Os reacionários viram na emergência das classes
menos abastadas, ao ocuparem postos melhores na hierarquia social brasileira, a
ameaça ao poder de mando.
José Carlos Peliano* // www.cartamaior.com.br
A vida política brasileira vive momentos auspiciosos
de trapalhadas. Seria cômico se não fosse sério. Festival de besteiras que
assola o país, lembrando o mote do carioca inigualável Stanislaw Ponte Preta, o
saudoso Sérgio Porto.
Trapalhadas, aliás bagunças, embrulhadas,
barafundas e confusões. Bate cabeças, mandos e desmandos, despautérios. Tudo
isso junto e misturado num saco só. Sem tirar nem por. Nós dados e pontas
escondidas.
E está tudo dominado. Assim desse jeito. Sede
famélica pelo poder daqueles derrotados que mereceram imerecidamente os votos de
pouco menos da metade dos eleitores brasileiros na última campanha
presidencial.
Mereceram porque votaram neles os que queriam se
ver livres das 3 últimas administrações federais. Razões objetivas não haviam.
Subjetivas aos montes: desde, segundo eles, incompetência até incapacidade de
governar. Discursos vazios dos capitães do mato, dignos de motivação de uma
massa disposta à manobras eleitoreiras. O dito pelo não dito.
Imerecidamente uma vez que não trariam nada de novo
à administração federal ao que fizeram outros de seu partido duas vezes antes
das 3 últimas administrações. Ou o que fez seu presidente nacional em Minas
Gerais como governador. Os eleitores esqueceram ou não se importaram, mesmo
assim, de recordar que o país esteve pior naqueles dois mandatos federais e
estaduais.
Resultados e números da administração federal para
mostrar não faltam. Reconhecidos e saudados por organizações multilaterais e
governos estrangeiros. Mas o que importa? Para os eleitores dos perdedores o
que valia era o preconceito, a ira, a gana de derrubar quem incomodava aos
olhos e ouvidos e fazia incomodar olhos e ouvidos.
Incomodar como? Aeroportos cheios de gente de
classes menos abastadas, praias e resorts idem, shoppings idem, carros nas ruas
idem, idem, idem, idem. A melhoria social e econômica atingida era um tiro no
peito dos conservadores, reacionários, nobres sem nobreza. Não queriam e não
querem gente assim ao redor, infestando, incomodando.
Esse movimento de indignação politicamente vazia,
rebeldia sem causa, sem razão, pegou carona em manifestação objetiva pelo
aumento de passagem de ônibus em São Paulo e se alastrou país afora com sua
bandeira sem cara. Os insufladores já eram elementos da oposição incomodada e
se multiplicaram após a encampação da iniciativa com tiroteios posteriores para
quaisquer direções.
Essas trapalhadas de orientação política, da
cidadania despida de cidadania, do quanto pior melhor, tomaram corpo e
redundaram nos votos de milhões que acreditaram na oposição e a reforçaram para
derrubar o governo. Continuaram nas manifestações seguintes do mesmo jeito ou
piores.
As trapalhadas hoje beiram a total falta de ética,
moral e bons costumes, termos de referência que valem muito para eles mesmos,
conservadores, reacionários, donos das casas grandes. E das empresas e bancos
também grandes.
Viram na emergência das classes menos abastadas, ao
ocuparem postos melhores na hierarquia social brasileira, a ameaça ao poder de
mando, às ordens para o progresso, a manutenção do status quo, onde a oposição
e eles seriam e são os que se consideram os verdadeiros representantes da pátria.
As trapalhadas continuaram com eles. Chegaram às
tentativas de derrubarem o governo eleito democraticamente de qualquer maneira.
No grito ou em expedientes paraguaios. Enquanto manifestações de abastados
tomavam as ruas, a oposição deitava falação e inventava estratagemas políticos
e jurídicos.
Mas talvez a grande trapalhada tenha sido mesmo
ficarem representantes da oposição, de janeiro a outubro deste ano, por conta
da preparação do golpe. Este o maior blefe escamoteado de seus eleitores e
afinal jogado abertamente sobre todos nós que acreditamos e apoiamos a
democracia.
Pior, lançando torpedos de críticas infundadas,
deturpadas, inventadas, atrapalhadas. Gerando um clima de instabilidade
políticas sem precedentes. Afetando até mesmo a administração federal por se
sentir ameaçada e sem condições normais de governar.
Dez meses seguidos e inteiros sem representar
condignamente seus eleitores e honrar o Congresso brasileiro no papel que lhes
cabem como parlamentares. Ao invés disso gastaram a maior parte de seu tempo
pago por todos nós, como políticos profissionais, intentando derrubar o governo
eleito. Semeando a discórdia e a balbúrdia.
Se deram mal até agora. Suas trapalhadas
partidárias, políticas e jurídicas pararam por enquanto nos despachos de dois
ministros do STF, Teori Zavascki e Rosa Weber, que impediram que o golpe
paraguaio tomasse corpo e forma legislativos na Câmara dos Deputados. Golpe
bloqueado.
Queriam com quórum qualificado em primeira
instância e com qualquer quórum em segunda instância declarar impedida a
Presidenta de continuar a governar o país. Rebelião sufocada.
E as trapalhadas perdem força, energia e momento
políticos porque alguns de seus membros estão enrolados com denúncias
formalizadas no STF. Eduardo Cunha por contas secretas na Suíça e Paulo Pereira
da Silva da Força Sindical e Agripino Maia do DEM por corrupção.
Outras denúncias não formalizadas, mas sabidas por
terem vazado para as redes sociais, não divulgadas pela grande mídia, envolvem
mais gente da oposição indignada. Seu presidente nacional é um deles.
A situação política do país está menos tensa, mas
ainda não apaziguada. Há muitas trapalhadas ainda pela frente para serem
aproveitadas à disposição da oposição. A sede ao pote desta continua presente
em estado crônico. Ela ainda estuda alternativas e expedientes para conseguir
seu intento.
Entre eles tentar ainda levar ao plenário do
Congresso um pedido de impedimento que consiga 342 votos favoráveis. Esses
votos seriam responsáveis sim por afastar a Presidenta, mas também por provocar
ondas intermináveis de protestos país afora. Imprevisíveis.
O risco de uma convulsão social não é pequeno. Os
eleitores da Presidenta não ficariam acomodados, partiriam para as ruas para
defender a validade democrática de seus votos. Levando consigo sonhos e
esperanças arruinados por uma manobra política indigna.
Seria a última trapalhada da oposição ao brincar
com fogo, com cabras da peste, com manos, com muitos outros Brothers, e com
mineiros, aqueles que dão um boi para não entrar numa briga, mas uma boiada
para não sair.
E com milhões de representantes e membros de
minorias que conseguiram espaço e voz no governo federal nas últimas
administrações. Enfim, o povo não atrapalhado em suas convições, mas
atrapalhado pelas trapalhadas que assolam o país.
*colaborador da Carta Maior
Créditos da foto: Marcelo Camargo / ABr
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