O objetivo maior do establishment
brasileiro: atingir o maior líder popular do Brasil desde Getúlio Vargas.
Luiz Carlos Bresser-Pereira –
Facebook // www.cartamaior.com.br
Há meses que eu ouço frases como:
“Quando vão chegar no Lula?”, ou então, “Quando vão pegá-lo?”. Porque, afinal,
este é o objetivo maior do establishment brasileiro: atingir o maior líder
popular do Brasil desde Getúlio Vargas. Não porque ele seja desonesto, mas
porque ele se manteve de esquerda, porque se manteve fiel à sua classe de
origem não obstante o clássico processo de cooptação de que foi objeto. Pois
bem, o establishment chegou ao Lula. Não para incriminá-lo, mas para tentar
desmoralizá-lo.
As duas manchetes de primeira
página dos dois principais jornais de São Paulo de hoje são significativas. Na
Folha leio que “Lula é investigado por suposta venda de MPs”. Não há nada
contra o ex-presidente na Operação Zelotes, a não ser a desconfiança de um
delegado irresponsável. O que há nessa operação é o envolvimento de grandes
empresas e de seus dirigentes em um escândalo de grandes proporções de
pagamento de propinas para obterem MPs favoráveis.
No Estado, por sua vez, a
manchete é “Compra de sítio foi lavrada no escritório de compadre de Lula”.
Neste caso – o do uso por Lula e sua família de um sítio no qual construtoras
se juntaram para realizar obras sem que houvesse pagamento – o caso é mais objetivo.
Lula aceitou um presente que não deveria ter aceito.
As contribuições de empresas a
campanhas eleitorais (que até a decisão do Supremo eram legais) são afinal
presentes. Mas é impressionante como empresas dão ou tentam dar presentes mesmo
a políticos – presentes dos quais elas não esperam nada determinado em troca;
fazem parte de suas relações públicas. Eu sempre me lembro de como tentaram
reformar a piscina da casa do Ministro da Fazenda em Brasília quando ocupei
esse cargo em 1987. Minha mulher os pôs para correr. Era o que devia ter feito
Lula, que havia acabado de sair do governo. Não o fez, e isto foi um erro
político. A reforma não aumentava seu patrimônio, apenas lhe proporcionava mais
conforto. Ele não trocou o reforma do sítio por favores às duas construtoras.
Não há nada sobre isto na investigação sobre o sítio.
O Estado brasileiro está
revelando capacidade de se defender – de defender o patrimônio público – ao
levar adiante as operações Lava Jato e Zelotes. Dirigentes de empresas, lobistas
e políticos envolvidos estão sendo devidamente incriminados e processados.
A instituição da delação premiada
revelou-se um bom instrumento de moralização. Mas está havendo abusos. Houve e
estão havendo abusos na divulgação de delações sem provas, houve abuso em
prisões cautelares ou provisórias quando não havia razão para elas. E não é
razoável o que se está fazendo com Lula. Só um clima de intolerância e de ódio
pode explicar o cerco de que está sendo vítima.
(Artigo inicialmente publicado no
Facebook do economista Bresser-Pereira)
Luiz Carlos Bresser Pereira é
economista, fundador do PSDB, ex-ministro da Fazenda dos governos de José
Sarney e Fernando Henrique Cardoso
Créditos da foto: Heinrich Aikawa
/ Instituto Lula
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