quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O Hall da Infâmia

Lá estarão, desprovidos de dedos, palmas e punhos, com os braços interligados, apodrecendo juntos por toda a eternidade, Cunha, Temer e Renan Calheiros.

                Flavio Aguiar // www.cartamaior.com.br

Existe um povo que a bandeira empresta

P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!

Auriverde pendão da minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança!

Estandarte que a luz do sol encerra,

E as divinas promessas da esperança!

Tu, que da liberdade após a guerra,

Foste hasteada dos heróis à lança,

Antes de houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha! 

Castro Alves, o Navio Negreiro.

Em Brasília há um panteão dos heróis nacionais. Lá estão gravados os nomes de Zumbi, Sepé Tiaraju, Tiradentes, Anita Garibaldi, dentre outros. Não duvido de que um dia os nomes de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff lá estarão.
Mas seria bom, a partir deste 31 de agosto de 2016, quando se consumou o golpe de estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, que se erigisse ao lado um… bem, não um panteão, mas sim um Hall da Infâmia, já que todos e todas que perpetraram este golpe são americanófilos e, portanto, este nome lhes cai melhor.

O patrono deste Hall é Joaquim Silvério dos Reis, na boa companhia de Carlos Lacerda, Café Filho, Rainieri Mazzili e Auro de Moura Andrade, além de todos os signatários do Ato Institucional no. 5, Carlos Alberto Brilhante Ustra, só para começar.

Bem, vai ser impossível designar aqui todos os candidatos a terem seus nomes e fotos, em posições infames, inscritos neste Hall da Infâmia. Além disto, cuidado! Não basta ter praticado algum ato infame para adentrar este valhacouto ou covil. É necessário haver um devido processo, que prove o requinte da infâmia. A seguir, portanto, tratarei apenas de alguns dos infames declarados, e de alguns outros que são bons candidatos a terem seu nome perpetuado neste Hall.

Para começar, descartemos os infames de segunda categoria. Por exemplo: a caterva de promotores menores, policiais federais, juízes e juízas de nenhuma relevância, que ajudam o golpe, com milhares de coxinhas idiotas que foram às ruas achando que estavam lutando para acabar com a corrupção, ou mesmo de má fé, defendendo a volta da ditadura, por exemplo. Estes e estas serviriam no máximo para serem incluídos no tapete de entrada do Hall, pisados e repisados pelos pés dos visitantes que, na entrada, passariam por um portal da lama para carregá-la adentro, enlameando os nomes ali eternizados.

Também eliminemos os concorrentes à Comenda Pôncio Pilatos, como os ministros e ministras do Supremo Tribunal Federal que sistematicamente se negaram a se pronunciar - pelo menos até agora - sobre o mérito de um processo injusto, vazio e iníquo, no estilo daquele que condenou Joana d’Arc à fogueira. Seu destino seria terem seus nomes e fotos eternizados em placas de metal que ficariam gravitando em torno do Hall, nele impedidos de entrar, assim como os omissos, no Inferno de Dante, correm sem parar junto à sua porta perseguidos por enxames de vespas, moscas, mosquitos, pernilongos que se saciam na sua carne apodrecente.

Não, no Hall da Infâmia entrarão apenas os eleitos, o supra-sumo da malfeitoria. 

Para começar, lá estarão, desprovidos de dedos, palmas e punhos, com os braços interligados, apodrecendo juntos por toda a eternidade, Cunha, Temer e Renan Calheiros. No seu centro, com os olhos na nuca, pois só pode ver o passado, estará Meirelles, este exterminador do futuro, da infância e da juventude de nosso país, com seu plano nefasto e nefando de impedir investimentos em educação e saúde, e outras áreas sociais. Logo a seguir virá o chanceler José Shell (antes conhecido como Serra Chevron), com uma peculiaridade: ao invés de mãos terá cascos de cavalo e em lugar dos pés, patas de rinoceronte. Ao abrir a boca, só sairão dela bombas de fragmentação, ferindo seus companheiros de Hall, ungido pela destruição não apenas da política externa independente e altiva de seus antecessores imediatos, mas também da laboriosa tradição construída desde Alexandre de Gusmão e os dois Rio Branco, o Visconde e o Barão.

Na ala da idiotice contumaz estará reinando o senador Aécio Neves, por declarar que com o golpe perpetrado a Brasil redescobriu a democracia e recuperou o respeito internacional, quando é exatamente o contrário que se dá. Terá os olhos e os ouvidos permanentemente tapados, pois assim agiu neste e em outros momentos.

Já na ala da hipocrisia e mentira se encontrarão os diretores e arautos da mídia conservadora, Estadão, Globo, Veja, Folha de S. Paulo, Zero Hora, Isto É e outros e outras, tendo suas línguas distendidas permanentemente esfregadas com sabão de sebo cru.

Ao lado deles, o juiz Gilmar Mendes terá as pálpebras permanentemente abertas, sem nunca poder fecha-las, condenado, como diz São Tomás de Aquino, a um choro sem lágrimas e a um soluçar silencioso. Ao tentar gritar, nenhum som sairá de sua boca, somente um hálito fétido que empestará a respiração dos demais eleitos do Hall.

Haverá muito mais neste Hall da Infâmia. Convido leitoras e leitores a soltar a imaginação.

Mas há ainda os candidatos que deverão passar pelo crivo de serem examinados em processo.

Por exemplo, cito alguns casos. Primeiro, o juiz Sérgio Moro. Sabe-se que se ele atuasse nos Estados Unidos, país que tanto ama, e fizesse o que vem fazendo, já teria perdido o cargo. É um caso a ser estudado. Trata-se de paranoia ou mistificação? Com a palavra os psicanalistas e juristas do futuro. Idem, o caso da trinca Janaína Paschoal, Reale Júnior e Helio Bicudo. Afinal, a primeira se vendeu por quarenta e cinco mil dinheiros. É muito pouco. E os demais? Ganharam mais, menos, ou apenas cederam perante a vaidade e a glória? O mesmo se pode dizer de agentes de segunda mão, como Cristovam, Marta, Romário, Anastasia… Seriam farsantes apenas? 

Outro a ser estudado é o general Etchegoyen. Estará à altura dos seus antepassados conspiradores e golpistas?

Caso sejam reprovados nos devidos exames, ficarão no tapete de entrada, com os ajudantes do golpe, enlameados como os demais.

Sic transit gloria mundi.

Créditos da foto: Beto Barata

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