A Syngenta detém 19% do mercado
de agrotóxicos, e somando os 5% da ChemChina, tornaria a estatal chinesa a
maior produtora de agrotóxicos do planeta.
Najar Tubino // www.cartamaior.com.br
A estatal chinesa ChemChina fez uma
oferta pela suíça Syngenta por US$43 bilhões, um negócio a ser concretizado até
o final do ano, por uma oferta pública de aquisição nos Estados Unidos e na
Suíça. A Syngenta detém 19% do mercado de agrotóxicos no mundo, e somando os 5%
da ChemChina, tornaria a estatal chinesa como a maior produtora de agrotóxicos
do planeta. O jornal espanhol El País publicou matéria sobre o assunto
analisando a compra como uma necessidade dos chineses em aumentar a produção de
alimentos, por intermédio da transgenia, em função das milhares de patentes de
propriedade da Syngenta.
Esse é o retrato da versão
mentirosa da mídia. Vamos aos fatos: existe uma queda nos preços agrícolas nos
últimos três anos. A FAO anunciou esta semana uma queda de 1,9 no índice de
preço dos alimentos, que envolve desde leite, óleos vegetais e grãos, a maior
em sete anos. A renda agrícola dos Estados Unidos, segundo o próprio
Departamento de Agricultura, caiu 26,6% em 2015, a maior desde 2006 – foi de
US$95,8 bilhões, sendo a maior queda com a receita do milho com redução de
quase US$11 bi. Em 2013, a renda agrícola estadunidense foi de US$130,5
bilhões.
Governo chinês quer reduzir o
plantio de milho
O argumento do aumento da
produção de alimentos: o governo chinês anunciou que nos próximos cinco anos
pretende reduzir a área de plantio do milho, um dos alimentos básicos, em 25%,
e quer estabilizar a produção em 175 milhões de toneladas. A expectativa para a
safra 2015/16 é uma produção de 229 milhões, a segunda maior do planeta, atrás
dos Estados Unidos, que supera os 300 milhões. Outro dado: os chineses perdem
35 milhões de toneladas de grãos por ano em função de problemas de armazenagem
e transporte. A informação é do escritório da Confederação Nacional da
Agricultura que tem escritório em Pequim. A área de plantio médio na China, no
caso do milho, é de 0,5 ha por produtor, algo impossível para implantar
sistemas transgênicos e agroquímicos. Por fim: os chineses querem aumentar o
preço do milho doméstico, porque tem estoques suficientes para o consumo de um
ano – algo como 180 milhões de toneladas.
Outro ponto: o milho transgênico
para cultivo é proibido legalmente na China, embora a importação para
processamento de alguns tipos esteja liberado. Entre 2013 e 2014, a China
devolveu mais de um milhão de toneladas de milho dos Estados Unidos, porque a
semente transgênica da Syngenta não estava aprovada no país. A Associação dos
Exportadores de Grãos dos Estados Unidos disse que os produtores tiveram um
prejuízo de US$2,6 bilhões. Em janeiro de 2016, o Greenpeace, que mantém oito
escritórios na China fez uma denúncia depois de oito meses de pesquisa na
província de Liaoning, uma das maiores produtoras do país, e denunciou que os
cultivos estavam impregnados de transgênicos das sementes conhecidas no mercado
– Monsanto, Dupont, Dow e Syngenta.
Estados Unidos podem vetar a
compra dos chineses
Em consequência da crise
econômica mundial os lucros das corporações transnacionais do agronegócio
também diminuíram. A Syngenta teve uma redução de 17% em 2015 no comparado com
2014 e pretende pagar um dividendo de 11 francos suíços por ação em 2016, que é
o mesmo de dois anos atrás. No ano passado a Monsanto fez uma oferta para
compra da Syngenta que foi rejeitada pela empresa. O Fundo Henderson Global Trust,
um dos maiores acionistas da Syngenta decidiu retirar metade dos investimentos
na corporação. Porém, os suíços não se interessaram porque a fusão não passaria
pelos órgãos de controle dos Estados Unidos – significaria monopólio das
sementes transgênicas e dos agrotóxicos.
O governo chinês declarou que
entre as mudanças na economia em curso, as empresas chinesas precisam
fortalecer sua presença no mundo, ou comprando o controle, ou através de
participação acionária. Em 2015, os chineses investiram mais de 100 bilhões de
dólares em compras – caso da Pirelli italiana, da fabricante alemã de
equipamentos Kraussmaffei e da corretora suíça Mercuria. Mas esta é uma
estratégia que vem se aprofundando nos últimos anos. A maior compra de um ativo
estrangeiro pela China foi a canadense Nexen por US$15,1 bilhões.
Entretanto, os Estados Unidos
vetaram a compra da Unocal, uma petrolífera, que seria adquirida pela gigante
chinesa CNOOC por US$18,5 bilhões. Esta história poderá se repetir novamente,
porque 25% do mercado da Syngenta se concentra nos Estados Unidos. A compra
terá que ser aprovada pelo Comitê de Investimentos Estrangeiros. A China chegou
a comprar cinco milhões de toneladas de milho dos produtores estadunidenses.
Agora as exportações não chegam a 3,8% - chegaram a 97% poucos anos atrás. Os
falcões estadunidenses não engoliram a rejeição dos chineses e podem dar o
troco.
Mercado de transgênicos e
agrotóxicos em queda
No teatro global a recessão é que
dá o tom: os acionistas das corporações em sua maioria são fundos de
investimentos que querem lucros crescendo e não diminuindo, os chineses estão
empanturrados de milho nos estoques estatais e a recessão diminuiu o consumo de
rações. O mercado global de sementes transgênicas e agrotóxicos está em queda –
o faturamento da Syngenta com a Divisão
de Proteção de Cultivos, como eles chamam os agrotóxicos, caiu 12% em 2015. A
Monsanto teve uma queda no faturamento de 23%, principalmente com vendas de
sementes de milho transgênico – 19,7% e um prejuízo líquido no primeiro
trimestre fiscal de 2016 de US$253 milhões. Foram demitidos 2.600 funcionários
em 2015 e outro mil serão dispensados em 2016.
A Dupont e a Dow Chemical se
fundiram recentemente e deverão dividir a corporação em três partes. A outra
ponta do conglomerado agroquímico está na Alemanha – Bayer e Basf -, que são
pressionadas pelos acionistas a se fundirem. Sobrou a Syngenta, que os chineses
compraram. O mundo está em recessão, mas a China tem mais de dois trilhões de
dólares em reservas. E direcionou as compras de milho para a Ucrânia, Rússia, Bulgária
e Brasil.
Créditos da foto: Reprodução
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