Senhor Cristovam
Escrevi-lhe uma carta aqui conclamando-o a votar contra o golpe e a favor da democracia.
Argumentei que o senhor se configurava como um dos senadores mais preparados intelectualmente. Defendi o seu direito a duvidar, até porque as pessoas cultas e sensíveis ao raciocínio científico não vivem das certezas que embalam os dogmas e os dogmáticos, arrogantes assassinos diários da verdade e da justiça.
Apelei ao senhor que nucleasse a sua decisão pelos postulados sagrados da democracia e jamais pelos que embasam o golpe e as ações perversas dos golpistas, que tendem a jogar nosso País no abismo da guerra e do assalto de nossas riquezas, contemplando-nos com o inferno da pobreza, da miséria e da ignorância.
Não somente eu me manifestei ao senhor. O jornalista Paulo Nogueira lhe escreveu carta aberta perguntando como o senhor dorme, já que aderiu aos traidores e facínoras da República, fazendo de nosso País uma republiqueta de bananas bem ao gosto dos negócios poderosos das corporações yanks.
Após o senhor votar na admissibilidade do impeachment pelo Senado muitos de seus eleitores promoveram ato simbólico de “desvotação” por considerá-lo um golpista, agora sem nenhuma relação com o senador que ajudaram a eleger.
Impressionante, repentinamente o senhor se coloca no centro das atenções referentes ao golpe, que a elite e o fascismo denominam de impeachment da Presidenta Dilma.
Uma das marcas dessa sua posição é a dança encenada pelo senhor, girando pelo mundo das dúvidas.
Seria uma dança cínica de quem chamava para si as atenções com meros interesses eleitorais devido a sua obsessão de ser candidato a presidente da República?
Agora o senhor se saiu com uma desculpa inigualável, demonstrativa da enorme cara de pau assumida por alguém que não tem mais desculpas a dar. Alegar que decidiu votar pelo impeachment porque o grande escritor Fernando Morais devolveu o título de cidadão de Brasília, concedido pelo senhor quando governador do DF, é de uma hipocrisia ao nível de quem se comporta como os piores e mais safados políticos tradicionais desse mundo sujo de corruptos. Sem por nem tirar, senador.
Sinto pena de seu fim na lata de lixo da história como companheiro de MisShel Temer, de José Serra, Aécio Neves, Eliseu Padilha e outros tropeiros de antas dessa República, que eles querem transformar em covil de salteadores.
Lamento porque, como lhe escrevi em minha carta anterior, cheguei a pensar que o senhor era sacudido honestamente pelas dúvidas. Dei-lhe o benefício da ciência que não se norteia por conceitos congelados de verdades eternas e petrificadas.
Mas não, senador, o senhor é jogador, péssimo, aliás, de interesses centrados em suas buscas pessoais e eleitoreiras. O senhor avalia que o seu partido PPS tem razão ao conceber a confusão de que o povo se desloca ao lado dos que votam a favor do golpe. O senhor se deixa influenciar por essa grei lamentável, conhecida como traidora dos postulados, negados e pisados porcamente por seu dono, o deputado Roberto Freire, que a fez uma sublegenda do PSDB e como um dos braços da direita golpista,.
Essa avaliação o mancha ainda mais, senador Cristovam. O senhor se comporta como oportunista a cata de votos e não mais como militante, referência do correto e do justo para os caminhos e caminheiros brasileiros.
É triste porque o senhor nega todos os estudos que fez e até o seu passado como governador de Brasília, com um programa voltado para a inclusão social e para a justiça econômica.
Noutras palavras, o senhor pisa na ética e enxovalha a verdade.
Há quem diga que ultimamente o senhor define sua conduta politica no parlamento pelos sentimentos mesquinhos do ressentimento e da vingança.
Tais seriam os motivos que o levaram a sair do PT, magoado porque o ex-presidente Lula o demitira por telefone do Ministério de Educação na ocasião em que o senhor viajava para Portugal.
Ora senador, quem faz política com ressentimentos, mágoas e vingança rasteja pelas bordas morais e se perde por falta de capacidade de juízo e de ser exemplo para o povo. Seria esse o seu caso?
Olhando daqui tem-se a impressão de que o senhor persegue o caminho decadente em direção à moradia dos refugos da história. Desde que saiu do PT, partido esse com muitos problemas e erros cometidos, o senhor marcou sua trilha com oportunismos ao desejar se candidatar a presidente da República pelo PDT. Depois saiu deste e ingressou no PPS com o mesmo objetivo.
O senhor vende a ideia de que partido e política como arte do bem público é o que menos lhe interessa. O debate construtivo de projetos coletivos não o inspiram. Pelo contrário, o senhor quer ser o todo poderoso programa que qualquer partido tem que adotar. E o seu programa é o senhor mesmo e o seu plano de uma nota só.
Então a sua neutralidade, base de suas dúvidas, era totalmente falsa. O senhor nunca teve dúvidas. Sua posição nunca foi neutra. O senhor tem lado, senador Buarque.
O seu lado é o do golpe e da morte à democracia. O senhor segue a marcha dos coronéis fichas sujas, empanturrados de propinas e investigados pela polícia. O seu chefe é o clandestino interino e golpista MisShel Temer, no fundo sob o comando do corrupto Eduardo Cunha.
Com sua decisão de votar no impeachment o senhor se despede definitivamente do povo e da democracia, num grandioso gesto suicida e hipócrita.
O seu caminho será ao lado de Temer, de Cunha e de todos os outros golpistas de 1954, forçando o suicídio de Getúlio, dos que derrubaram Jango em 1964 e agora com os vendilhões do Brasil. No fundo do abismo o senhor será esquecido e seu discurso sobre educação o acompanhará nas sombras do esquecimento.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
Dom Orvandil, OSF: bispo cabano, farrapo e republicano, presidente da Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário, trabalhando duro sem explorar ninguém.
Relacionado
Em "Agenda social"
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12