sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A prisão de Maluf: justiça tardia não é justiça

Rovena Rosa/Agência Brasil


Prenderam Maluf. De novo. Da última vez que isso aconteceu, ficou cinquenta dias preso e, depois, o STF soltou à risota. Lembro-me da cena debochada. A chacoalhada do ministro estampado na capa do jornal.

Brasileiros de bens pintam e bordam sem ser molestados. E, diante dos malfeitos destes, não há “brasileiros de bem” com camiseta da seleção para protestar batendo panelas Le Creuset com talheres WMf. Na verdade, não acham nada de mais roubar, desde que não seja, o ladrão, um petista.
Em tempos de Maluf sendo solto, não havia petista para ser caçado. E a mídia não se incomodava tanto. Não passou disso: a cara do relator às gargalhadas, a abraçar o advogado da defesa, como dois meninos marotos, felizes porque a peça que pregaram deu certo.

Estamos em outros tempos. Depois de treze anos de governo popular, ministério público e justiça se alavancaram fazendo cara de mau e mostrando serviço. Qualquer serviço, desde que comprado pela mídia e comemorado estrondosamente pelos “brasileiros de bem”. Mas o universo dos que podem pintar e bordar sem ser molestados não se reduziu, apenas ficou melhor definido.

É importante serem “dazelite”, mas precisam estar também do lado certo, precisam ser da claque do ministério público e da polícia. O crime de Moro na publicidade sobre interceptação telefônica ilegal é aceito como ato patriótico porque vitimizou, ao ver dos perseguidores, apenas Dilma e Lula. Mais de uma dezena de representações ao CNJ contra o juiz abusado foram arquivadas sem qualquer cerimônia. Ele, sim, pode continuar a pintar e bordar.

Pintam e bordam sem medo os pessedebistas Aécio Neves, José Perrella… apostaram todas suas fichas na perseguição do PT e estavam do lado certo. Eis a receita do sucesso. Ser abastado pode até ser um diferencial importante, mas não é decisivo quando a justiça necessita público batendo palmas para si.

Para o STF, Maluf, agora, tinha que ser preso. É abastado e talvez por isso torna-se um ativo importante para os meganhas nos deixarem na ilusão de que “ninguém está acima da lei”. Querem disfarçar sua seletividade.

Mas Maluf, quem é Maluf hoje? Um octagenário que não cheira, nem fede. Seu tempo de ousadia passou e não representa risco para quem quer que seja. A rigor, um placebo para o discurso “law and order”.

Já se foi o tempo em que manter Maluf solto pudesse ser atitude desavergonhada das instituições da Casa Grande. Hoje não mais. O direito penal não foi feito para apenar por apenar. Foi feito – supostamente – para previnir e ressocializar. Maluf não exige prevenção. Já levou o que podia levar e boa parte de seu botim está de volta aos cofres públicos.

Graças à presteza do governo de Jersey. Não exige ressocialização: faz parte “dazelite”. Puni-lo passa a ser, portanto, um capricho. Um capricho moralista de quem se alimenta politicamente do moralismo vazio porque hipócrita.

MPF e Juízes do STF, o relator da ação penal e a presidenta, querem, em verdade, que o octagenário passe as festas de fim de ano na Papuda para que possam se gabar de sua justiça e sua imparcialidade. Summum jus, summa injuria, porém. Justiça não se acha no salão de beleza. Não serve para enfeitar ego e físico.

O octagenário deveria ter sido preso anos atrás, quando o soltaram às gargalhadas. Maluf merece, já hoje, passar seu tempo num asilo de idosos ou em casa, se sua família puder e quiser dele cuidar. Na cadeia, ele não faz diferença, não para a sociedade que já padeceu de seu cinismo anos a fio, tolerado pelo mesmo STF que agora quer dar uma de durão.

Não adianta, magistrados. O estrago está feito e não piorem sua imagem com a impressão de que não respeitam a idade e a fragilidade de quem, hoje, pouco pode. Nunca convencerão de que isso é Justiça. Justiça tardia é deboche.

Eugênio Aragão

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