Uma das hipóteses é que isto tenha sido um balão de
ensaio para observar as reações, como a primeira tentativa de golpe no Chile,
em 1973.
Flavio Aguiar, da Cidade do México // WWW.CRTAMAIOR.COM.BR
Interrompo momentaneamente minhas séries de outros
comentários, diante da estripulia que foi a operação de 4 de março contra o
ex-presidente Lula, seus familiares e auxiliares.
Dá para perceber um roteiro na ação projetada e em
sua falha.
O roteiro começa, a longo prazo, com aquilo que
Eric Nepomuceno definiu muito bem: já temos o criminoso, agora precisamos
encontrar o crime, coisa que cabe muito bem nas tradições inquisitórias,
nazistas, estalinistas, mccarthistas, pinochetistas, etc.
Mas teve condimentos adicionados recentemente.
Primeiro, a ameaça representada pelo pedido de Lula
para que o STF se pronuncie sobre o primado de jurisprudência nas acusações que
lhe são feitas. O juiz Moro e a corte de procuradores e policiais federais que
o acompanham sentiram o acender da luz amarela: tudo pode escapar de nossas
mãos… É preciso agora rápido para garantir as manchetes e o noticiário, de que
fomos nós que “prendemos” Lula.
Segundo, a mudança no Ministério da Justiça. Isto
poderia significar o fim da impunidade garantida pela inação (para mim
inexplicável) do ministro Cardoso, talvez a substituição do comando da PF…
sabe-se lá. O mandato de segurança impetrado pelo DEM contra a nomeação do novo
ministro enquadra-se nesta alínea da conspirata.
A partir daí, os acontecimentos, ou melhor, seus
agentes, se precipitaram. A volúpia de ter o comando da ação que, a serviço dos
interesses que exigem a neutralização de Lula não só em 2018, mas para sempre,
e sobretudo do seu passado de melhor presidente do Brasil, tomou conta de seus
protagonistas.
O juiz Moro autorizou uma ação da PF. Os agentes da
PF optaram pela “condução coercitiva” ou seja lá que nome se dê. No bom tempo
era “voz de prisão”. Montaram o espetáculo megalomaníaco: 200 agentes,
detenções (este é o nome) simultâneas, invasões de domicílio (ilegais, porque
não autorizadas pelo juiz, ou, quem sabe, ele recuou depois), espetáculo
faraônico, e conduziram o ex-presidente para Congonhas.
Estranho, não? Congonhas? A PF tem sede em S.
Paulo. Que eu saiba, não fica em
Congonhas. Houve aí um duplo objetivo: primeiro, como Congonhas é um
ambiente dominado por “coxinhas” e “coches”, é um ambiente propício a cenas
constrangedoras contra o ex-presidente, como aconteceram. Segundo, se tudo
corresse como previsto, o ex-presidente tomaria o avião, preso, para a
República de Curitiba, sob aplauso da caterva, ou melhor, da manada do coxinhas
lá presentes. Um sucesso midiático!
Fora das quatro linhas, na arquibancada, o senador
Aécio Neves - um Eduardo Gomes dos anos 50, mas desfibrado - e Eliane Catanhêde
- uma candidata a Lacerda, mas descorada - comemoravam o fim de Lula e do PT.
Mas…
Faltou combinar com o resto do país. O PT e adjacências
anda meio adormecido, mas o povo pró-Lula acordou. Acorreu ao aeroporto de
Congonhas. UM amigo meu me escreveu, lembrando o brado coxinha de antanho:
“Ficou parecendo uma rodoviária”… Reações na mídia se multiplicaram, inclusive
de tucanos sérios e respeitáveis, como José Gregori, denunciando a
arbitrariedade da situação. O ministro
Marco Aurélio Mello, do Supremo, condenou a ação de Moro. Governadores se
pronunciaram. Manifestações se programaram. Haveria confrontos…
Enfim, o esquema recuou. Não deu certo, pelo menos
desta vez.
Lula saiu reforçado do evento, inclusive por seu
magistral depoimento transmitido ao vivo. A Globo, Moro, estes membros da PF
foram derrotados. Desta ve. Não vão desistir.
Uma das hipóteses é que isto tenha sido um balão de
ensaio. Como a primeira tentativa de golpe no Chile, em 1973. Para observar a
reação das forças legalistas. Pode ser.
Mas há duas coisas certas: eles vão tentar de novo;
e não contavam com a pronta reação que houve.
Que fazer?
Manter a calma. Não desembarcar da luta. Não cair
em provocações. Manter uma enorme quantidade de informação circulando, fora das
linhas da velha mídia que está inteiramente comprometida com o golpe. Deixar de
lado quezílias e manter firme da defesa das liberdades democráticas e da
legitimidade constitucional.
Créditos da foto: Fernanda Cruz / Agência Brasil
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