Enquanto a Operação Lava Jato continua
atrás do governo e do PT, o presidente da Câmara continua sentado incólume em
seu trono.
José Carlos Peliano // www.cartamaior.com.br
Sim, tomei emprestado o título de Érico
Veríssimo, depois de manuseá-lo e obter um outro. Mas o espírito da coisa pode
ser o mesmo, dependendo de como se lê e como se imagina.
A ideia é destacar o princípio do aqui e
agora, da urgência, em consonância com o princípio da câmera lenta, do
escoamento. Um nos impele a não perder tempo, o outro a ver o tempo passar do
jeito que for.
Depois dos 50 ou dos 60 anos quando a
gente toma consciência, de fato, de que o tempo vale tempo, a vida nos pede
urgência, mas também câmera lenta. Uma contradição em termos que em seus termos
deixa de ser contradição.
A urgência é para superar etapas já
percorridas mas encostadas em nós por outras demandas que não as nossas. A
câmera lenta é para desfrutar do que ainda não percorremos e está a nossa porta
para começar a caminhar.
Há que se levar um saco de paciência
junto para superar os transtornos e um bom vinho de insuperável safra para
brindar com outros como convém a comunhão de interesses, ideias, ideais,
momentos.
Não querendo estragar o texto, mas já
estragando, vamos aos fatos. Enquanto a Operação Lava Jato continua atrás do
governo e do PT, pois é isto que se depreende das decisões e se lê todos os
dias em matérias imbecis ou requentadas, o presidente da Câmara continua
sentado incólume em seu trono carregado de ações, denúncias e que tais, e nada.
Ou por outra, enquanto a mídia em sua
rotineira “comídia” continua a defenestrar o governo e o PT, de novo por
manchetes chulas e desavergonhadas, ela vende gato por lebre, espalha
pessimismo, abismo, ajuda a derrubar as ações e levantar o dólar, barateando
ainda mais a riqueza do país, e nada com ela acontece. Onde orbita o Ministério
Público?
Nada acontece mesmo porque, por exemplo,
a dívida da Rede Globo com a Receita, estimada hoje em modesto R$ 1 bilhão,
continua do mesmo jeito que estava quando foi autuada anos atrás, parada em
alguma gaveta. Até na tardança da Justiça os ricos levam a melhor.
Pois, então, esses fatos apenas
tumultuam ainda mais nossa urgência em tentar resolver essas idiossincrasias
brasileiras o mais rápido possível. Não tem cabimento, diria minha avó, um país
assim, como esse, entregue ao vento. Se ventar muito esparrama mais sujeira
para todos os lados.
E todos nós depois dos 50 e 60 que já
buscamos uma rede debaixo de um coqueiro, sem o próprio fruto evidentemente
para não desprender lá de cima em cima de nós, ou debaixo de uma boa varanda,
na praia, ou na montanha, acabamos ficando sem a rede, o coqueiro, a praia e a
montanha.
Porque os coxinhas, os globelezas, os
midiáticos, os assacadores, enfim toda essa fauna grotesca, não nos deixam
relaxar, tomar um vento com tempo ou sem tempo. Temos que voltar às trincheiras
para defender o estado democrático de direito, não de delações sem eira nem
beira.
Um trecho de um poema meu diz assim: os
que veem inverno e primavera verão outono. Será que nós, cinquentinhas e
sessentinhas, teremos a devida e merecida paciência em câmera lenta para ver as
estações nos seus devidos ritmos e apogeus?
Digo isso porque do jeito que a coisa
anda, já faz um ano, parece que estamos vivendo uma prolongada subestação do
tempo, não uma das clássicas estações, mas a lameira. Lama para todo o lado, verdadeira
ou não. Como pode um país ficar assim por tanto tempo?
Depois querem cobrar ação do governo
para impulsionar a economia, como? Se as armas da oposição, da mídia e de
vários procuradores estão apontadas contra o governo eleito ou seus apoiadores?
Como limpar a barra da recessão sem um mínimo de conversa com eles se o
presidente que eles queriam não ajuda em nada, pelo contrário não fez nada em
um ano a não ser reclamar, ameaçar e espernear.
Aliás, desde a míngua em que se encontra
as bravatas do impedimento da presidenta que o presidente deles está quieto,
não diz palavra. Ou tramando outra ou arrumando suas coisas para não sobrar
alguma para ele.
Rola uma certa desesperança no ar por
conta da subestação lameira em seu apogeu porque ela sempre existiu acobertada
nos corredores, gabinetes, redações e pastas rosas. O ar está poluído por gente
que não tem pressa em retirar as manchetes de lama, ou as denúncias, ou as
delações ou a estratégia de vingança. Sangrar com lama a dignidade da nação.
Dia desses um Juiz da Vara de Execuções
Penais de Pernambuco me disse que o estado geral das penitenciárias é
igualmente um lamaçal. Há muito dinheiro num fundo destinado à recuperação das
penitenciárias mas nada.
Pois bem, esse Juiz me contou uma triste
estória. Um condenado por tráfico de drogas, bagrinho, foi solto por bom
comportamento depois de um certo par de anos. Um belo dia volta ao gabinete do
Juiz para falar com ele. O magistrado se espantou pelo inusitado.
O indigitado diz que estava há 6 meses
procurando emprego, mas nada conseguiu porque não lhe cediam vaga por ser
ex-presidiário. Como era pobre, de família idem, sem recursos fora biscates,
não via alternativa a não ser voltar às drogas. Tinha que comer, pagar aluguel
e demais despesas. Despediu-se dizendo até daqui uns dias meu Juiz!
O próprio Juiz reconheceu a gravidade do
fato, compadeceu-se, mas não teve o que dizer. Apesar de se juntar a outros
juízes para ver como reverter esse quadro caótico dos presídios e dos
libertados.
O tempo e o vento no tempo ainda não tem
ajudado a nós dos 50 e 60. Se a esperança venceu o medo anos atrás, agora o
medo mina a esperança. É lama muita para todo lado. Haja limpadores de ruas,
faxineiras e que tais para ajudarem a tornar a nação mais limpa.
Uma coisa é certa: na atual conjuntura
não há nada certo. Conseguiram desacreditar jovens, irritar adultos e
desesperançar velhos. Há que continuarmos pelo menos indignados que é uma forma
de não nos curvar ao rolo compressor. A indignação é a nação digna indignada.
Como nos lembrou o saudoso Manoel de
Barros é preciso repetir, repetir, até ficar diferente, repetir é o dom do
estilo. Pois é isso, indignar, indignar, até encontrar uma alternativa de
derrubar a visão única dos privilegiados. Principalmente os que mamam nas tetas
do governo atrás de benesses e favores mas se gabam de estarem na iniciativa
privada! E ainda assim falando mal do governo.
*colaborador da Carta Maior
Créditos da foto: José Cruz / Agência
Brasil
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