JOSE CARLOS DE ASSIS // http://www.brasil247.com/
As decepções com as decisões de
política econômica no Governo Dilma têm sido tão agudas nos últimos tempos que
muitos de nós, que nos identificamos com o pensamento desenvolvimentista,
reagimos com grande ceticismo à troca dos ministros Joaquim Levy por Nelson
Barbosa. Eu próprio, quando me perguntaram a respeito, disse que era trocar
seis por meia dúzia. A razão disso é que, na estrutura ministerial brasileira,
Planejamento e Fazenda formam uma equipe, ou deveriam formá-la, embora com
hegemonia inconteste da Fazenda.
Entretanto, um ministro quase
subordinado, como Barbosa no Planejamento, pode ser muito diferente de um
ministro hegemônico, como Barbosa na nova estrutura. Portanto, convoco meus
colegas progressistas a dar um voto de confiança a Nélson Barbosa. Ele pode,
sim, iniciar um processo de deslocamento de uma política econômica regressiva,
responsável pelo que virá a ser uma contração do PIB de quase 5% este ano, para
uma política de arrancada do crescimento, desde que mande ao diabo os
preconceitos neoliberais sobre a questão fiscal.
A saída que temos para a retomada
do desenvolvimento passa por alguns movimentos cruciais na política econômica,
todos perfeitamente alinhados com um projeto de governo efetivamente
responsável perante a sociedade no que diz respeito, sobretudo, à retomada e
proteção do emprego e do crescimento. É o tripé virtuoso, não o tripé da
imbecilidade neoliberal. Começa pela redução rápida e progressiva da taxa de
juros, implicando queda do déficit nominal. Com isso, abre-se espaço para o
aumento do déficit primário financiar o investimento, o que é fundamental para
a recuperação do PIB e do emprego.
Três movimentos, portanto:
redução da taxa de juros, redução do déficit nominal, aumento do superávit
primário. Esse tripé da virtude, como dito, possibilita a queda da dívida
pública, o aumento do investimento e dos gastos públicos reais (inclusive na
recuperação da Petrobrás e da cadeia produtiva do petróleo), os quais
possibilitam, por sua vez, aumento da demanda efetiva para o setor privado, que
assim pode retomar seus próprios investimentos. A política de Levy aumentou a
taxa de juros, aumentou o déficit nominal, aumentou a dívida pública... para
nada. Pior, com isso jogou a economia numa depressão sem precedentes.
Veremos o que Nélson Barbosa vai
fazer. O que não se pode é achar de antemão que vai manter a política
fracassada de seu antecessor. Se mantiver, seu reinado será curto. Empresários
e trabalhadores, com o compromisso assinado no início de dezembro em São Paulo,
mais os autores das manifestações do último dia 17 e nós, que estamos
acompanhando o senador Roberto Requião na Aliança pelo Brasil, deixamos muito
claro que somos contra o impeachment, porém somos também radicalmente contra a
política econômica que vinha sendo adotada.
A mudança ministerial criou uma
oportunidade para o Governo liquidar com a tosca estratégia ensaiada pelo PSDB
e pelo DEM na busca do impeachment. Seus planos era esgotar o Governo em sua
capacidade de tomar iniciativas. Com Levy na Fazenda, estava garantido que nada
aconteceria de bom nos próximos meses. Portanto, quanto mais longo fosse se
arrastando o processo de impeachment, mais fracassos o Governo acumularia em
sua gestão, e mais chances os oposicionistas radicais teriam para ganhar o
impeachment. Essa manobra anti-povo e anti-pátria, essencialmente golpista,
veio abaixo com a saída de Levy e o deslocamento de Barbosa para a Fazenda.
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