Mercados de petróleo no chão e
déficit massivo nos EUA.
O dumping de US$1 trilhão em securities dos EUA, pelos
sauditas, será só a ponta do iceberg?
Pepe Escobar - Sputink News
(tradução de Vila Vudu) // www.cartamaior.com.br
Essa coluna revelou, semana passada, como a Arábia Saudita
despejou no mercado pelo menos US$1 trilhão em securities
dos EUA e derrubou mercados globais –, ao
mesmo tempo em que faz sua guerra dos preços
Há excelentes análises sobre o que está realmente acontecendo
com os mercados de petróleo, ou o papel de Wall Street
na criação do crash do petróleo. Mas em todos os casos,
a peça chave do quebra-cabeças
é sempre o dumping obrado pelos sauditas.
Tudo que o Fed tem de fazer é comprar papeis do Tesouro dos EUA
que a Arábia Saudita vende. O que conta é o que os sauditas fazem
com seus créditos em dólares; podem, por exemplo, estar
comprando ouro, para se autoproteger no caso de futura
desvalorização do dólar — supondo-se que os Masters
of the Universe permitissem.
Se são US$8 trilhões em ações securitizadas e papéis, inclusive
do Tesouro, como os mais experientes corretores do Golfo Persa
têm certeza, nesse caso Washington não terá mais problemas com o
massivo déficit dos EUA.
O problema é que só vazou um fiapo de informação, para a
mídia-empresa, sobre o que os sauditas estão fazendo. Os números
estão grosseiramente subestimados.
Se se divulgassem todos os algarismos dos US$8 trilhões, a
mídia-empresa ocidental piraria completamente, e dentro da
Arábia Saudita se geraria muita agitação.
severamente perturbadas pelas ações dos sauditas. Player sério,
o ex-diretor da Divisão de Finança Internacional no Fed de 1977 a 1998,
já disse explicitamente que a quantidade de papéis do Tesouro dos EUA em mãos
dos sauditas não deveria continuar a ser segredo até hoje.
Essa opinião foi concebida como dura mensagem endereçada a Riad.
Mas mesmo assim o secretário de Estado John Kerry foi a Riad para
tranquilizar a Casa de Saud de que não têm por que se preocupar com
boatos sobre [a avenida] Beltway. E a Casa de Saud, cada dia mais
paranoica, acreditará em quem?
Tudo isso sugere um cenário no qual uma facção dos Masters of the Universe
ordenou que o mercado de ações fosse detonado. Implica que haja divisões
nos escalões superiores do poder. O ex-executivo do Fed é parte do
establishment velho. Não é neoconservador/neoliberal.
Os sauditas acreditaram que tivessem luz verde para vender. Não era bem assim.
Que tal um pouco de bens congelados?
Como explica um banqueiro de investimentos de New York, "a Casa de Saud
estava criando tremendos superávits desde os anos 1970s — quando a OPEP
aumentou dramaticamente o preço do petróleo." O Tesouro dos EUA queria
que esse tsunami de dinheiro comprasse papéis do Tesouro dos EUA; e os
sauditas sempre com medo de pôr em movimento aquele tsunami. Assim
"se construiu um negócio pelo qual eles manteriam em segredo os trilhões
de papéis dos EUA." Jamais se tratou de os sauditas serem 'autorizados'
a vender em massa aqueles papeis.
Os sauditas vendendo ações em massa, em pleno mercado aberto,
especialmente nas primeiras semanas de janeiro, espalhando o
pânico pelo planeta, parecem ter desagradado muito gravemente
outra facção dos Masters of the Universe. E essa facção pode,
eventualmente, ter revelado ao mundo que a posição secreta dos
sauditas é em papéis do Tesouro dos EUA. Não esqueçam: estamos
falando de, pelo menos, $8 trilhões.
A Casa de Saud, como se poderia prever, está em total pânico. Imaginem
um vazamento que diga que eles estão sentados em cima de US$8 trilhões,
ao mesmo tempo em que pedem que os mais pobres na Arábia Saudita
façam "sacrifícios" e apertem o cinto para apoiar o preço do petróleo
deles e, também, a guerra que absolutamente os sauditas não podem
vencer no Iêmen, e guerreada com mercenários caríssimos. Haveria
fúria global, inevitavelmente – exigindo congelamento dos bens de
sauditas que estão sendo usados para destruir mercados mundiais.
Segredo bem mal guardado informa que a Casa de Saud não é
exatamente muito popular nos pontos cruciais do mundo,
de Moscou a Washington e Berlim.
A Casa de Saud não pode imaginar que os serviços secretos FSB, SVR e
GRU da Rússia os amem de todo o coração por tentarem destruir a Rússia;
que os texanos os
adorem por tentar destruir a indústria do petróleo de xisto; que Alemanha
ou Itália os adorem por terem afogado os mercados com um trilhão de
dólares em securities para quebrá-los, quando Mario Draghi tenta salvar
a eurozona.
O procedimento padrão do governo dos EUA em casos desse tipo dumping de
securities para desestabilizar mercados – é congelar bens e partir para
imediata 'mudança de regime'. Só que, dessa vez, a Casa de Saud supor
que tivesse apoio unânime em Washington, como parte do pagamento
pelo guerra do preço do petróleo contra a Rússia. Não, não é bem assim.
E agora Washington está lançando um alerta velado de que estão fartos
da Arábia Saudita. Implica que a Casa de Saud tem de mudar de rota
em emergência, para pôr fim à guerra do preço do petróleo antes que
seja tarde demais.
A Casa de Saud recusa-se a ver o que se passa. Corretores no Golfo Persa,
contudo, mencionam o exemplo da Suécia – onde os sauditas venderam quase
metade dos papéis
securities do Tesouro sueco que tinham em seu poder, o que causou graves
problemas ao mercado
sueco de ações. É procedimento normal declarar aos mercados que você está
comprando quando, de fato, você está vendendo. Os sauditas podem até comprar
publicamente alguma coisa, ao mesmo tempo em que, secretamente, descarregam
tudo no mercado, usando frentes que ninguém saiba que são conectadas a eles.
Melhor chamar um táxi?
A Rússia, enquanto isso, continua sua ofensiva diplomática a sério. A queda do
rublo é boa para as exportações russas, mas faz cair as importações. As reservas
estão em nível alto
e estáveis. As empresas russas se desalavancaram – e não estão mais comendo
reservas em moeda estrangeira.
O ritmo da queda no crescimento econômico diminuiu. As sanções – pelo
menos as aplicadas pela União Europeia – serão provavelmente levantadas em
2016.
Assim sendo, é hora de encontrar cura para a depressão de acomete o mercado
de energia. Como o presidente Putin disse, em termos diplomáticos, Rússia e
Qatar "sentem agora a necessidade de harmonizarem as políticas na esfera
da energia, especialmente na indústria do gás."
Parece que o Qatar entendeu a mensagem: está morto o seu sonho de
Oleogasodutostão, de um gasoduto de gás natural que atravessaria a
Síria para abastecer mercados europeus. Hora de cair na real.
A gangue do Golfo na OPEP, liderada por Arábia Saudita, ainda insiste em que
a OPEP não reduzirá a produção – porque assim cederiam aos rivais fatias do
mercado. Mas agora o Qatar — que está na presidência rotativa da OPEP, e
depois de falar com Moscou – está, já, caindo na real, e afirmou que o mercado
de petróleo voltará a crescer antes do fim do ano, como essa coluna já adiantou.
Investimentos na indústria de energia estão caindo rapidamente demais,
enquanto a demanda global continua a crescer. O ministro de energia do Qatar,
Mohammed al-Sada decretou: "O atual preço do petróleo não é sustentável e,
portanto, deve mudar."
O Kremlin, por sua vez, diz que não há planos concretos – por enquanto – para
cortar a produção de petróleo em coordenação com a OPEP. O porta-voz Dmitry
Peskov só admite que a Rússia está "discutindo ativamente a instabilidade dos
mercados de petróleo" com a OPEP.
Conclusão: Rússia reduzirá, se a OPEP reduzir.
A bola está no colo da Corte de Saud. A coisa de derrubar preço de petróleo e queimar securities parece ter acabado. Melhor tomarem jeito, ou daqui a pouco
aqueles "príncipes" estarão dirigindo táxis em Londres (mas há dúvidas de que
o príncipe guerreiro Mohammed bin Salman tenha QI suficiente para decorar
todos os nomes de rua necessários para passar no exame).
Créditos da foto: State Department
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