EMIR SADER// http://www.brasil247.com/
O Brasil havia desaparecido da agenda mundial desde
o fim da ditadura. Episodicamente reaparecia, como na campanha para a derrubada
do Collor, na eleição - e a euforia correspondente – de FHC como presidente,
mas logo o Brasil voltou para a penumbra. Ressurgia quando havia privatizações,
com os capitais abutres correndo comprar na liquidação a bom preço do
patrimônio publico ou fugindo nas crises.
A eleição do Lula desconcertou os meios que formam
a opinião publica mundial. Depois de superado o período histórico “populista,
estatista”, não se entendia bem como um ex-líder sindical, operário de um
partido de esquerda, fosse eleito presidente do Brasil em pleno século XXI. No
começo, o noticiário internacional era uma mistura de anúncios de “traição” do
novo presidente e de supostas manifestações populares contra ele, com denuncias
de corrupção. Mas tratavam o governo Lula como um fenômeno passageiro, ponto
fora da curva, caso folclórico, quase um mal entendido, que logo seria superado
pela realidade implacável da globalização.
De repente, a imagem do Lula e a do Brasil mudaram.
Era o pais que, em meio ao aumento da desigualdade e da pobreza no mundo, combatia
a miséria e seu líder se tornava o líder da luta contra a fome e a exclusão
social pelo mundo afora. Os lobbies midiáticos internacionais tiveram que se
render, a contragosto, a esse novo fenômeno.
Wall Street Journal, Financial Times, The Economist,
El Pais ou calavam ou não mencionavam a
liderança do Lula em escala mundial. Pelo menos tiveram que reproduzir o Obama
chamando-o de “the guy”.
Era um gol que a luta pelos direitos de todos,
contra o neoliberalismo, fazia, em escala global. Lula era um intruso de
sucesso nas reuniões internacionais, era convidado para dezenas de países,
especialmente da Africa e de outras regiões que viviam problemas que o Brasil
estava em vias de superar.
Até que chegaram as manifestações de junho de 2013
e começou um processo orquestrado de desconstrução da incomoda imagem do Brasil
por esses meios formadores da agenda internacional da mídia. A eles se juntaram
as vozes da ultra esquerda em órgãos da mídia, igualmente incômodos com o
sucesso do Lula e do Brasil.
A imagem do Brasil foi rapidamente revertida, para
o pais dos gastos milionários para a Copa, cujo governo era repudiado por
milhões de jovens por todo o pais. A Copa não seria realizada ou, se fosse, o
seria em meio a uma brutal repressão de imensas manifestações populares de
repudio.
Nada disso ocorreu, mas a desconstrução da imagem
do Brasil do Lula teve continuidade na imagem de um pais corrupto. Depois de
breves lapsos de esperança de derrota do governo nas eleições – que seria
coerente com a imagem de um governo repudiado transmitida internacionalmente –
veio a onda do pais corrupto, a partir das denuncias sobre a Petrobras.
É como se todos os imensos avanços sociais tivessem
sido abolidos, como se o Brasil do Lula tivesse disso uma ilusão passageira,
que a brisa primeira levou. Como se se tratasse apenas de um pais violento,
corrupto, com um governo repudiado pelo povo. Qualquer noticia de suposta
corrupção que envolveria o governo é imediatamente reproduzida como se fosse
uma realidade pelas agencias internacionais.
Paralelamente, se tentou levantar lideranças
alternativas na America Latina, sem sucesso. O caso do México nao resistiu aos
primeiros problemas do governo de Peña Nieto. Outros lideres de direita, como
Piñera, Uribe, foram derrotados pelo povo dos seus próprios países, enquanto o
PT triunfava pela quarta vez sucessiva. Dificilmente vão conseguir fazer da
Argentina de Macri uma alternativa ao Brasil
A disputa em torno do significado do Brasil hoje no
mundo é a disputa na luta entre vias de superação do neoliberalismo e das
desigualdades, de que o Brasil é uma referencia central, ou a rendição aos
velhos esquemas do Consenso de Washington, que fracassam aqui e fracassam
também na Europa e nos EUA – de onde esses órgãos da mídia provem.
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