma melhora na atividade”, diz.
FNCMéxico, “o queridinho de O Mercado”, está verificando agora que O Mercado não funciona sem O Estado?
PS:
Oceanografía, empresa mexicana prestadora de serviços para o setor de petróleo, que supostamente é responsável por causar perdas de US$ 400 milhões ao Citigroup Inc., era bem conhecida no setor de energia e entre investidores por estarsempre atrasada em suas contas, apesar do fluxo constante de contratos com a estatal Petroleos Mexicanos, ou Pemex.
Com sede na região petrolífera de Ciudad del Carmen, no Golfo do México, a Oceanografía tem um histórico de atrasos no pagamento aos detentores de seus títulos de dívida, fornecedores e mesmo funcionários, de acordo com trabalhadores, investidores e documentos jurídicos.
Investidores dizem que com frequência a Oceanografía usava o prazo de 30 dias de carência para pagar os juros dos títulos. “O investidor tradicional de mercados emergentes não tem a melhor imagem da empresa”, diz Jim Harper, diretor de pesquisa corporativa da corretora americana BCP Securities.
Trabalhadores que alegam a falta de pagamentos têm feito protestos em frente à sede da empresa. No prospecto de uma emissão de títulos de dívida em setembro, a companhia informou que enfrentava 352 disputas trabalhistas e previu que gastaria menos de US$ 3 milhões em acordos. Muitos fornecedores, por sua vez, também entraram com ações judiciais contra a empresa em tribunais dos Estados Unidos.
No dia 28/02/13, o governo mexicano assumiu o controle da empresa, confiscando suas contas e ativos, enquanto promotores investigam alegações de que ela teria fraudado em US$ 400 milhões o Grupo Financiero Banamex, a divisão mexicana do Citigroup, levando o banco a reduzir em US$ 235 milhões seu lucro líquido de 2013, para US$ 13,7 bilhões.
O caso também levanta questionamentos entre alguns analistas sobre a solidez da presença global do Citigroup e os procedimentos de concessão de empréstimos do Banamex, que foi comprado pelo Citigroup em 2001 e responde por cerca de 10% do seu lucro global.
Os executivos do Citigroup gostam de dizer que “seu grande alcance global é um ativo, mas ele está parecendo uma vulnerabilidade”, diz o analista Brian Kleinhanzl, da KBW. Ele usa como exemplo a exposição do banco em lugares como aArgentina, que gera preocupação entre os investidores devido à volatilidade nos mercados emergentes.
No Brasilo Citibank anunciou planos nas últimas décadas para crescer no varejo, mas nunca decolou. O banco americano acabou não participando do processo de fusões e aquisições do setor financeiro no país. No passado, ele divulgou a venda da Credicard, seu negócio de cartão de crédito e de financiamento para consumidores, para o Itaú Unibanco, num sinal de que prefere se concentrar nos clientes de alta renda.

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