terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Arábia Saudita faz roleta russa

State Department
Mercados de petróleo no chão e déficit massivo nos EUA. 
O dumping de US$1 trilhão em securities dos EUA, pelos 
sauditas, será só a ponta do iceberg?

Pepe Escobar - Sputink News (tradução de Vila Vudu) // www.cartamaior.com.br

Essa coluna revelou, semana passadacomo a Arábia Saudita 
despejou no mercado pelo menos US$1 trilhão em securities 
dos EUA e derrubou mercados globais –, ao 
mesmo tempo em que faz sua guerra dos preços
(baixos) do petróleo.


Há excelentes análises sobre o que está realmente acontecendo 
com os mercados de petróleo, ou o papel de Wall Street 
na criação do crash do petróleo. Mas em todos os casos, 
peça chave do quebra-cabeças
 é sempre o dumping obrado pelos sauditas.


Tudo que o Fed tem de fazer é comprar papeis do Tesouro dos EUA 
que a Arábia Saudita vende. O que conta é o que os sauditas fazem
 com seus créditos em dólares; podem, por exemplo, estar
 comprando ouro, para se autoproteger no caso de futura
 desvalorização do dólar — supondo-se que os Masters 
of the Universe permitissem.


Se são US$8 trilhões em ações securitizadas e papéis, inclusive 
do Tesouro, como os mais experientes corretores do Golfo Persa
 têm certeza, nesse caso Washington não terá mais problemas com o 
massivo déficit dos EUA.


O problema é que só vazou um fiapo de informação, para a 
mídia-empresa, sobre o que os sauditas estão fazendo. Os números


Se se divulgassem todos os algarismos dos US$8 trilhões, a 
mídia-empresa ocidental piraria completamente, e dentro da 
Arábia Saudita se geraria muita agitação.


Há alguns sinais públicos de que forças em Washington estão 
severamente perturbadas pelas ações dos sauditas. Player sério, 
o ex-diretor da Divisão de Finança Internacional no Fed de 1977 a 1998, 
 dos sauditas não deveria continuar a ser segredo até hoje.


Essa opinião foi concebida como dura mensagem endereçada a Riad. 
Mas mesmo assim o secretário de Estado John Kerry foi a Riad para 
tranquilizar a Casa de Saud de que não têm por que se preocupar com 
boatos sobre [a avenida] Beltway. E a Casa de Saud, cada dia mais 
paranoica, acreditará em quem?


Tudo isso sugere um cenário no qual uma facção dos Masters of the Universe
 ordenou que o mercado de ações fosse detonado. Implica que haja divisões
 nos escalões superiores do poder. O ex-executivo do Fed é parte do
establishment velho. Não é neoconservador/neoliberal. 
Os sauditas acreditaram que tivessem luz verde para vender. Não era bem assim.


Que tal um pouco de bens congelados?


Como explica um banqueiro de investimentos de New York, "a Casa de Saud 
estava criando tremendos superávits desde os anos 1970s — quando a OPEP
 aumentou dramaticamente o preço do petróleo." O Tesouro dos EUA queria 
que esse tsunami de dinheiro comprasse papéis do Tesouro dos EUA; e os 
sauditas sempre com medo de pôr em movimento aquele tsunami. Assim 
"se construiu um negócio pelo qual eles manteriam em segredo os trilhões
 de papéis dos EUA." Jamais se tratou de os sauditas serem 'autorizados' 
a vender em massa aqueles papeis.


Os sauditas vendendo ações em massa, em pleno mercado aberto, 
especialmente nas primeiras semanas de janeiro, espalhando o 
pânico pelo planeta, parecem ter desagradado muito gravemente 
outra facção dos Masters of the Universe. E essa facção pode, 
eventualmente, ter revelado ao mundo que a posição secreta dos 
sauditas é em papéis do Tesouro dos EUA. Não esqueçam: estamos 
falando de, pelo menos, $8 trilhões.


A Casa de Saud, como se poderia prever, está em total pânico. Imaginem 
um vazamento que diga que eles estão sentados em cima de US$8 trilhões,
 ao mesmo tempo em que pedem que os mais pobres na Arábia Saudita
 façam "sacrifícios" e apertem o cinto para apoiar o preço do petróleo 
deles e, também, a guerra que absolutamente os sauditas não podem 
vencer no Iêmen, e guerreada com mercenários caríssimos. Haveria 
fúria global, inevitavelmente – exigindo congelamento dos bens de 
sauditas que estão sendo usados para destruir mercados mundiais. 
Segredo bem mal guardado informa que a Casa de Saud não é
 exatamente muito popular nos pontos cruciais do mundo, 
de Moscou a Washington e Berlim.


A Casa de Saud não pode imaginar que os serviços secretos FSB, SVR 
GRU da Rússia os amem de todo o coração por tentarem destruir a Rússia; 
que os texanos os 
adorem por tentar destruir a indústria do petróleo de xisto; que Alemanha
 ou Itália os adorem por terem afogado os mercados com um trilhão de 
dólares em securities para quebrá-los, quando Mario Draghi tenta salvar
 a eurozona.

O procedimento padrão do governo dos EUA em casos desse tipo dumping de 
securities para desestabilizar mercados – é congelar bens e partir para
 imediata 'mudança de regime'. Só que, dessa vez, a Casa de Saud supor
 que tivesse apoio unânime em Washington, como parte do pagamento 
pelo guerra do preço do petróleo contra a Rússia. Não, não é bem assim. 
E agora Washington está lançando um alerta velado de que estão fartos 
da Arábia Saudita. Implica que a Casa de Saud tem de mudar de rota 
em emergência, para pôr fim à guerra do preço do petróleo antes que 
seja tarde demais.


A Casa de Saud recusa-se a ver o que se passa. Corretores no Golfo Persa, 
contudo, mencionam o exemplo da Suécia – onde os sauditas venderam quase 
metade dos papéis 
securities do Tesouro sueco que tinham em seu poder, o que causou graves 
problemas ao mercado 
sueco de ações. É procedimento normal declarar aos mercados que você está 
comprando quando, de fato, você está vendendo. Os sauditas podem até comprar 
publicamente alguma coisa, ao mesmo tempo em que, secretamente, descarregam 
tudo no mercado, usando frentes que ninguém saiba que são conectadas a eles.


Melhor chamar um táxi?


A Rússia, enquanto isso, continua sua ofensiva diplomática a sério. A queda do
 rublo é boa para as exportações russas, mas faz cair as importações. As reservas 
estão em nível alto
 e estáveis. As empresas russas se desalavancaram – e não estão mais comendo
reservas em moeda estrangeira.
O ritmo da queda no crescimento econômico diminuiu. As sanções – pelo
 menos as aplicadas pela União Europeia – serão provavelmente levantadas em
 2016.


Assim sendo, é hora de encontrar cura para a depressão de acomete o mercado 
de energia. Como o presidente Putin disse, em termos diplomáticos, Rússia e 
Qatar "sentem agora a necessidade de harmonizarem as políticas na esfera 
da energia, especialmente na indústria do gás."


Parece que o Qatar entendeu a mensagem: está morto o seu sonho de 
Oleogasodutostão, de um gasoduto de gás natural que atravessaria a 
Síria para abastecer mercados europeus. Hora de cair na real.


A gangue do Golfo na OPEP, liderada por Arábia Saudita, ainda insiste em que 
a OPEP não reduzirá a produção – porque assim cederiam aos rivais fatias do 
mercado. Mas agora o Qatar — que está na presidência rotativa da OPEP, e 
depois de falar com Moscou – está, já, caindo na real, e afirmou que o mercado 
de petróleo voltará a crescer antes do fim do ano, como essa coluna já adiantou.


Investimentos na indústria de energia estão caindo rapidamente demais, 
enquanto a demanda global continua a crescer. O ministro de energia do Qatar,
 Mohammed al-Sada decretou: "O atual preço do petróleo não é sustentável e, 
portanto, deve mudar."


O Kremlin, por sua vez, diz que não há planos concretos – por enquanto – para 
cortar a produção de petróleo em coordenação com a OPEP. O porta-voz Dmitry 
Peskov só admite que a Rússia está "discutindo ativamente a instabilidade dos 
mercados de petróleo" com a OPEP. 
Conclusão: Rússia reduzirá, se a OPEP reduzir.


A bola está no colo da Corte de Saud. A coisa de derrubar preço de petróleo e queimar securities parece ter acabado. Melhor tomarem jeito, ou daqui a pouco 
aqueles "príncipes" estarão dirigindo táxis em Londres (mas há dúvidas de que 
o príncipe guerreiro Mohammed bin Salman tenha QI suficiente para decorar 
todos os nomes de rua necessários para passar no exame).




Créditos da foto: State Department

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