A eleição está longe de ser definida a favor de Dilma. Há
flancos preocupantes. Mas quem relativiza o que aconteceu nos últimos 5 dias
não entendeu o principal.
por: Saul Leblon – http://www.cartamaior.com.br/
A semana termina com uma inflexão na disputa presidencial
que devolve a reeleição da Presidência Dilma ao topo das apostas.
A evidência mais óbvia está na convergência das pesquisas.
Mas são as decisões políticas que cavalgam os números.
A elas devem ser creditadas as lições de uma semana para não
esquecer --seja para orientar o passo seguinte da atual disputa, ou o futuro
que vier depois dela.
Em sete dias, a candidatura progressista passou a ditar o
ritmo do jogo: todos os levantamentos apontam na direção de uma vantagem ascendente
de Dilma no 1º turno, com liquefação da liderança de Marina na fase final do
pleito.
O empate técnico no 2º turno - 43% a 42%, com Marina à
frente, sinalizado pelo Ibope desta 6ª feira, deixa no ar um leve aroma de
virada.
No início do mês, o Datafolha buzinava a hipótese de uma
vitória esmagadora de Marina, que àquela altura abria uma vantagem de 10 pontos
sobre Dilma no returno da eleição (50% x 40%).
Há uma semana, o Ibope indicava que a vantagem caíra para
ainda apreciáveis sete pontos (46% a 39%).
Agora ela foi comprimida em um.
As mudanças na superfície refletem correntezas que antecipam
o rumo da marcha.
Por exemplo: a percepção positiva do governo melhorou.
Expressiva maioria dos brasileiros – cerca de 70% do
eleitorado—considera a administração Dilma entre regular (33%) e ótimo/bom
(38%).
O percentual de ótimo e bom cresceu sete pontos desde junho.
A candidata Dilma ainda enfrenta elevada taxa de rejeição
(42%). Mas a Presidenta vê sua aprovação crescer lentamente: ganhou sete pontos
para somar agora robustos 48% ( 41% em junho).
São nove pontos mais que a intenção de voto no 1º turno,
registrada na última sondagem do Ibope.
O que falta para essa aprovação flutuante se traduzir em
apoio efetivo à reeleição?
A pergunta é pertinente diante da mudança observada no humor
do eleitorado, mas, sobretudo, das possibilidades abertas por novidades que
vieram para ficar.
Os 11 minutos disponíveis pela coligação de Dilma no horário
eleitoral abriram uma clareira em uma narrativa econômica articulada à
especulação financeira, e determinada a materializar a profecia de um nação
demolida, embora no limiar do pleno emprego.
Um exemplo desse intercurso pode ser constatado nesta
sexta-feira.
O BC anunciou uma expansão do PIB de 1,5% em julho --a maior
taxa dos últimos seis anos para o mês.
No mesmo dia a Bovespa desabou.
A queda acumulada na semana, da ordem de 6%, vem a ser a
maior desde a crise mundial de 2008.
O que explica o paradoxo de uma Bolsa que esfarela quando a
economia se expande, e isso é reportado pelo colunismo isento como sintoma de
uma economia em estado terminal?
Explica-o a perda de densidade da candidatura ostensivamente
simbiótica com os interesses do mercado financeiro.
Mal ou bem, dispõem-se agora de um contraponto ordenado e
regular de crítica e esclarecimento das consequências antissociais e
antinacionais subjacentes a essas investidas cinematográficas do dinheiro
contra a vontade soberana da sociedade.
A lição de que a pluralidade informativa faz diferença no
discernimento da sociedade e, portanto, na qualidade da democracia está
marmorizada nas pesquisas que sugerem maior receptividade à reeleição da
Presidenta Dilma.
A tese conservadora de que a mastigação diuturna do governo
refletiria a virtude de uma mídia independente no papel de contrafogo ao poder
de Estado, soa, portanto, risível.
Mesmo assim, o site Manchetômetro resolveu fazer a prova do
pudim.
E comparou o tratamento dispensado à campanha pela reeleição
de Dilma, com a cobertura dedicada a Fernando Henrique Cardoso, em 1998, quando
o tucano tentava igualmente um segundo mandato contra Lula.
O resultado (leia
nesta pág.) confirma a percepção de um sistema de comunicação que se
fantasia de objetividade na tentativa de manter um poder tutelar indevido sobre
Presidência, o Congresso, as urnas e o desenvolvimento do país.
A segunda lição da semana não é estranha a essa, mas
reveste-a de maior abrangência.
O fato é que a reordenação das intenções de voto em direção
à Dilma dificilmente teria ocorrido não fosse a determinação política de usar
essa janela de informação para transmitir uma mensagem clara ao eleitor.
Ela foi formatada, como registrou Carta Maior (http://leia
‘A arca de Marina e o dilúvio antipetista’), depois que a direção do PT fez
um balanço crítico da campanha no último dia 5, em São Paulo. Foi também quando
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso à militância, encarou a
perplexidade petista diante da desabalada liderança de Marina nas pesquisas até
então.
Em duas frases, Lula esquadrejou a areia movediça ao redor e
identificou um pedaço de chão firme onde instalar a alavanca para uma reação:
‘Nós ficamos economicistas; não nos faltam obras, mas política’, diagnosticou
para prescrever o antídoto: ‘Temos que demarcar o campo de classe dessa
disputa: é preciso levar a política à propaganda’.
A partir de então a essência radicalmente neoliberal
embutida no programa de Marina Silva passou a ser floculada do espumoso caudal
de 241 páginas .
O extrato obtido foi exposto à luz do sol em uma narrativa
pedagógica, determinada a tipificar um a um seus riscos estratégicos e sociais.
Na mesma chave narrativa, a Presidenta Dilma passou a dar
nomes aos bois. E ao berrante, que alguns preferem chamar de educadora, embora
funcione como um agregador da boiada e de tudo o mais que acompanha o tropel.
A eleição está longe de ser definida a favor do campo
progressista.
Há flancos preocupantes.
O Nordeste não é mais uma trincheira coesa; Dilma não terá
palanques em estados onde candidatos a governo do PT estarão fora do 2º turno;
a mídia e o dinheiro grosso não vão desperdiçar a chance real de vitória à
bordo da desfrutável candidata que lhes oferece o carisma que nunca tiveram.
Num 2º turno, a vantagem do tempo de televisão desaparece.
É tudo verdade. Mas quem relativiza o que aconteceu nos
últimos cinco dias não entendeu o principal.
As adversidades já estavam postas antes. O que mudou e
sacudiu as placas tectônicas que pareciam cristalizadas foi uma nova dinâmica
política impulsionada por motores que vieram para ficar. Espera-se que fiquem
definitivamente no aggiornamento político reclamado por Lula.
O PT e sua propaganda redescobriram que não se faz política
sem definir o adversário, dizer o que ele representa, por que deve ser
derrotado, as perdas e danos de se entregar o país ao seu corolário de poder.
Isso não é pouco.
Não apenas pelo efeito esclarecedor que exerce na opinião
pública, hipnotizada pelo jogral do Brasil aos cacos.
Mas, sobretudo, pelo papel reordenador que tem no discurso
progressista, adicionando-lhe clareza, coerência, prumo e um alvo imenso,
despudoradamente marcado por metas de natureza anti-popular e antinacional.
Em dúvida, recomenda-se rever a sabatina de Dilma à equipe
de colunistas do Globo, realizada na última sexta-feira.
Estavam todos lá, as mais ostensivas cepas do
conservadorismo midiático, em sua gordurosa peroração de sempre: o Brasil é uma
cloaca entupida de corrupção e desgoverno.
Dilma deu-lhes um banho com o sabonete desfolhante da
clareza técnica esfregada com a bucha da argúcia política.
Tirou o couro. E expôs a matéria bruta dos interesses por
trás da santa inquisição, reduzida a um auditório gaguejante, diante da
consistência e desenvoltura da entrevistada.
Confira abaixo. É o corolário encorajador de uma semana para
não esquecer:
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