domingo, 8 de abril de 2018

Quem é Francisco Proner Ramos, o autor da foto de Lula que viralizou. Por Joaquim de Carvalho


  A foto

O cantor e compositor Chico Buarque é uma das figuras mais conhecidas e é compreensível que atraia a atenção quando fatos e pessoas estão próximos dele. Mas é injusto relacionar o trabalho do fotógrafo Francisco Proner Ramos à biografia dele.

Francisco tem luz própria, e seu trabalho vai muito além da foto que mostra Lula levado nos braços do povo para o interior do sindicato, foto que viralizou e ganhou hoje meia página do The New York Times.

Francisco tem 18 anos de idade e um talento que, por certo, nasceu com ele, mas que teve a oportunidade de se aprimorar com o incentivo de seus pais, o advogado e professor Wilson Ramos Filho e Carol Proner.

Wilson, com uma militância na esquerda conhecida e respeitada — é um dos fundadores do PT e da CUT —, incluiu em seu sonho de conhecer o mundo a formação do filho. Fez de seu sonho um sonho de ambos.

Advogado trabalhista de um grande escritório, com livros publicados e professor da Universidade Federal do Paraná, ao se aposentar deu à sua poupança o melhor destino que pode proporcionar: explorar este Planeta, a partir do que há de mais interessante: as pessoas e sua cultura.

Começou com uma viagem de Jeep de Ushuaia, no extremo sul do continente ao Alasca, no extremo norte.

“Pensei no que poderia proporcionar na formação dele, é uma experiência que ele levará para toda a vida”, afirmou. Depois disso, foram para a Europa e Ásia e cruzaram as fronteiras de uma das nações mais fechadas — e por isso mesmo interessante — do mundo, a Coreia do Norte.

No país de Kim Jong-un, Francisco fez fotos do cotidiano das pessoas, incluindo militares. Como se vê pelas fotos dele, no site www.franciscopronerramos.com, o bicho não é feito como a mídia ocidental apresenta.

Conseguiu acumular essa experiência sem prejudicar — muito — a formação escolar. Perdeu (será que perdeu?) um ano do ensino regular, faz hoje cursinho e ainda não decidiu qual curso de graduação fará — pende para as Ciências Sociais.

Sua próxima viagem com o pai já está agendada — será nas férias. E será na África. Explorará (no bom sentido) Etiópia, Sudão e Egito.

Francisco Proner Ramos

Quem o conhece não se surpreendeu com a foto que fez de Lula.

Enquanto os fotógrafos se posicionaram no local dos fatos, quase todos no mesmo ponto, se acotovelando, Francisco buscou outro ponto, o último andar do Sindicato dos Metalúrgicos, para tentar um ângulo diferente, e o resultado todos vimos: Lula carregado pelas pessoas, no centro da foto, mãos que se estendem na direção dele. Com a foto, tomou forma o que Lula havia dito minutos antes:

— Não sou mais um ser humano, sou uma ideia.

— Eles precisam saber que a morte de um combatente não pára a revolução.

— Quando eu parar de sonhar, sonharei pela cabeça de vocês.

— Quanto mais tempo eles me deixarem lá (preso), mais Lula nascerá.

Foi um complemento perfeito, resultado profissional próprio da forma como Francisco trabalha. Em uma queima de fogos em Copacabana, enquanto todos fotografavam a cena principal, ele foi para uma janela no fundo do apartamento onde estava com a família, e fotografou o reflexo dos fogos nas comunidades pobres nos morros próximos. Imagem única, definitiva.

Assim como é impróprio relacionar o trabalho de Francisco ao outro Francisco, o Buarque, é injusto referir-se à mãe do jovem fotógrafo, Carol Proner, como namorada do cantor. Carol tem uma extensa produção acadêmica e em outras atividades profissionais na área do Direito. Ele é titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na área de direitos humanos e direito internacional.

Organizou o livro em que mais de 100 advogados e juristas desmontam a sentença em que Sergio Moro condenou Lula, publicação que revela, sob diferentes ângulos, todos técnicos, por que essa condenação se transformou numa obra-prima da injustiça.

Carol foi casada durante mais de 20 anos com Wilson e certamente devem estar muito satisfeitos com os frutos dessa união — eles têm outra filha, de 17 anos, muita ativa no movimento estudantil no Rio de Janeiro.

Francisco, apesar da idade, demonstra maturidade. Eu o procurei, e ele preferiu não dar entrevista agora, para deixar que, em vez dele, a foto fale sobre o momento que estamos vivendo.

A foto, no The New York Times

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