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Jornal GGN - Mathias de Alencastro, em artigo feito para a Folha, analisa as esquerdas brasileiras neste momento de eleições, com foco na cidade de São Paulo. Para ele, o Psol e o PT, nesta tentativa de 'união' acabam por desorientar um movimento que se apoia na bandeira "Fora, Temer". Para ele, este espelhar no romântico junho de 2013 é enfraquecer os movimentos de esquerda e seria interessante que houvesse um olhar mais crítico, usando o exemplo europeu. Como exemplos cita a Itália, Portugal e Grécia.
Leia o artigo a seguir.
da Folha
Mathias de Alencastro
ESPECIAL PARA A FOLHA
A tentativa de Fernando Haddad e Luiza Erundina de demonstrar união contra o governo Michel Temer no protesto de domingo da semana passada (11) produziu um efeito contrário ao esperado.
Desorientou um movimento cidadão articulado em volta do "Fora, Temer" e deixou a impressão que a fratura entre PT e PSOL é irremediável.
A duas semanas do primeiro turno, está claro que para o PSOL as eleições municipais são uma oportunidade histórica de tomar o lugar do PT como líder da esquerda.
Tomados por uma visão romantizada de junho de 2013, os seus membros acreditam que o partido pode liderar um movimento popular capaz de purgar a esquerda dos seus pecados e de dar início a uma nova forma de fazer política.
Para sustentar esse ponto de vista, psolistas avançam o exemplo da esquerda europeia pós-2008, e em particular a ascensão do Podemos na Espanha e do Syriza na Grécia.
Eles esquecem que, na Espanha, a afirmação do Podemos produziu uma situação de ingovernabilidade crônica, e os cerca 40% de jovens que ajudaram a levar o partido ao topo continuam desempregados.
O caso do Syriza é ainda mais constrangedor: depois de a União Europeia quebrar a sua espinha no verão quente de 2015, o Syriza tornou-se numa réplica moribunda do Pasok, o grande partido de centro-esquerda laminado pela crise.
Na realidade, a ressurreição de grandes partidos é mais corrente do que a emergência de novas formações na história das democracias ocidentais.
JOGO DA DIREITA
Continuando com o exemplo europeu, Portugal é hoje governado por uma coalização de esquerda encabeçada pelo Partido Socialista.
Na Itália, o Partido Democrático de Matteo Renzi assumiu posição dominante. Ambos os partidos foram dados como mortos poucos anos atrás: os socialistas portugueses foram tirados do poder em 2011, e seu principal líder, José Socrates, foi preso três anos depois.
Na Itália, o Partido Democrático demorou mais de uma década para ressurgir das cinzas da operação Mãos Limpas, tantas vezes comparada à Lava Jato.
Na América Latina, também não faltam exemplos: do peronismo argentino ao Partido da Revolução Institucional mexicano, grandes formações encerraram ciclos de poder de joelhos antes de se reerguerem.
Ao pretender cravar o último prego no caixão do PT, o PSOL realiza o sonho da direita: um segundo turno dominado por candidatos conservadores, e uma esquerda confinada à temática das minorias.
Esses temas são essenciais. Mas devem ser os ferros de lança de um projeto de transformação estrutural da sociedade. Algo que o PSOL, uma constelação de celebridades sem densidade programática, parece incapaz hoje de encarnar.
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